São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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OLIMPÍADA

Amparada por uma brasileira, Tammy Crow tenta ir a Atenas após ser condenada por acidente que matou dois

Por Jogos, Justiça dos EUA esquece mortes

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

A perfeição dos movimentos que executa na água levou Tammy Crow à seleção norte-americana de nado sincronizado.
Em agosto, ela pode realizar o sonho de participar de sua primeira Olimpíada. Sua trajetória para chegar à Atenas, porém, envolve duas mortes e um acidente que sacudiu a Justiça dos EUA.
Em fevereiro de 2003, Tammy, 27 anos completados anteontem, destruiu o carro que guiava. Quase nada sofreu, mas o namorado e um garoto de 12 anos que estavam no veículo morreram.
Após responder a processo, ela recebeu no mês passado uma punição: 90 dias de prisão no condado de Tuolumne, Califórnia.
Ela havia bebido em uma festa antes de se sentar ao volante, mas não foram detectados vestígios de álcool em seu sangue.
Só que um fato inusitado marcou a sentença. Eleanor Provost, juíza que cuidou do caso, disse que Tammy deve se apresentar para cumprir pena apenas em outubro, depois de representar o país no Jogos de Atenas.
Para especialistas, o fato soou estranho. Pareceu um privilégio obtido porque Tammy é atleta olímpica. "Já vi casos em que se estendeu a data de início de detenção, mas não por nove meses", disse o promotor James Newkirk.
Natural de Saint Louis, a competidora conseguiu sua vaga na seleção principal dos EUA há apenas dois meses. E, apesar das circunstâncias, mantém firme o objetivo de viajar à Grécia.
"Só posso dizer que sinto muito, muito mesmo por este terrível acidente", disse a atleta ontem, rompendo a reclusão em seu primeiro pronunciamento oficial.
O incentivo que Tammy busca para esquecer o recente passado vem de sua família, de suas colegas de delegação americana e também de uma brasileira.
Linai Vaz de Negri é uma ex-nadadora que chegou a integrar o time principal do Brasil. Ela ocupa o cargo de diretora das seleções nacionais na federação dos EUA de nado sincronizado.
"Devemos ressaltar que Tammy não é uma criminosa, o que é muito importante. Vamos lutar pela sua participação na Olimpíada", disse Linai à Folha.
Hoje dirigente, ela chegou a disputar alguns torneios de nado sincronizado no Brasil. Em 1992, já nos EUA, veio ao Rio para dar um curso sobre a modalidade.
Três anos depois, foi consultora das gêmeas Isabela e Carolina de Moraes, bronze na prova de dueto nos dois últimos Pans e principais expoentes desse esporte no Brasil.
Agora, Linai tenta fazer Tammy apagar da memória o fatídico dia 16 de fevereiro de 2003 e centrar os esforços da atleta nos treinos.
Naquela manhã de domingo, à bordo de um Nissan preto, Tammy e o namorado, Cody Tatro, pretendiam esquiar nas montanhas. No meio do caminho, o casal resolveu dar uma carona para Brett Slinger, 12, que seguia para o mesmo destino.
Às 7h25, ela perdeu o controle. O carro saiu da pista, capotou e se chocou com dois pinheiros. Além dos 90 dias em que ficará detida, a competidora vai pagar US$ 23 mil à família Slinger. Os parentes de Tatro não pediram indenização.


Com agências internacionais

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