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FUTEBOL
O país das novelas
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Se as coisas continuarem como estão, o Corinthians corre o sério risco de ser rebaixado
para a segunda divisão paulista,
pela primeira vez em sua gloriosa história.
O que acontece com o Timão?
As respostas que se ouvem são
as mais diversas: falta de motivação dos jogadores, contratações erradas, pressão psicológica
e barbeiragem do treinador.
Se todas elas têm sua parcela
de verdade, penso que a última
foi a que mais pesou na derrota
de ontem para o Guarani.
O desenho da partida foi claro. No primeiro tempo, embora
o Guarani tenha chutado duas
bolas na trave, o Corinthians foi
sempre perigoso, graças a seus
dois jovens e velozes atacantes,
Gil e Ewerton.
As estocadas dos dois mantinham o Bugre com o freio de
mão puxado, mesmo depois do
belíssimo gol de Pereira.
No meio do segundo tempo,
Luxemburgo sucumbiu à velha
idéia de "segurar o resultado"
recuando o time. Tirou os dois
garotos endiabrados, colocando
em campo Gallo e um alquebrado Paulo Nunes.
O time ficou mais pesado e
inofensivo, e o Guarani pôde
partir para sua linda virada.
É impossível comentar o amistoso da seleção brasileira contra
os EUA tendo visto apenas os
três gols da partida no "Jornal
Nacional".
A notícia não é o jogo em si,
mas justamente o fato de nenhuma emissora, aberta ou fechada, ter se dado o trabalho de
transmiti-lo no Brasil.
A Rede Globo, que em seu ufanismo desvairado transmitia ao
vivo, não faz muito tempo, até
embarque da seleção no aeroporto, desta vez achou que não
valia a pena tocar na sua programação de novelas.
As outras emissoras, seja por
falta de direitos, de dinheiro ou
de interesse, foram pelo mesmo
caminho.
Resultado: os brasileiros que
têm acesso a canais pagos puderam ver, no sábado, Real Madrid x Barcelona, Reggiana x
Bologna e até Rangers x Hearts,
pelo campeonato escocês.
Os que têm de se contentar
com a TV aberta -também conhecida como cloaca do universo- refestelaram-se com Flamengo x Fluminense, Ponte Preta x São Paulo ou Rio Branco x
Santos.
Nenhum deles, entretanto,
fosse rico ou pobre, gaúcho ou
cearense, evangélico ou ateu,
pôde assistir ao jogo da seleção
brasileira.
É possível que ninguém tenha
se importado muito com isso.
Afinal, era só um amistoso contra os EUA, que além de tudo jogaria desfalcado.
Mas eu me importei. Desde
pelo menos 1970, quando as Copas do Mundo começaram a ser
transmitidas ao vivo, ver todos
os jogos da seleção brasileira
tornou-se, mais que um hábito,
uma espécie da fato natural da
vida.
Será que só eu queria ver o primeiro amistoso da seleção de
Leão, com Romário e Ronaldinho em campo, no mesmo estádio em que o Brasil conquistou
sua última Copa?
Será que não havia pelo menos meia dúzia de colorados
que gostariam de rever Christian, ou uns 15 corintianos com
saudades de Silvinho?
Talvez o desprezo televisivo
pelo jogo da seleção seja um sinal dos tempos.
Talvez as novelas das seis, das
sete e das oito supram hoje a necessidade de fantasia do grande
público. Talvez o futebol tenha
se tornado um mero manancial
de personagens para aparecer
na "Caras", nas revistas gays ou
nas páginas de escândalos dos
jornais.
Espero estar exagerando. Vamos ver o que acontece na próxima quarta-feira, quando México e Brasil jogarão num horário aparentemente menos prejudicial à grade da Globo.
Os pênaltis obrigatórios para
as partidas terminadas em empate no Paulistão tiveram ontem seu momento de mais sublime ridículo.
Na disputa de um mísero pontinho, Palmeiras e Internacional de Limeira, que não conseguiram fazer nem um gol no
tempo normal, bateram 14 pênaltis cada um.
Demorou tanto que mandaram acender as luzes do Parque
Antarctica, e boa parte do público foi embora mesmo antes de
saber o resultado final da tediosa maratona.
Os que ficaram no estádio estavam talvez motivados pela esperança de assistir a um evento
que entrasse para a história,
ainda que pela porta da galhofa. Algo como uma nota de pé de
página no "Livro Guinness dos
Recordes".
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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