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TÊNIS
Papo sério
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Se dentro das quadras, com
a raquete, Gustavo Kuerten é
um dos tenistas mais surpreendentes do tênis mundial na atualidade, fora delas, ao microfone, é
um sujeito bastante discreto.
Se no saibro desfere golpes fortíssimos com sua direita, nas salas
de entrevista costuma passar
quase despercebido com suas declarações repetitivas.
Bastante conciliador, não se
cansa de soltar, por exemplo, que
Pete Sampras e Andre Agassi são
tenistas que "merecem grande
respeito". Mesmo contra adversários modestos, confrontos em que
ninguém deixaria de apontá-lo
como favorito, o brasileiro, boa
dose de humildade, não costuma
sair do "com certeza vou ter uma
partida muito dura pela frente".
Vencedor, basta levantar seus
troféus para mandar algo do tipo
"foi uma semana emocionante, e
o dia hoje é inesquecível". São
sempre palavras gentis, generosas, cordiais, quase prazerosas.
Surpreende, portanto, quando o
brasileiro abre a guarda e murmura, mesmo que para poucos,
comentários sobre alguns temas
polêmicos. No caso, a maneira como alguns tenistas brasileiros se
preparam para a disputa do circuito profissional.
O maior nome do tênis masculino na história do país confidenciou recentemente que, a alguns
tenistas brasileiros, acredita faltar um pouco mais de treino e de
dedicação. Que, assim, fica difícil
ver mais brasileiros chegando lá.
E que, por consequência, fica difícil montar um time mais competitivo na Copa Davis (o papo era
sobre o desempenho hoje do ex-número um Marcelo Ríos, do Chile, e dos argentinos e brasileiros
nestas últimas temporadas).
E Kuerten foi além, dizendo
que, talvez porque muitos tenistas
brasileiros que ainda não estouraram têm uma vida confortável,
é difícil encontrar quem queira se
submeter aos sacrifícios que vêm
com uma carreira vitoriosa.
Kuerten sabe mais do que ninguém do que está falando. Por
causa de seu sucesso nas quadras,
acredite, já perdeu muitas coisas
boas da vida.
Ser um grande tenista significa
estar sempre pela Europa, pela
Ásia, Oceania, longe de casa, sem
poder fazer turismo, dormindo
cedo no sábado em algum hotel
elegante, mas sem graça, enquanto aqueles tenistas meia-boca, já
eliminados, se divertem na praia,
no campo, na cidade.
Chegar à decisão de um torneio
é sacrificante. Talvez o pior nem
seja o desgaste físico e mental, a
pressão dos seis dias de competição. Talvez o pior seja perder a
festa que a organização armou
para quinta, sexta-feira, cheia de
garotas bonitas e muita diversão.
É provável que alguns achem
não tão mal assim perder na segunda rodada. Dá para levantar
uma grana, fazer turismo e, de
quebra, curtir uma festinha das
boas. Se não bobear, ainda se
mantêm no ranking em uma posição não muito vergonhosa.
Mas, como dizem que o ano por
aqui começa só após o Carnaval,
então hoje é dia de começar a trabalhar. No caso de alguns tenistas, chegou a hora de dedicar
mais empenho e treino. No tênis,
ter de trabalhar no fim de semana
é o que todos deveriam querer.
Areia
Fernando Meligeni caindo na estréia em Viña del Mar e em Acapulco. André Sá, em Buenos Aires e em Acapulco. Flávio Saretta, em Viña del Mar e Acapulco. E olha que a temporada foi de saibro...
Esperança
O 33º Banana Bowl, importante torneio infanto-juvenil, começou
anteontem. Com 984 inscritos, de 36 países, a competição bate recorde de participação e neste ano tem se chama Copa Alcides Procópio.
Espera
Pete Sampras deveria estar em quadra agora, em Scottsdale, mas
adiou de novo sua estréia no ano. E Andre Agassi tem dificuldades
para convencer Steffi Graf a jogar, com ele, dupla no Aberto frencês.
E-mail reandaku@uol.com.br
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