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São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2003

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TÊNIS

Papo sério

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Se dentro das quadras, com a raquete, Gustavo Kuerten é um dos tenistas mais surpreendentes do tênis mundial na atualidade, fora delas, ao microfone, é um sujeito bastante discreto.
Se no saibro desfere golpes fortíssimos com sua direita, nas salas de entrevista costuma passar quase despercebido com suas declarações repetitivas.
Bastante conciliador, não se cansa de soltar, por exemplo, que Pete Sampras e Andre Agassi são tenistas que "merecem grande respeito". Mesmo contra adversários modestos, confrontos em que ninguém deixaria de apontá-lo como favorito, o brasileiro, boa dose de humildade, não costuma sair do "com certeza vou ter uma partida muito dura pela frente".
Vencedor, basta levantar seus troféus para mandar algo do tipo "foi uma semana emocionante, e o dia hoje é inesquecível". São sempre palavras gentis, generosas, cordiais, quase prazerosas.
Surpreende, portanto, quando o brasileiro abre a guarda e murmura, mesmo que para poucos, comentários sobre alguns temas polêmicos. No caso, a maneira como alguns tenistas brasileiros se preparam para a disputa do circuito profissional.
O maior nome do tênis masculino na história do país confidenciou recentemente que, a alguns tenistas brasileiros, acredita faltar um pouco mais de treino e de dedicação. Que, assim, fica difícil ver mais brasileiros chegando lá.
E que, por consequência, fica difícil montar um time mais competitivo na Copa Davis (o papo era sobre o desempenho hoje do ex-número um Marcelo Ríos, do Chile, e dos argentinos e brasileiros nestas últimas temporadas).
E Kuerten foi além, dizendo que, talvez porque muitos tenistas brasileiros que ainda não estouraram têm uma vida confortável, é difícil encontrar quem queira se submeter aos sacrifícios que vêm com uma carreira vitoriosa.
Kuerten sabe mais do que ninguém do que está falando. Por causa de seu sucesso nas quadras, acredite, já perdeu muitas coisas boas da vida.
Ser um grande tenista significa estar sempre pela Europa, pela Ásia, Oceania, longe de casa, sem poder fazer turismo, dormindo cedo no sábado em algum hotel elegante, mas sem graça, enquanto aqueles tenistas meia-boca, já eliminados, se divertem na praia, no campo, na cidade.
Chegar à decisão de um torneio é sacrificante. Talvez o pior nem seja o desgaste físico e mental, a pressão dos seis dias de competição. Talvez o pior seja perder a festa que a organização armou para quinta, sexta-feira, cheia de garotas bonitas e muita diversão.
É provável que alguns achem não tão mal assim perder na segunda rodada. Dá para levantar uma grana, fazer turismo e, de quebra, curtir uma festinha das boas. Se não bobear, ainda se mantêm no ranking em uma posição não muito vergonhosa.
Mas, como dizem que o ano por aqui começa só após o Carnaval, então hoje é dia de começar a trabalhar. No caso de alguns tenistas, chegou a hora de dedicar mais empenho e treino. No tênis, ter de trabalhar no fim de semana é o que todos deveriam querer.

Areia
Fernando Meligeni caindo na estréia em Viña del Mar e em Acapulco. André Sá, em Buenos Aires e em Acapulco. Flávio Saretta, em Viña del Mar e Acapulco. E olha que a temporada foi de saibro...

Esperança
O 33º Banana Bowl, importante torneio infanto-juvenil, começou anteontem. Com 984 inscritos, de 36 países, a competição bate recorde de participação e neste ano tem se chama Copa Alcides Procópio.

Espera
Pete Sampras deveria estar em quadra agora, em Scottsdale, mas adiou de novo sua estréia no ano. E Andre Agassi tem dificuldades para convencer Steffi Graf a jogar, com ele, dupla no Aberto frencês.

E-mail reandaku@uol.com.br


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