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São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2003

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FUTEBOL

Bom senso e equilíbrio

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

No programa "Bola da Vez", da ESPN Brasil, o professor Carlos Alberto Parreira deu uma aula de bom senso, equilíbrio e conhecimento técnico. Felizmente, ele mudou de opinião e aceitou o cargo de treinador da seleção. Foi criticado por isso. Num país de pouca ética, virou moda reclamar da falta dela.
Com a desistência de Felipão, Parreira está muito à frente dos outros. Não pelo conhecimento técnico e tático, e sim pelo conjunto de qualidades necessárias para ser um treinador da seleção.
No entanto, quero fazer algumas observações sobre o que disse Parreira. Ele exaltou no Brasileiro não só a qualidade individual dos jovens jogadores do Santos, como também o conjunto e, principalmente, a excelente marcação. Neste ano, o time do Santos ainda não repetiu essa eficiência.
A marcação por pressão, no meio e no campo do outro time, não é uma característica das equipes brasileiras e das dirigidas por Parreira. O técnico prefere que os jogadores recuem e se posicionem à frente dos zagueiros. Acho correto. O que não concordo é fazer isso durante todo o tempo e em todas as partidas.
As deficiências do Corinthians no ano passado não foram a excessiva paciência e o toque de bola. Isso eram virtudes. A deficiência estava na marcação. Nas sucessivas derrotas durante o ano contra o Santos, o time deu muita liberdade aos jovens habilidosos e velozes da Vila Belmiro.
Muitos vão argumentar que a seleção de 94 jogava assim e que foi espetacular a atuação do sistema defensivo. É verdade. Mas a Copa do Mundo aconteceu sob um fortíssimo calor, e os adversários não pressionavam. O nível técnico também foi baixo.
A postura de recuar e esperar próximo da área é ótima quando se enfrenta um adversário superior. Para funcionar bem, além da marcação, é preciso um bom contra-ataque. Essa é uma causa frequente de vitórias de times pequenos contra grandes.
A marcação no campo do adversário é um grande risco. Para ser eficiente, todos os jogadores precisam participar e ter um ótimo preparo físico. É impossível fazer isso durante toda a partida.
Além disso, a maior parte dos times que atuam no ataque, pressionando, não se prepara para receber o contra-ataque. Frequentemente o time que está perdendo e adianta a marcação sofre uma goleada porque deixa muitos espaços na defesa.
Por causa das dificuldades de se marcar mais atrás ou na frente, a maior parte do técnicos prefere o meio-termo, iniciar a marcação na linha do meio-campo. É a maneira mais simples para quem não teve tempo para treinar ou não tem ousadia ou competência para fazer diferente.
Parreira disse também na entrevista que o 4-4-2 é o esquema tático mais equilibrado (ele adora essa palavra) e que quase todas as principais equipes e seleções do mundo jogam assim. É verdade. Quando o técnico fala em 4-4-2, quer dizer dois volantes e um armador de cada lado. Os quatro marcam em seu campo, na frente de outros quatro defensores. A defesa fica bem protegida.
Quando a equipe recupera a bola, ataca com uma dupla de cada lado, formada pelo lateral e armador. Não há um jogador livre próximo dos dois atacantes, como Kaká no São Paulo, Alex no Cruzeiro e muitos outros.
Quando Parreira disse que pode utilizar o 4-3-3, não é escalar dois pontas e um centroavante, como fez no Corinthians, e sim manter o esquema de ataque de 2002.
A grande qualidade tática da seleção dirigida pelo Felipão foi a de deixar os três "erres" livres, sem obrigação de marcar no campo do Brasil. Os três são tão excepcionais que deveriam atuar do jeito que se sentem melhor.
A maior qualidade de um técnico é dar condições para os melhores jogarem tudo o que sabem.

Craque-goleiro
A Portuguesa Santista nas semifinais, com um time de aluguel, formado na última hora e com jogadores desconhecidos, é uma grande surpresa ou evidência de que o Paulista está muito fraco?
São Paulo, Santos e Corinthians estão muito piores do que no ano passado. O Palmeiras melhorou (pouco) porque Marcos está novamente em grande forma, e o time tem jogadores melhores no meio-campo, como Magrão.
Marcos, com suas brilhantes atuações durante vários anos no Palmeiras e na seleção, principalmente na Copa-2002, talvez seja hoje o melhor jogador do futebol brasileiro. Um craque.

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