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FUTEBOL
Bom senso e equilíbrio
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
No programa "Bola da
Vez", da ESPN Brasil, o professor Carlos Alberto Parreira deu
uma aula de bom senso, equilíbrio e conhecimento técnico. Felizmente, ele mudou de opinião e
aceitou o cargo de treinador da
seleção. Foi criticado por isso.
Num país de pouca ética, virou
moda reclamar da falta dela.
Com a desistência de Felipão,
Parreira está muito à frente dos
outros. Não pelo conhecimento
técnico e tático, e sim pelo conjunto de qualidades necessárias para
ser um treinador da seleção.
No entanto, quero fazer algumas observações sobre o que disse
Parreira. Ele exaltou no Brasileiro não só a qualidade individual
dos jovens jogadores do Santos,
como também o conjunto e, principalmente, a excelente marcação. Neste ano, o time do Santos
ainda não repetiu essa eficiência.
A marcação por pressão, no
meio e no campo do outro time,
não é uma característica das
equipes brasileiras e das dirigidas
por Parreira. O técnico prefere
que os jogadores recuem e se posicionem à frente dos zagueiros.
Acho correto. O que não concordo
é fazer isso durante todo o tempo
e em todas as partidas.
As deficiências do Corinthians
no ano passado não foram a excessiva paciência e o toque de bola. Isso eram virtudes. A deficiência estava na marcação. Nas sucessivas derrotas durante o ano
contra o Santos, o time deu muita
liberdade aos jovens habilidosos e
velozes da Vila Belmiro.
Muitos vão argumentar que a
seleção de 94 jogava assim e que
foi espetacular a atuação do sistema defensivo. É verdade. Mas a
Copa do Mundo aconteceu sob
um fortíssimo calor, e os adversários não pressionavam. O nível
técnico também foi baixo.
A postura de recuar e esperar
próximo da área é ótima quando
se enfrenta um adversário superior. Para funcionar bem, além
da marcação, é preciso um bom
contra-ataque. Essa é uma causa
frequente de vitórias de times pequenos contra grandes.
A marcação no campo do adversário é um grande risco. Para
ser eficiente, todos os jogadores
precisam participar e ter um ótimo preparo físico. É impossível
fazer isso durante toda a partida.
Além disso, a maior parte dos
times que atuam no ataque, pressionando, não se prepara para receber o contra-ataque. Frequentemente o time que está perdendo
e adianta a marcação sofre uma
goleada porque deixa muitos espaços na defesa.
Por causa das dificuldades de se
marcar mais atrás ou na frente, a
maior parte do técnicos prefere o
meio-termo, iniciar a marcação
na linha do meio-campo. É a maneira mais simples para quem
não teve tempo para treinar ou
não tem ousadia ou competência
para fazer diferente.
Parreira disse também na entrevista que o 4-4-2 é o esquema
tático mais equilibrado (ele adora essa palavra) e que quase todas
as principais equipes e seleções do
mundo jogam assim. É verdade.
Quando o técnico fala em 4-4-2,
quer dizer dois volantes e um armador de cada lado. Os quatro
marcam em seu campo, na frente
de outros quatro defensores. A defesa fica bem protegida.
Quando a equipe recupera a bola, ataca com uma dupla de cada
lado, formada pelo lateral e armador. Não há um jogador livre
próximo dos dois atacantes, como
Kaká no São Paulo, Alex no Cruzeiro e muitos outros.
Quando Parreira disse que pode
utilizar o 4-3-3, não é escalar dois
pontas e um centroavante, como
fez no Corinthians, e sim manter
o esquema de ataque de 2002.
A grande qualidade tática da
seleção dirigida pelo Felipão foi a
de deixar os três "erres" livres,
sem obrigação de marcar no campo do Brasil. Os três são tão excepcionais que deveriam atuar do
jeito que se sentem melhor.
A maior qualidade de um técnico é dar condições para os melhores jogarem tudo o que sabem.
Craque-goleiro
A Portuguesa Santista nas semifinais, com um time de aluguel,
formado na última hora e com jogadores desconhecidos, é uma
grande surpresa ou evidência de
que o Paulista está muito fraco?
São Paulo, Santos e Corinthians
estão muito piores do que no ano
passado. O Palmeiras melhorou
(pouco) porque Marcos está novamente em grande forma, e o time tem jogadores melhores no
meio-campo, como Magrão.
Marcos, com suas brilhantes
atuações durante vários anos no
Palmeiras e na seleção, principalmente na Copa-2002, talvez seja
hoje o melhor jogador do futebol
brasileiro. Um craque.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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