São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
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FUTEBOL
Santos e Lusa tentam romper hegemonia de títulos que Corinthians, Palmeiras e São Paulo criaram na década
Paulista joga contra a monotonia dos 90

PAULO COBOS
da Reportagem Local

O Campeonato Paulista-99 abre amanhã sua segunda fase na expectativa de reviver a competitividade que marcou a década de 80.
Entre os quatro principais estaduais do país, o Paulista é o único que diminuiu o número de clubes campeões em relação à década passada (veja quadro ao lado).
Na década de 80, por exemplo, 11 equipes diferentes chegaram às finais, gerando cinco clubes campeões -São Paulo, quatro vezes, Corinthians, três, Santos, Internacional de Limeira e Bragantino, com uma conquista cada.
Na década de 90, porém, as decisões envolveram apenas três times -Palmeiras e São Paulo, que chegaram a três títulos cada, e Corinthians, que obteve dois.
Santos e Lusa, duas outras equipes consideradas "grandes" no Estado, estão alijados da decisão desde 84 e 85, respectivamente.
O Santos, o quarto time com mais títulos paulistas, foi campeão pela última vez naquele ano, e a Lusa obteve seu último campeonato, dividido com o Santos, em 73.
"Isso é muito ruim não só para São Paulo, mas também para o futebol brasileiro. O torcedor pode começar a perder o interesse pela competição", afirma Samir Abdul-Hak, presidente do Santos. "Quando acontece esse monopólio, o futebol perde o interesse", diz Amilcar Casado, presidente da Lusa.
Apesar das lamentações, os dois dirigentes também tentam apresentar explicações para o insucesso de seus clubes no Paulista.
"Parte da culpa é do Campeonato Brasileiro. Times como a Lusa e o Guarani arrecadam pouco no nacional, além de receber menos da televisão. Com isso, chegam enfraquecidos para a disputa do estadual", afirma Casado.
Já o presidente do Santos, clube que vem conseguindo mais destaque nas competições nacionais, se preocupa com a arbitragem.
"Não é nada premeditado, mas é fácil notar que nos últimos anos as duas equipes mais prejudicadas do futebol paulista foram Santos e Lusa", diz Abdul-Hak. Mas, se a queixa santista refere-se mais a problemas em Brasileiros, a Lusa até hoje lamenta dois pênaltis que a eliminaram da final do Paulista-98.
Para quem está ganhando, a atual situação do futebol paulista não mudou muito em relação aos tempos de maior competitividade.
"Não acho que o Paulista está mais fácil. Antes, o torneio tinha muitas fases, e era simples chegar às finais. Agora, o time grande pode ficar fora da decisão", afirma Silvinho, lateral do Corinthians.
"Não acredito em esvaziamento. A torcida do São Paulo só se interessa pelo título, não importa se o campeonato é fraco ou não", diz Pérsio Rainho, diretor de futebol do clube. "Cada um que pense no seu clube", completa o dirigente.
Depois de dois títulos e quatro finais disputadas na segunda metade da década de 80, os times do interior paulista pouco ameaçaram os "grandes" na década de 90.
No Paulista do ano passado, por exemplo, os quatro "grandes" do Estado perderam apenas 4 dos 28 jogos disputados contra times do interior, ou 14% do total.
Mesmo levando em conta as mudanças na forma de disputa do Paulista, que na década passada tinha mais jogos entre "grandes" e "pequenos", o número de derrotas de Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo no passado era maior.
Em 86, quando a Inter de Limeira conquistou o título estadual na final contra o Palmeiras, os quatro times mais importantes de São Paulo perderam cerca de 30% das partidas contra clubes do interior.
Nem o Guarani, o único clube do interior paulista a conquistar um Campeonato Brasileiro, vem conseguindo bons resultados no estadual. O time não chega a uma final da competição desde 88, quando perdeu para o Corinthians.
Pior situação ainda passa o Bragantino. O time, último interiorano a chegar ao título paulista, em 90, está agora na segunda divisão e com graves problemas financeiros.
"Os custos do futebol estão muito altos, o que deixa os clubes do interior com mais dificuldades", afirma Abdul-Hak.


Colaborou Marcelo Damato, da Reportagem Local


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