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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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FUTEBOL

Um estranho no ninho

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Nada como uma goleada para espantar uma crise. No meio da semana, essa máxima valeu para Corinthians, Grêmio e, em termos, São Paulo.
O Corinthians, depois de duas derrotas seguidas, ambas por 3 a 0, ganhou fôlego com os 6 a 1 sobre o Fénix, que o empurraram para a frente na Libertadores.
Na mesma Libertadores, ao golear por 4 a 1 o tradicional Peñarol, o Grêmio do ameaçado técnico Tite apagou, pelo menos momentaneamente, o mau desempenho que vem tendo desde o início do ano.
A situação mais curiosa é a do São Paulo, o que justifica a expressão "em termos" usada acima. Apesar da goleada de 5 a 1 sobre o Gama, que fez o clube avançar na Copa do Brasil, a torcida (ou pelo menos sua ala mais ruidosa) saiu do estádio pedindo a cabeça de Oswaldo de Oliveira.
As razões do aparente paradoxo são óbvias. Há, em primeiro lugar, o fato incontornável de que, num time de ponta, com vários jogadores de seleção, a ausência de títulos faz a corda estourar do lado mais fraco -o do técnico.
Além dessa razão objetiva, porém, é provável que a aversão dos torcedores a Oliveira tenha raízes mais obscuras.
Seu perfil sofisticado, seus discos de jazz, seus livros de poesia, seu ar distante e ligeiramente blasé -como se o futebol fosse para ele quase um enfado, uma espécie de mal necessário-, tudo isso faz do técnico do São Paulo um alvo automático dos rancores e ressentimentos da massa.
Se a situação concreta do São Paulo fosse a mesma, mas seu treinador fosse alguém que gesticula e esbraveja na beirada do gramado, vociferando palavrões e pedindo raça a seus comandados, talvez o torcedor frustrado o identificasse como um semelhante, um companheiro de armas.
Com seu estilo irônico e nebuloso, Oswaldo de Oliveira, num estádio de futebol, parece um estranho no ninho. Isso se deve, sem dúvida, ao ambiente algo selvagem do nosso futebol. E também, talvez, a uma falta de jogo de cintura do próprio treinador.
Os dois -o futebol brasileiro e Oswaldo- ainda têm muito a aprender um com o outro.
 
Pelo que foi dito acima, o jogo crucial do fim de semana deverá ser São Paulo x Cruzeiro, amanhã no Morumbi. Até porque o técnico do Cruzeiro, Wanderley Luxemburgo, embalado pela boa fase do time, já faz seu tradicional lobby para treinar o adversário.
Será um duelo de dois bons times e de dois bons treinadores. Ironicamente, Oswaldo de Oliveira foi auxiliar de Luxemburgo no Corinthians em 1998, clube com o qual conquistaria seus títulos mais importantes.
Sem seus principais astros, Kaká e Rogério, o tricolor sai em desvantagem contra um time bem armado que tem em Alex um craque em estado de graça e que goleou o Corinthians-AL por 7 a 0.
A torcida do Morumbi poderá ser um trunfo compensador -se as vaias a Oliveira não abafarem os gritos de incentivo.

Desafios alvinegros
Outro confronto entre paulistas e mineiros que promete ser quente é Atlético-MG x Santos, hoje no Mineirão. Leão apostou numa formação ofensiva, com Elano na lateral e Nenê como meia-atacante. Logo mais saberemos se a ousadia deu certo. O Corinthians sem Vampeta também tem um páreo duro: o Figueirense, em Florianópolis.

Golpe baixo
É assustadora a possibilidade de que não ocorra neste ano o Campeonato Brasileiro da Série B e de que o Palmeiras aproveite a deixa para tentar voltar à Série A pela porta dos fundos. É preciso ficar alerta contra essa insólita forma de virada de mesa, que consagraria o que de pior existe no nosso futebol: a incompetência administrativa e a falta de escrúpulos.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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