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FUTEBOL
Um estranho no ninho
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Nada como uma goleada para espantar uma crise. No
meio da semana, essa máxima
valeu para Corinthians, Grêmio
e, em termos, São Paulo.
O Corinthians, depois de duas
derrotas seguidas, ambas por 3 a
0, ganhou fôlego com os 6 a 1 sobre o Fénix, que o empurraram
para a frente na Libertadores.
Na mesma Libertadores, ao golear por 4 a 1 o tradicional Peñarol, o Grêmio do ameaçado técnico Tite apagou, pelo menos momentaneamente, o mau desempenho que vem tendo desde o início do ano.
A situação mais curiosa é a do
São Paulo, o que justifica a expressão "em termos" usada acima. Apesar da goleada de 5 a 1 sobre o Gama, que fez o clube avançar na Copa do Brasil, a torcida
(ou pelo menos sua ala mais ruidosa) saiu do estádio pedindo a
cabeça de Oswaldo de Oliveira.
As razões do aparente paradoxo são óbvias. Há, em primeiro
lugar, o fato incontornável de
que, num time de ponta, com vários jogadores de seleção, a ausência de títulos faz a corda estourar
do lado mais fraco -o do técnico.
Além dessa razão objetiva, porém, é provável que a aversão dos
torcedores a Oliveira tenha raízes
mais obscuras.
Seu perfil sofisticado, seus discos
de jazz, seus livros de poesia, seu
ar distante e ligeiramente blasé
-como se o futebol fosse para ele
quase um enfado, uma espécie de
mal necessário-, tudo isso faz do
técnico do São Paulo um alvo automático dos rancores e ressentimentos da massa.
Se a situação concreta do São
Paulo fosse a mesma, mas seu
treinador fosse alguém que gesticula e esbraveja na beirada do
gramado, vociferando palavrões e
pedindo raça a seus comandados,
talvez o torcedor frustrado o identificasse como um semelhante,
um companheiro de armas.
Com seu estilo irônico e nebuloso, Oswaldo de Oliveira, num estádio de futebol, parece um estranho no ninho. Isso se deve, sem
dúvida, ao ambiente algo selvagem do nosso futebol. E também,
talvez, a uma falta de jogo de cintura do próprio treinador.
Os dois -o futebol brasileiro e
Oswaldo- ainda têm muito a
aprender um com o outro.
Pelo que foi dito acima, o jogo
crucial do fim de semana deverá
ser São Paulo x Cruzeiro, amanhã no Morumbi. Até porque o
técnico do Cruzeiro, Wanderley
Luxemburgo, embalado pela boa
fase do time, já faz seu tradicional
lobby para treinar o adversário.
Será um duelo de dois bons times e de dois bons treinadores.
Ironicamente, Oswaldo de Oliveira foi auxiliar de Luxemburgo no
Corinthians em 1998, clube com o
qual conquistaria seus títulos
mais importantes.
Sem seus principais astros, Kaká e Rogério, o tricolor sai em desvantagem contra um time bem
armado que tem em Alex um craque em estado de graça e que goleou o Corinthians-AL por 7 a 0.
A torcida do Morumbi poderá
ser um trunfo compensador -se
as vaias a Oliveira não abafarem
os gritos de incentivo.
Desafios alvinegros
Outro confronto entre paulistas
e mineiros que promete ser
quente é Atlético-MG x Santos,
hoje no Mineirão. Leão apostou
numa formação ofensiva, com
Elano na lateral e Nenê como
meia-atacante. Logo mais saberemos se a ousadia deu certo. O
Corinthians sem Vampeta também tem um páreo duro: o Figueirense, em Florianópolis.
Golpe baixo
É assustadora a possibilidade
de que não ocorra neste ano o
Campeonato Brasileiro da Série
B e de que o Palmeiras aproveite a deixa para tentar voltar à
Série A pela porta dos fundos. É
preciso ficar alerta contra essa
insólita forma de virada de mesa, que consagraria o que de
pior existe no nosso futebol: a
incompetência administrativa
e a falta de escrúpulos.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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