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MOTOR
F-1 faz mal à saúde e faz sorrir
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Por que diabos precisamos
fazer tudo em cima da hora?
Por que uma lei precisa ser modificada na calada da noite, a horas
do primeiro treino, quando isso
poderia ter sido feito há dias, semanas, meses até? Por quê?
Por que ministros de Estado
passam a semana tergiversando?
Por que um funcionário de uma
agência reguladora anuncia multas num dia e some no outro?
Por que a prefeitura, que pela
primeira vez conseguiu aprontar
o autódromo no prazo, empurra
o problema com a barriga?
Por que a imprensa comprometida com o evento lança ameaças
ao governo? E por que essa mesma imprensa dá voz ao surrado
discurso especulativo em relação
a uma transferência para Jacarepaguá? (Esqueceram que Cesar
Maia quer desfigurar o autódromo? Que pilotos e frequentadores
realizaram há pouco ato contra
as instalações para o Pan?)
Por que tem que ser assim? Não
dá para planejar? Não dá para
perceber que cansa resolver as
coisas de última hora? Não dá?
A saída do governo, se não
agrada aos antitabagistas ferrenhos, pelo menos causa constrangimento aos envolvidos e mantém certa coerência com as restrições atuais. Tem o cuidado de alinhar a legislação do país à da
União Européia, que já é confrontada pela FIA -a data para banir o cigarro é outubro de 2006.
Isso, no entanto, vai para o ralo
após tanta polêmica. Ao público
soará como concessão à prefeitura, à TV ou às companhias de cigarro. Pior, indispõe a cidade com
a categoria, que já não a tem como um de seus cenários favoritos.
No ano passado, a Folha perguntou aos organizadores o que
estava sendo feito para evitar o
problema. Insegura, a resposta foi
a de que os carros correriam sem
os adesivos. Em dezembro, a reportagem voltou à carga, já imaginando que a confusão afetaria
o GP. A resposta então foi um parecer jurídico, um argumento para evitar possíveis processos. Solução que é bom veio apenas ontem,
por decreto. Não dá.
Cerca de 500 crianças de escolas
municipais ocuparam ontem
uma das principais tribunas da
reta dos boxes graças a um acordo entre a prefeitura e a Petrobras. Ficaram exatamente à frente da Ferrari em Interlagos. A cada espasmo dos mecânicos, a cada saída dos carros vermelhos, a
cada aceno dos pilotos, algazarra,
gritos, cantorias, olas.
De tão rara, a cena chamou a
atenção. O GP Brasil, de ingressos
caros e ambiente machista e, dependendo da corrida, chauvinista, talvez nunca tenha tido uma
arquibancada tão espontânea.
Interlagos não precisa apenas
de um asfalto sem ondulações ou
de uma melhor drenagem. Interlagos precisa de instalações permanentes confortáveis e de áreas
para ingresso geral. Interlagos
precisa estar aberto à participação efetiva da cidade.
Hoje, Interlagos ainda é apenas
um parque de diversões para a
elite, um acampamento inglês
instalado em uma Índia colonial.
Não precisava ser assim. Com um
pouco de empenho seria possível
fazer mais. E fazer sorrir mais.
Piquet longe
O tricampeão perde seu primeiro GP Brasil em décadas para acompanhar a estréia de seu filho no Inglês de F-3. Nelson Angelo disputa
amanhã suas duas primeiras corridas na Europa, com equipe bancada pelo pai, e diz claramente que o objetivo é ganhar teste na F-1 já no
final desta temporada. É a chance de perceber se de fato o moleque é
bom após o tiroteio que foi sua passagem pelo Sul-Americano de F-3.
Prevenido
O pessoal da Ferrari levou roupa em dobro para Interlagos, ontem.
Pela manhã, a equipe inteira estava vestida sem ostentar a marca do
patrocinador tabagista. Quando a informação da MP chegou ao autódromo, todo mundo correu para os boxes para trocar o fardamento. Em cerca de cinco minutos, a propaganda toda já estava no ar.
E-mail mariante@uol.com.br
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