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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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MOTOR

F-1 faz mal à saúde e faz sorrir

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Por que diabos precisamos fazer tudo em cima da hora? Por que uma lei precisa ser modificada na calada da noite, a horas do primeiro treino, quando isso poderia ter sido feito há dias, semanas, meses até? Por quê?
Por que ministros de Estado passam a semana tergiversando? Por que um funcionário de uma agência reguladora anuncia multas num dia e some no outro?
Por que a prefeitura, que pela primeira vez conseguiu aprontar o autódromo no prazo, empurra o problema com a barriga?
Por que a imprensa comprometida com o evento lança ameaças ao governo? E por que essa mesma imprensa dá voz ao surrado discurso especulativo em relação a uma transferência para Jacarepaguá? (Esqueceram que Cesar Maia quer desfigurar o autódromo? Que pilotos e frequentadores realizaram há pouco ato contra as instalações para o Pan?)
Por que tem que ser assim? Não dá para planejar? Não dá para perceber que cansa resolver as coisas de última hora? Não dá?
A saída do governo, se não agrada aos antitabagistas ferrenhos, pelo menos causa constrangimento aos envolvidos e mantém certa coerência com as restrições atuais. Tem o cuidado de alinhar a legislação do país à da União Européia, que já é confrontada pela FIA -a data para banir o cigarro é outubro de 2006.
Isso, no entanto, vai para o ralo após tanta polêmica. Ao público soará como concessão à prefeitura, à TV ou às companhias de cigarro. Pior, indispõe a cidade com a categoria, que já não a tem como um de seus cenários favoritos.
No ano passado, a Folha perguntou aos organizadores o que estava sendo feito para evitar o problema. Insegura, a resposta foi a de que os carros correriam sem os adesivos. Em dezembro, a reportagem voltou à carga, já imaginando que a confusão afetaria o GP. A resposta então foi um parecer jurídico, um argumento para evitar possíveis processos. Solução que é bom veio apenas ontem, por decreto. Não dá.
 
Cerca de 500 crianças de escolas municipais ocuparam ontem uma das principais tribunas da reta dos boxes graças a um acordo entre a prefeitura e a Petrobras. Ficaram exatamente à frente da Ferrari em Interlagos. A cada espasmo dos mecânicos, a cada saída dos carros vermelhos, a cada aceno dos pilotos, algazarra, gritos, cantorias, olas.
De tão rara, a cena chamou a atenção. O GP Brasil, de ingressos caros e ambiente machista e, dependendo da corrida, chauvinista, talvez nunca tenha tido uma arquibancada tão espontânea.
Interlagos não precisa apenas de um asfalto sem ondulações ou de uma melhor drenagem. Interlagos precisa de instalações permanentes confortáveis e de áreas para ingresso geral. Interlagos precisa estar aberto à participação efetiva da cidade.
Hoje, Interlagos ainda é apenas um parque de diversões para a elite, um acampamento inglês instalado em uma Índia colonial. Não precisava ser assim. Com um pouco de empenho seria possível fazer mais. E fazer sorrir mais.

Piquet longe
O tricampeão perde seu primeiro GP Brasil em décadas para acompanhar a estréia de seu filho no Inglês de F-3. Nelson Angelo disputa amanhã suas duas primeiras corridas na Europa, com equipe bancada pelo pai, e diz claramente que o objetivo é ganhar teste na F-1 já no final desta temporada. É a chance de perceber se de fato o moleque é bom após o tiroteio que foi sua passagem pelo Sul-Americano de F-3.

Prevenido
O pessoal da Ferrari levou roupa em dobro para Interlagos, ontem. Pela manhã, a equipe inteira estava vestida sem ostentar a marca do patrocinador tabagista. Quando a informação da MP chegou ao autódromo, todo mundo correu para os boxes para trocar o fardamento. Em cerca de cinco minutos, a propaganda toda já estava no ar.

E-mail mariante@uol.com.br


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