São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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FUTEBOL

Diretor se sente desprestigiado e teme por saúde; saída é oficializada hoje

Estressado e sem reforços, Rivellino deixa Corinthians

RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O estresse causado pela crise corintiana afastou o diretor técnico Rivellino do clube. A diretoria vai oficializar hoje a saída do dirigente. Desde a última sexta-feira, ele não acompanha a equipe.
Rivellino, que tem evitado as entrevistas, pediu demissão preocupado com a saúde, o desgaste de sua imagem e a falta de reforços consagrados, além de sentir-se abandonado por seus chefes.
Não teve o respaldo que esperava do presidente do clube, Alberto Dualib, e do vice de futebol, Antonio Roque Citadini. Nervoso, ele vinha fumando três maços de cigarro por dia. Após conversar com a família, decidiu transformar em realidade a ameaça que fizera aos cartolas: sair se não chegassem atletas de "peso".
Críticas de torcedores e conselheiros feitas a ele pela contratação de Piá foram a gota d'água. O ex-jogador da Ponte Preta foi pedido por Oswaldo de Oliveira.
O meia foi o único atleta contratado após o fracasso no Paulista. O time, que trocou Juninho por Oliveira, só escapou do rebaixamento na última rodada.
Antes de sair, Rivellino manteve contatos com Reinaldo, do Paris Saint-Germain, mas a contratação foi praticamente descartada por falta de recursos -motivo que fez o dirigente perder outros jogadores, como Grafite.
A pindaíba já desgastara Rivellino em 2003, quando ele pressionou a cúpula corintiana para que pagasse as primeiras parcelas da dívida com Vampeta. O acordo fora feito pelo dirigente.
Citadini passa a ser o único remanescente do quarteto responsável pelas 14 contratações feitas para o Paulista. A maioria não vingou, como o lateral Julinho, dispensado, o meia Samir e o atacante Régis. Além deles, Adrianinho, que tem como procurador Márcio Rivellino, filho do diretor demissionário, deve sair.
Antes de Rivellino, já tinham se desligado Andrés Sanchez e Francisco Papaiordanou, que formavam o grupo responsável pelo futebol a partir da metade de 2003.
A saída de Rivellino enfraquece as idéias de Citadini no Parque São Jorge. Foi ele quem mais fez lobby pela criação de um cargo que servisse de pára-raios para a cúpula corintiana. A função de diretor técnico foi criada justamente para o ex-craque. Ao contratá-lo, o vice tentou, nas suas palavras, "reparar a injusta saída" de Rivellino do clube, em 1974.
Apesar de ser considerado um dos maiores ídolos da história corintiana, ele foi escorraçado pelos torcedores após a perda do título paulista daquele ano para o rival Palmeiras. O Corinthians não vencia o Estadual desde 1954.
Em sua volta, Rivellino amargou, além das fracas campanhas no Brasileiro-03 e no Paulista-04, decepções com os técnicos Júnior, contratado com sua ajuda, e Juninho, mantido após o Nacional com seu apoio e demitido no começo do Estadual.
Citadini também queria dar emprego no clube a ídolos corintianos, como Sócrates. Deve ter que adiar seus planos.
A saída de Rivellino frustra ainda a vontade do vice de agir quase exclusivamente na costura política do clube e do futebol brasileiro. Sem um pára-raios com a força do demissionário, Citadini voltará a participar ativamente da contratação de reforços -o sucessor de Rivellino terá menos poderes.
Já desligado do Corinthians, o ex-craque da seleção cuidará de novo de sua escolinha de futebol. Dificilmente aceitará trabalhar em algum clube, se for convidado.


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