Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Incentivo fiscal tem data de validade, diz novo ministro
Daniella Sasaki/Folha Imagem
|
Orlando Silva Júnior, que substituiu Agnelo Queiroz e agora comanda o Ministério do Esporte |
Orlando Silva Jr., que assumiu ontem o Esporte, crê que lei anunciada por Lula deve ser temporária e que dirigentes não devem depender só do dinheiro público
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O baiano Orlando Silva Júnior,
34, tornou-se o mais jovem ministro da história ao assumir a pasta
do Esporte na tarde de ontem.
Em entrevista à Folha, ele diz
que a lei de incentivo fiscal, maior
reivindicação de atletas e dirigentes e que foi anunciada por Lula,
tem de ter prazo de validade.
É parte de seu mantra que dirigentes e atletas terão de retribuir o
apoio que vêm recebendo do Estado aprendendo a andar com
suas próprias pernas. Silva Júnior
pede ainda que, em troca da iminente sanção da Timemania e o
apoio para a realização da Copa
de 2014 no Brasil, o esporte mostre-se como uma opção sedutora
ao investimento privado.
Folha - O ministro Agnelo Queiroz
foi alvo de críticas por sua proximidade com o presidente do Comitê
Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur
Nuzman, e com cartolas do futebol.
Como era o relacionamento deles?
Orlando Silva Júnior - A impressão que eu tenho é que o Ministério do Esporte mantém uma relação institucional com o COB, com
os clubes, com a CBF, com as entidades que administram o esporte.
Nossa perspectiva é manter a relação institucional.
Folha - O que muda com sua gestão à frente do Esporte?
Silva Júnior - Diferenças de estilo, visões ou diferenças de ponto
de vista talvez sejam melhor apuradas ao final de minha gestão.
Folha - O Brasil é um dos países
em que mais se investe verba pública no esporte. O esporte não precisa andar com as próprias pernas?
Silva Júnior - Pensando amplamente, não apenas no alto rendimento, acredito que ainda se investe pouco no esporte brasileiro.
Se investíssemos mais no esporte,
gastaríamos menos com saúde,
qualificaríamos mais as atividades de educação, teríamos um
ambiente social mais pacificado.
Todo incentivo é transitório. A lei terá de vigorar o tempo necessário para alterar a cultura do empresariado
|
Acredito que o esporte brasileiro
precisa de mais fontes de financiamento. Daí a criação da lei de
incentivo para o esporte [anunciada por Lula], para atrairmos o
capital privado e deixarmos de ter
só recursos públicos [no esporte].
Folha - Mas com o incentivo fiscal
a conta não acaba de novo sendo
paga pelo governo?
Silva Júnior - Nenhum setor da
vida brasileira se desenvolveu
sem incentivo fiscal. Veja a implantação da indústria automobilística, petroquímica, metalúrgica. A cultura é outro exemplo. Se
o setor privado investir no esporte,
perceber o retorno, sobretudo em
imagem, acredito
que possamos ter
uma presença
permanente da
área privada. Trata-se de um incentivo, e todo incentivo é transitório.
É para o investidor experimentar,
compreender as
vantagens que pode ter. [A lei de incentivo] terá de
vigorar o tempo necessário para
alterar a cultura do empresariado
até eles perceberem o retorno. Ao
longo do tempo, o Estado pode,
paulatinamente, reduzir sua renúncia fiscal até ficar claro para o
privado que isso dá retorno.
Folha - Qual será a contrapartida
das empresas? Elas arcarão com o
investimento?
Silva Júnior - Essa é a idéia, mas
tem que ser uma
renúncia que
atraia as empresas. Não adianta
exigir uma contrapartida que, na
prática, fará da lei
uma letra morta.
Folha - Foi dito
que o incentivo fiscal visa o Pan. É
realista achar que
seu efeito em um
ano fará tanta diferença?
Silva Júnior - A lei de incentivo
terá uma repercussão grande desde seu início. Nossa experiência
com o Bolsa-Atleta, que é um programa que ajuda atletas que não
têm patrocínio, revelou que há
atletas de altíssimo nível que poderiam se desenvolver mais. Como você já tem um contingente
de atletas em fase bastante desenvolvida, mas com pouco suporte
financeiro, imediatamente você
tem o impacto da lei de incentivo.
Folha - Mas o senhor acha que algumas medalhas no Pan serão decididas por causa da lei?
Silva Júnior - Pode ser uma ajuda
a mais. É evidente que a formação
de um atleta pode levar até dez
anos. Agora, se você tem um suporte material, se ele participa de
mais competições internacionais,
repercute em seu rendimento.
Folha - A Timemania também
tem de ter prazo de validade?
Silva Júnior - É diferente, porque
a Timemania não é incentivo, é
loteria que usa um patrimônio
dos clubes, seus símbolos. É uma
fonte de receita permanente. Depois do prazo de 180 meses para o
pagamento da dívida, os recursos
gerados se transformam em receita nova para os clubes.
Folha - Além da Timemania, quais
suas outras preocupações para
com o futebol?
Silva Júnior - A receita dos clubes
é um problema estratégico. É preciso desenvolver mecanismos para que os clubes ampliem as fontes de rendimentos. Nossa agenda
valoriza a criação de receitas para
os times para que eles tenham capacidade de investimento maior.
A TV é uma fonte estratégica, mas
os estádios estão vazios.
O Pan não virou uma dor de cabeça. Nós, do governo federal, temos cumprido à risca o nosso cronograma
|
O trabalho de segurança [com a Comissão Interministerial para a Paz
no Esporte], que colabora com o
conforto dos torcedores, servirá
para aumentar a receita dos clubes. Há o problema da pirataria.
Precisamos de uma cultura que
valorize os produtos dos clubes.
Folha - Por que o Pan virou uma
dor de cabeça?
Silva Júnior - [Silêncio].
Folha - Por que o Pan virou uma
dor de cabeça?
Silva Júnior - O Pan não virou
uma dor de cabeça. O Pan será uma grande
realização do
esporte brasileiro. Será uma
edição histórica, e confio que
o Rio estará
pronto em
tempo hábil
para os eventos-testes e que
a competição
seja de alto nível. Nós, do governo federal, temos cumprido à
risca o cronograma, temos assumido novas tarefas e as honrado
porque entendemos que os Jogos
Pan-Americanos não são só do
Rio de Janeiro, mas do Brasil.
Folha - É curioso que o senhor diga isso. O prefeito do Rio, Cesar
Maia, vem repetindo que "o Lula
precisa entender que o Pan é do
Brasil todo, e não só do Rio".
Silva Júnior - O presidente Lula
tem dado máxima atenção aos Jogos. Há um projeto de segurança
pública vinculado ao Pan que deixará legado importante ao Rio. As
tarefas vinculadas à Vila do Pan se
viabilizaram por financiamento
da Caixa [Econômica Federal]
por recomendação do presidente.
O investimento que o Esporte vai
fazer diretamente está viabilizado
por recomendação do presidente.
O presidente não está interessado
em polêmicas pela imprensa com
governos ou prefeituras.
Folha - Por que Maia reclama?
Silva Júnior - Tem que perguntar
a ele. O governo tem suas responsabilidades, não se preocupa com
as reclamações alheias.
Folha - O que o senhor achou do
aumento da fatia do governo federal no orçamento do Pan?
Silva Júnior - [Silêncio]. Por ser
um fato inédito, talvez o planejamento inicial tenha pecado, inclusive no lado orçamentário.
Folha - O senhor diria que o Rio
emitiu um cheque que agora tem
de ser pago pelo governo federal?
Silva Júnior - A responsabilidade
solidária que o governo federal
tem com o Pan foi assumida pela
gestão anterior. Foi um compromisso internacional bancado e
honrado por esse governo.
Folha - Por que o Co-Rio não obtém dinheiro para bancar o Pan
com a iniciativa privada?
Silva Júnior - Pergunte a eles.
Folha - O senhor apóia a disputa
da Copa do Mundo no Brasil?
Silva Júnior - O Lula falou entusiasticamente da importância de
o Brasil voltar a abrigar uma Copa. É uma boa oportunidade para
que a gente possa ter estádios
mais modernos.
Folha - O senhor acha que os estádios têm condições de receber as
partidas do Mundial?
Silva Júnior - Não é questão de
achar. A Fifa estabelece critérios.
Os estádios brasileiros não estão
adequados ao padrão da Fifa. Suponho que a maioria
dos locais que vão
abrigar jogos da Copa no Brasil terão de
ser construídos.
Folha - Quem pagará
a conta pela modernização dos estádios?
Silva Júnior - O ministério vai participar do projeto para
receber a Copa, juntamente com outros
órgãos governamentais e também com o
setor privado. Uma
Copa do Mundo mobiliza as pessoas. Mas seria importante se tivéssemos a participação da iniciativa privada no financiamento
dos estádios.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Perfil: Comunista diz que está surpreso com indicação Índice
|