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Cielo nada para provar que é top
Agora profissional, brasileiro tenta repetir na piscina olímpica o sucesso obtido nas provas em jardas
Atleta elege Scherer como empresário e disputa hoje sua primeira competição com traje "high-tech" após
a avalanche de recordes
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando os recordes mundiais começaram a cair em cascata, César Cielo se assustou.
As marcas mais expressivas
surgiam exatamente em suas
provas. Foi difícil não imaginar
um cenário trágico em Pequim.
O brasileiro, porém, logo se
lembrou de que já havia batido
várias vezes aqueles que, agora,
mostravam músculos e batiam
na água para festejar as marcas.
E deu a resposta na piscina.
Neste ano, Cielo se firmou
como o mais veloz nadador que
já passou pelas piscinas de jardas do universitário dos EUA.
Hoje, disputa sua primeira
competição como atleta profissional. E tenta mostrar que
acompanhou a evolução dos
adversários e pode brilhar também na piscina olímpica.
"Fiquei surpreso com os recordes. O primeiro pensamento foi: "Dancei". Depois, vi que,
se eles podem, eu também posso. E me deu mais motivação."
A vontade de ser profissional
era antiga e foi impulsionada
no ano olímpico. Com a vitrine
de Pequim, acredita que será
mais fácil obter patrocínios,
proibidos enquanto era atleta
da Universidade de Auburn.
Antigo também era o desejo
de trabalhar com Fernando
Scherer, agora seu empresário.
"Para mim, ele será sempre o
Xuxa. É ídolo da minha geração. Acho que, se ele me pedisse
para ficar com todo o meu dinheiro, aceitaria", brinca Cielo.
O nadador deixou a equipe de
natação, mas continuará a estudar -voltou a cursar administração de empresas após
uma incursão pela criminologia. A universidade decidiu
manter sua bolsa, retribuição
aos feitos na piscina. O brasileiro é bicampeão e recordista das
50 jardas e das 100 jardas livre.
O atleta também se livrou do
severo contrato que assinava a
cada ano. "Tinha cláusula que
me proibia de sair e de beber.
Outra aconselhava a não namorar. Dizia que, se você tivesse
namorada, era melhor não se
estressar com ela. Se não tivesse, era melhor nem arranjar. É
estranho, mas funciona", diz.
Cielo, 21, habituou-se à vida
na pacata Auburn, no Alabama.
Pensou em fazer a última etapa
de preparação olímpica no Brasil, mas desistiu quando lembrou do trânsito e do assédio
que enfrentaria em São Paulo.
"Divido o dia entre treinos e
aulas. Às vezes me irrita, mas
me acostumei. Quando volto ao
Brasil, fico com fama de baladeiro, porque saio todo dia.
Mas eu só posso fazer isso por
umas duas semanas por ano."
Cielo disputará o Troféu Maria Lenk, em maio, no Rio. Depois, passará o segundo semestre no país. Espera voltar com
novo status após a Olimpíada.
Para isso, começa hoje a tentar mostrar que pode acompanhar o ritmo dos rivais. E, como
eles, nadará no GP de Ohio com
o LZR Racer, que vestiu 18 dos
19 recordes batidos neste ano.
"É complicado eu falar que
não muda nada. No Missouri
[em fevereiro], eu estava pesado, tinha feito musculação a semana toda e bati o recorde sul-americano dos 100 m livre.
Quando vi o tempo no placar,
achei que estava errado", diz.
Segundo Cielo, além de diminuir o atrito com a água, o traje
ajuda a melhorar a oxigenação.
"Ele desvia sua respiração do
lugar errado para o lugar certo.
É difícil até estufar o peito com
ele. A respiração vai para a parte abdominal", afirma ele.
"Um dos designers do traje
me disse que ele não é mais um
maiô, é uma ferramenta. É claro que um atleta mediano ou
despreparado não baterá recorde. Mas acho pode ajudar quem
já é bom a ser mais rápido."
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