São Paulo, sábado, 05 de abril de 2008

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Cielo nada para provar que é top

Agora profissional, brasileiro tenta repetir na piscina olímpica o sucesso obtido nas provas em jardas

Atleta elege Scherer como empresário e disputa hoje sua primeira competição com traje "high-tech" após a avalanche de recordes

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando os recordes mundiais começaram a cair em cascata, César Cielo se assustou. As marcas mais expressivas surgiam exatamente em suas provas. Foi difícil não imaginar um cenário trágico em Pequim.
O brasileiro, porém, logo se lembrou de que já havia batido várias vezes aqueles que, agora, mostravam músculos e batiam na água para festejar as marcas.
E deu a resposta na piscina.
Neste ano, Cielo se firmou como o mais veloz nadador que já passou pelas piscinas de jardas do universitário dos EUA.
Hoje, disputa sua primeira competição como atleta profissional. E tenta mostrar que acompanhou a evolução dos adversários e pode brilhar também na piscina olímpica.
"Fiquei surpreso com os recordes. O primeiro pensamento foi: "Dancei". Depois, vi que, se eles podem, eu também posso. E me deu mais motivação."
A vontade de ser profissional era antiga e foi impulsionada no ano olímpico. Com a vitrine de Pequim, acredita que será mais fácil obter patrocínios, proibidos enquanto era atleta da Universidade de Auburn.
Antigo também era o desejo de trabalhar com Fernando Scherer, agora seu empresário.
"Para mim, ele será sempre o Xuxa. É ídolo da minha geração. Acho que, se ele me pedisse para ficar com todo o meu dinheiro, aceitaria", brinca Cielo.
O nadador deixou a equipe de natação, mas continuará a estudar -voltou a cursar administração de empresas após uma incursão pela criminologia. A universidade decidiu manter sua bolsa, retribuição aos feitos na piscina. O brasileiro é bicampeão e recordista das 50 jardas e das 100 jardas livre.
O atleta também se livrou do severo contrato que assinava a cada ano. "Tinha cláusula que me proibia de sair e de beber. Outra aconselhava a não namorar. Dizia que, se você tivesse namorada, era melhor não se estressar com ela. Se não tivesse, era melhor nem arranjar. É estranho, mas funciona", diz.
Cielo, 21, habituou-se à vida na pacata Auburn, no Alabama. Pensou em fazer a última etapa de preparação olímpica no Brasil, mas desistiu quando lembrou do trânsito e do assédio que enfrentaria em São Paulo.
"Divido o dia entre treinos e aulas. Às vezes me irrita, mas me acostumei. Quando volto ao Brasil, fico com fama de baladeiro, porque saio todo dia. Mas eu só posso fazer isso por umas duas semanas por ano."
Cielo disputará o Troféu Maria Lenk, em maio, no Rio. Depois, passará o segundo semestre no país. Espera voltar com novo status após a Olimpíada.
Para isso, começa hoje a tentar mostrar que pode acompanhar o ritmo dos rivais. E, como eles, nadará no GP de Ohio com o LZR Racer, que vestiu 18 dos 19 recordes batidos neste ano.
"É complicado eu falar que não muda nada. No Missouri [em fevereiro], eu estava pesado, tinha feito musculação a semana toda e bati o recorde sul-americano dos 100 m livre. Quando vi o tempo no placar, achei que estava errado", diz.
Segundo Cielo, além de diminuir o atrito com a água, o traje ajuda a melhorar a oxigenação.
"Ele desvia sua respiração do lugar errado para o lugar certo. É difícil até estufar o peito com ele. A respiração vai para a parte abdominal", afirma ele.
"Um dos designers do traje me disse que ele não é mais um maiô, é uma ferramenta. É claro que um atleta mediano ou despreparado não baterá recorde. Mas acho pode ajudar quem já é bom a ser mais rápido."


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