São Paulo, sábado, 05 de junho de 2004

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MOTOR

Põe um capacete na Hello Kitty

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Se você não sabe o que fazer da vida e quer ganhar dinheiro, torne-se um homem de marketing. Basta ter idéias absurdas e lábia para vendê-las a quem precisa de uma boa desculpa para torrar a verba da empresa.
Outro dia apareceu um aqui na Folha. Veio da Inglaterra apenas para falar de Jenson Button, na sua opinião, o próximo grande campeão da F-1. Mais do que seus predicados na pista, ele e o patrocinador que representava haviam identificado no piloto inglês contornos de herói ou do que se entende por herói hoje em dia: jovem, simpático, divertido, pinta de modelo, namorada pop, esportista, um Beckham de macacão.
Sua missão, naquele momento, era revelar esse esforço de divulgação mundial e avisar que, no Brasil, isso se daria, inicialmente, com uma visita do piloto à etapa carioca da Stock. Quando me contaram isso, tomei como piada. Mas, como sobra dinheiro nesse mundo, não é que o tal do Button estará em Jacarepaguá amanhã dando uma voltinha de Astra?
Provavelmente nunca serei um marqueteiro. Se o patrocinador de Button me perguntasse o que seria preciso para fazer dele um astro mundial, responderia sem pensar: uma coisa só, ganhar. Acho que já estaria demitido quando ele me perguntasse, a título de última chance, se valeria a pena Button aparecer em um evento no Brasil. Minha singela resposta seria: esqueça o inglês e traga o Sato, que pode não ser bonito, mas é uma tremenda figura e vai aparecer até no Casseta dando volta no Pé de Chinelo. Casseta? Pé de chinelo?
Em nome de um emprego perdido, então, teria que explicar para um inglês que tenta transformar outro inglês em estrela que a nossa estrela da F-1 é motivo de chacota da própria emissora que transmite a categoria. E que Sato, dentro dessa F-1 cada dia mais covarde diante do inimigo de vermelho, acaba sendo admirado por ser o único que não se limita a correr pelos pontos, que joga o carro em cima e ainda sai reclamando. Evidente, não entenderia essa lógica, afinal, o japonês, no final das contas, leva a pior no campeonato. Mas que campeonato? O que vai transformar Schumacher no maior recordista do esporte em todos os tempos?
Nada disso parece preocupar os homens de marketing. Construir um campeão hoje em dia é promover eventos, capitalizar resultados, transformar promessa em certeza. Com tanta certeza que essa história de ser campeão vira detalhe. Os homens de Jenson, abastecidos por uma enorme quantidade de recursos com prazo de validade, não são gênios, seguem a cartilha do momento.
Quem é o fenômeno, Ronaldo ou Beckham? Quem ganha Copa do Mundo artilheiro ou quem não ganha nada mas vende sopa, xampu e calcinha? O que é um verdadeiro feito? Ganhar sete medalhas de ouro em uma única Olimpíada, como Mark Spitz, ou ficar rico aos 18 com o simples prognóstico de bater esse recorde, como o prodígio Michael Phelps?
Houve tempo que o esporte vivia de heróis. Hoje, vive de marketing, que só fabrica personagens. É pouco para a F-1.

Perseguido de perto
Não é só por aqui que Takuma Sato vem sendo festejado. Ele é objeto de uma das reportagens especiais da última "Autosport". "O melhor piloto de F-1 que já veio do Japão incomoda os meninos grandes."

Perseguido de longe
Mark Webber, capa da mesma revista, é a bola da vez. Não bastassem Williams, Renault e Jaguar, a Toyota também entrou na fila por 2005.

Perseguido de muito longe
Schumacher humilhou a concorrência em Nurburgring. O resultado foi especialmente devastador para a Mercedes, pelo fiasco em casa, para a Williams, pelo fiasco de seus pilotos, e para a Michelin, que reconheceu depois da corrida que seus times não têm chance este ano.

E-mail mariante@uol.com.br


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