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MOTOR
Põe um capacete na Hello Kitty
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Se você não sabe o que fazer
da vida e quer ganhar dinheiro, torne-se um homem de marketing. Basta ter idéias absurdas e
lábia para vendê-las a quem precisa de uma boa desculpa para
torrar a verba da empresa.
Outro dia apareceu um aqui na
Folha. Veio da Inglaterra apenas
para falar de Jenson Button, na
sua opinião, o próximo grande
campeão da F-1. Mais do que
seus predicados na pista, ele e o
patrocinador que representava
haviam identificado no piloto inglês contornos de herói ou do que
se entende por herói hoje em dia:
jovem, simpático, divertido, pinta
de modelo, namorada pop, esportista, um Beckham de macacão.
Sua missão, naquele momento,
era revelar esse esforço de divulgação mundial e avisar que, no
Brasil, isso se daria, inicialmente,
com uma visita do piloto à etapa
carioca da Stock. Quando me
contaram isso, tomei como piada.
Mas, como sobra dinheiro nesse
mundo, não é que o tal do Button
estará em Jacarepaguá amanhã
dando uma voltinha de Astra?
Provavelmente nunca serei um
marqueteiro. Se o patrocinador
de Button me perguntasse o que
seria preciso para fazer dele um
astro mundial, responderia sem
pensar: uma coisa só, ganhar.
Acho que já estaria demitido
quando ele me perguntasse, a título de última chance, se valeria
a pena Button aparecer em um
evento no Brasil. Minha singela
resposta seria: esqueça o inglês e
traga o Sato, que pode não ser bonito, mas é uma tremenda figura
e vai aparecer até no Casseta
dando volta no Pé de Chinelo.
Casseta? Pé de chinelo?
Em nome de um emprego perdido, então, teria que explicar para um inglês que tenta transformar outro inglês em estrela que a
nossa estrela da F-1 é motivo de
chacota da própria emissora que
transmite a categoria. E que Sato,
dentro dessa F-1 cada dia mais
covarde diante do inimigo de vermelho, acaba sendo admirado
por ser o único que não se limita
a correr pelos pontos, que joga o
carro em cima e ainda sai reclamando. Evidente, não entenderia
essa lógica, afinal, o japonês, no
final das contas, leva a pior no
campeonato. Mas que campeonato? O que vai transformar
Schumacher no maior recordista
do esporte em todos os tempos?
Nada disso parece preocupar os
homens de marketing. Construir
um campeão hoje em dia é promover eventos, capitalizar resultados, transformar promessa em
certeza. Com tanta certeza que essa história de ser campeão vira
detalhe. Os homens de Jenson,
abastecidos por uma enorme
quantidade de recursos com prazo de validade, não são gênios, seguem a cartilha do momento.
Quem é o fenômeno, Ronaldo
ou Beckham? Quem ganha Copa
do Mundo artilheiro ou quem
não ganha nada mas vende sopa,
xampu e calcinha? O que é um
verdadeiro feito? Ganhar sete medalhas de ouro em uma única
Olimpíada, como Mark Spitz, ou
ficar rico aos 18 com o simples
prognóstico de bater esse recorde,
como o prodígio Michael Phelps?
Houve tempo que o esporte vivia de heróis. Hoje, vive de marketing, que só fabrica personagens. É pouco para a F-1.
Perseguido de perto
Não é só por aqui que Takuma Sato vem sendo festejado. Ele é objeto
de uma das reportagens especiais da última "Autosport". "O melhor
piloto de F-1 que já veio do Japão incomoda os meninos grandes."
Perseguido de longe
Mark Webber, capa da mesma revista, é a bola da vez. Não bastassem
Williams, Renault e Jaguar, a Toyota também entrou na fila por 2005.
Perseguido de muito longe
Schumacher humilhou a concorrência em Nurburgring. O resultado
foi especialmente devastador para a Mercedes, pelo fiasco em casa,
para a Williams, pelo fiasco de seus pilotos, e para a Michelin, que reconheceu depois da corrida que seus times não têm chance este ano.
E-mail mariante@uol.com.br
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