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FUTEBOL
Maracanã, adeus?
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Ricardo Teixeira quer explodir o Maracanã. A proposta só merece ser comentada
aqui por ser reveladora da visão
que uma parte de nossa elite tem
do país e de seus problemas.
O argumento do presidente da
CBF é o de que o estádio Mário
Filho está tão obsoleto que não há
nem como reformá-lo para seguir
as exigências da Fifa se o Brasil
quiser sediar a Copa-2014. Entre
outras falhas, o Maracanã não
disporia em seu entorno de área
livre para a construção de um estacionamento de 3.000 veículos.
Ora, a questão está sendo colocada de cabeça para baixo. Não é
o Maracanã que não se adequa às
exigências de uma Copa do Mundo. É o Brasil, e em particular o
Rio de Janeiro, que não atende às
necessidades básicas de segurança, transporte e infra-estrutura
para um evento desse tipo.
Está certo, temos um grande estádio velho e cheio de problemas.
Se o demolirmos, o que teremos?
Nada. Ou será que o dirigente
imagina que no lugar do velho dinossauro brotará num passe de
mágica um similar do Stade de
France ou dos espetaculares estádios que o Japão exibiu ao mundo
na última Copa?
É isso que é típico dessa elite a
que me referi. Ela não quer mudar o Brasil, com tudo o que isso
implica de esforço coletivo, de negociação de interesses contraditórios, de superação de problemas
crônicos e estruturais. Ela quer é
abolir o Brasil, em nome da miragem de um país que não existe.
Habituado aos hotéis cinco estrelas, aos estádios e gabinetes refrigerados do Primeiro Mundo,
Teixeira parece perder de vista o
país onde vive. Há muita coisa a
fazer por aqui antes de se pensar
em destruir o Maracanã. O coitado não tem culpa de nada.
É possível que alguém me conteste, lembrando: "O estádio de
Wembley tinha até mais tradição
que o Maracanã, e os ingleses o
implodiram".
Responderei: em primeiro lugar, é problema deles. Em segundo lugar, eles têm muito mais dinheiro para erigir estádios modernos e menos problemas urgentes a resolver.
Em terceiro lugar, ao defender o
Maracanã, não sou movido só pelo desejo de preservar a tradição.
O Mário Filho ainda é o grande
palco da diversão mais popular
do país. Qual foi o estádio que recebeu as maiores (e mais animadas) platéias neste ano de 2004?
Resposta: o Maracanã, nas finais
do Estadual do Rio.
O que existe no ar é uma clara
tentativa de elitizar o futebol, de
transformá-lo em programa de
endinheirados. O povo que assista
pela televisão. As federações aumentam o preço dos ingressos,
clubes como o Atlético-PR tentam
afastar de seu estádio os torcedores pobres, a TV marca os jogos
para as 21h40, e por aí vai.
Evoca-se o exemplo do que
ocorreu na Europa, apela-se ao
argumento da falência dos nossos
clubes, lança-se mão do desgastado termo "modernidade". Conclusão: não basta demolir o Maracanã, esse símbolo incômodo
do futebol como festa popular; é
preciso substituir o povo brasileiro por uma turma mais chique.
Ronaldo salva
Brasil 3x1 Argentina: uma partida em que o talento do atacante Ronaldo salvou um time
sem conjunto, sem criatividade
no meio-campo e com uma defesa mais que vulnerável. Sorte
que os argentinos erraram a
pontaria. E pena que o técnico
Parreira tenha tanta birra contra o meia Alex, que no pouco
tempo que teve deu o passe
mais preciso e precioso do jogo,
o do terceiro pênalti sofrido por
Ronaldo no Mineirão.
Nota 10
Tem revista nova de futebol na
praça. É a elegante "Revista 10"
(Conrad Editora), que traz em
sua primeira edição, entre outras coisas, saborosas reminiscências botafoguenses de Nilton Santos e uma entrevista
com o homem que descobriu
Diego Armando Maradona.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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