São Paulo, sexta, 5 de junho de 1998

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Estrear na Copa sem medo, confiança na técnica para surpreender e aposta no esquema para voltar a vencer são os objetivos dos técnicos de Escócia, Marrocos e Noruega
Egil Olsen - Noruega


O técnico, 55 anos, nunca dirigiu um clube fora de seu país, goleou a seleção de zagallo por 4 a 2, e acha que pode repetir a façanha na Copa quando os dois times se encontrarem, no dia 23.


Folha - O que o senhor acha dos adversários da Noruega na primeira fase e, em especial, da seleção brasileira?
Olsen -
A Escócia tem um estilo de jogo tradicional, de muita marcação, que nós conhecemos muito bem.
Marrocos representa a escola africana, tem alguns jogadores habilidosos, com a vantagem de terem atuado no exterior, o que não acontecia na década de 80. Não será fácil vencê-los.
Quanto ao Brasil, é o time que tem o maior número de craques. No papel, é o melhor time, mas, por enquanto, só é o melhor no papel.
Folha - Quais os pontos fracos dos adversários da Noruega?
Olsen -
O da Escócia é o ataque, que não tem muita habilidade e não tem se saído bem.
O de Marrocos é uma certa correria e falhas na marcação no meio-campo.
Quando eu digo correria, estou me referindo a uma certa ingenuidade que ainda existe no futebol africano, apesar da evolução apresentada nos últimos anos.
O do Brasil é a falta de padrão de jogo, que coloca em risco a própria classificação do time na primeira fase da Copa. Não digo que isso vá acontecer, mas existe essa possibilidade.
Folha - Você acredita que a Noruega possa derrotar todos os oponentes do Grupo A?
Olsen -
Já derrotamos o Brasil por 4 a 2. Pegamos a Escócia em 92, em Oslo, e houve empate por 1 a 1. Nunca jogamos contra Marrocos. Não há retrospecto com eles.
Folha - Qual é a disposição tática de sua equipe?
Olsen -
Normalmente jogamos no 4-5-1. Tentamos o 4-4-2 em algumas ocasiões e também o 3-5-2, mas não será o caso na Copa.
Essa formação é adequada ao nosso estilo de jogo. Usamos muitas bolas longas. Da defesa, mandamos a bola para a frente por cima e tentamos recuperá-la no ataque. Movemo-nos rapidamente da defesa para o ataque. E foi essa formação que usamos durante as eliminatórias.
Folha - Como funciona e quem faz a "espionagem" norueguesa?
Olsen -
Nosso maior objetivo é observar os marroquinos, de quem não temos muitas informações. A Escócia nós conhecemos e, como o Brasil será o último adversário da primeira fase, já teremos visto duas partidas dos brasileiros no próprio Mundial.
Tenho um analista de partidas e um assistente técnico que, além de mim, assistem a partidas de outras equipes.
Folha - Que tipo de informação o senhor procura?
Olsen -
Primeiro, que estilo de jogo tem o time.
Se seu jogo é baseado no passe, rápido e com ênfase na posse de bola, ou se é baseado no defensivismo.
Qual o tipo de marcação que a equipe utiliza, homem a homem ou por zona.
Folha - Quais informações o senhor tem sobre o Brasil?
Olsen -
São jogadores brilhantes, aliando habilidade e velocidade. Sabem controlar e driblar muito melhor que nós e têm uma grande estrutura de ataque por causa dessa técnica.
Mas, taticamente, no jogo contra nossa seleção, o Brasil deu muito espaço no meio-campo e nos abriu a possibilidade de contra-atacar, o que permitiu a marcação de quatro gols. Temos de diminuir os espaços de jogo dos brasileiros para termos chance de derrotar os brasileiros de novo.
Folha - O senhor está esperando a apresentação de alguma novidade tática no Mundial?
Olsen -
Acho que mais e mais times estão partindo para uma marcação em zona, o que já fazemos há muitos anos.
No ataque, acho que o time que mais se diferencia é a Noruega, porque não tentamos manter a bola muito tempo. Estamos mais interessados no espaço do que na bola.
Em geral, o que tem acontecido nos amistosos é que nosso adversário tem a bola por mais tempo que nosso time.
Por exemplo, os africanos, contra quem jogamos várias vezes. Eles às vezes têm a bola durante 70%, 80% da partida, e nós ganhamos. Eles têm a bola, nós marcamos os gols.
Somos muito pragmáticos. Queremos ganhar jogos e é isso. Se ganharmos, está muito bom. Não há porque ficar com a bola muito tempo.



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