São Paulo, sexta, 5 de junho de 1998

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Henri Michel - Marrocos


Com a experiência de três Copas (jogador em 78, técnico da França em 86 e de Camarões em 94), o francês tem 'experiência' em ganhar do Brasil. Aos 50 anos, terá nova chance no dia 16


Folha - Qual sua expectativa para a primeira fase da Copa da França?
Michel -
Meu objetivo é o de classificar o Marrocos para as oitavas-de-final. Acho que temos possibilidade, sim, de passar à fase seguinte. Não será uma tarefa fácil, mas confio na qualidade técnica e na força de vontade de nossos jogadores.
Folha - Para o senhor, o Grupo A pode ser considerado fácil, médio ou difícil?
Michel -
Difícil.
Folha - O mais difícil do Mundial?
Michel -
Não sei se o mais difícil... Há outras chaves muito complicadas também. A nossa é somente uma delas.
O Brasil, pela força de seu futebol, pela tradição e pela qualidade de seus jogadores, é o grande favorito para ficar com a primeira vaga. A Noruega pode ser a surpresa do Mundial. A Escócia é, teoricamente, mais fraca do que a Noruega, mas, pela força de vontade, pode se superar.
Folha - O Marrocos, então, entraria na briga pelo segundo lugar?
Michel -
Teoricamente, sim. Mas só teoricamente, porque, na prática, tudo pode acontecer. O andamento do grupo dependerá fundamentalmente da primeira rodada.
Se não perdermos para a Noruega, estaremos firmes no páreo.
Folha - O senhor tem observado a seleção brasileira? O que acha do time de Zagallo?
Michel -
Conheço bem o futebol brasileiro, já o enfrentei na Copa de 86, quando levamos a França às semifinais da Copa do México, e antes, em 84, na disputa pelo ouro na Olimpíada de Los Angeles.
Os jogadores brasileiros são muito talentosos e não tenho receio em dizer que o Brasil é, se não o favorito, um dos favoritos para ganhar a Copa da França.
Os problemas que a seleção brasileira tem enfrentado são relacionados ao fato de não ter disputado torneios importantes, com adversários de primeiro nível, desde a Copa dos Estados Unidos.
Falta, num certo sentido, entrosamento aos atletas brasileiros, um esquema de jogo mais definido. Eles estão sentindo a falta das eliminatórias.
Folha - Como está o futebol africano atualmente?
Michel -
Continua em processo de evolução, apesar de ter altos e baixos. Na Copa da África de seleções, em Burkina Faso, os times apresentaram um futebol pior do que o que imaginávamos.
A média, infelizmente, não foi das melhores.
Mesmo assim, os africanos hoje praticam muito mais o esporte do que nos anos 60 ou 70, e o resultado, mais cedo ou mais tarde, vai aparecer.
Camarões já foi uma seleção que surpreendeu em 1990. Antes, em 1986, o próprio Marrocos teve uma boa participação, sendo eliminada somente pela Alemanha. E mais recentemente foi a vez da Nigéria, com a conquista do ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta.
Folha - Ainda não é chegado o momento de algum time da África ser campeão mundial?
Michel -
Ainda não, mas este dia chegará, mais cedo ou mais tarde. No Marrocos, por exemplo, os jogadores têm praticado um belo futebol, e é daí que vem minha confiança em uma grande exibição na França.
Nossos jogadores têm uma boa experiência internacional e muita vontade de defender o país, apesar de toda a crítica dizer o contrário. Isto eu considero um fator decisivo. É o espírito de luta deles que me enche de esperança.
Folha - Qual a melhor seleção africana?
Michel -
A Nigéria e o Marrocos.
Folha - Voltando a falar do Brasil, existe algum segredo para ganhar da seleção de Zagallo?
Michel -
Existe, fazer uma forte marcação no meio-campo. Colocando cinco marcadores no meio-campo, é possível matar a zona de criação do Brasil.
Folha - Quanto à Copa da França, o senhor acha que ela será melhor, em termos técnicos, ou pior do que a de 1994, nos EUA?
Michel -
Creio que será melhor. Em primeiro lugar pelo espírito do povo francês e europeu, pessoas que adoram o futebol. Em segundo, pela qualidade técnica de algumas equipes, que deverão fazer grandes apresentações. Em terceiro, pelo fato de serem 32 seleções participantes, o que aumenta a festa, internacionaliza mais, num certo sentido, o evento. A Copa torna-se um festival de futebol.



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