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JANIO DE FREITAS
As várias batalhas na França
Na mesma medida em que a
Copa se aproxima, crescem na
França duas expectativas contraditórias, envolvendo na ansiedade o governo e a população.
De uma parte, governo, mídia e
organizadores da Copa do Mundo esperam que a indiferença
francesa ceda ao entusiasmo
quando começarem os eventos
comemorativos, depositando-se a
maior dose de confiança na
"Festa do Futebol".
O próprio feitio dessa festa, no
dia 9, evidencia o seu propósito
de afinal despertar os parisienses,
e com isso o restante da França,
para a guerra esportiva a iniciar-se no dia seguinte.
De vários pontos de Paris vão
iniciar-se desfiles, com previsíveis
ares carnavalescos, convergindo
todos para uma grande concentração na Place de la Concorde, o
mais belo espaço vazio do mundo, um monumento ao vazio urbano na civilização que a tudo
quer preencher para explorar.
Os franceses sonham com desempenhos da sua "équipe bleue"
que a levem, mesmo que sem
maiores brilhos, a uma final
França x Brasil ou França x Alemanha.
Sonham, mas temem estar sonhando alto demais.
E, porque temem, recolhem-se,
contêm o interesse, encobrem o
sonho do improvável com o pesadelo do possível.
A Copa do Mundo faz ressurgir
no sindicalismo francês a lembrança de grandes feitos seus em
um tempo que muitos acreditam
historicamente encerrado. E lembrança, no caso, é a percepção da
oportunidade de dar à Copa um
sentido também político, na ótica
do sindicalismo.
Se fosse só a Air France a ameaçar com a suspensão das atividades, a preocupação maior ficaria
só para o governo.
Além do problema prático em
si, por seus reflexos nos olhares
mundiais que se voltam para a
França da Copa.
A possibilidade de greve nacional de trens e, sobretudo, dos ônibus e do metrô de Paris já significa, porém, a ameaça de um
transtorno social.
Em nome de causas sociais,
mas, como é próprio dos paradoxos de tais lutas, provocando tensão política e inquietações socialmente disseminadas mesmo
quando nada ultrapassa o estágio de possibilidade e, em relação
às dimensões tão extensas, remota.
Por trás desse cenário, o que se
vislumbra é a velha insuficiência
de sutileza nas análises e táticas
do que se denomina, genericamente demais, esquerda.
Eleito em represália aos excessos anti-sociais dos centro-direitistas do presidente Chirac, o primeiro-ministro Lionel Jospin
montou e conduz um ministério
que busca, já com evidentes êxitos preliminares, a resolução de
problemas que não são apenas
graves, mas tão complicados
quanto o desemprego e os imigrantes irregulares.
Em termos políticos, o governo
de Jospin, eleito com apoio do
sindicalismo adormecido contra
os anti-sindicalistas ativos, é que
será o maior atingido pelo sindicalismo (talvez) redesperto.
Ou seja, os beneficiários políticos de uma greve tormentosa, como a imaginam os sindicalistas,
seriam os direitistas de todos os
matizes.
A Copa na França não se limitará a encerrar as batalhas que se
prolongaram por dois anos, com
as eliminatórias.
É a ocasião para o confronto
pelo controle da Fifa, um poder
internacional.
E a oportunidade para tentativas de reabrir, no irradiador de
idéias e atitudes que é a França,
confrontos que pareciam modas
superadas.
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