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Chefes da venda de drogas no morro da Rocinha gastam R$ 20 mil para enfeitar vielas e barracos para a Copa do Mundo
Tráfico do
Rio decora
favelas
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio
Os grandes chefes do tráfico de
drogas nas favelas cariocas estão
financiando a decoração dos morros com pôsteres, bandeiras e
plásticos verde-e-amarelos.
Quanto mais se aproxima a Copa, mais as favelas adquirem tonalidades diferentes das de outras
épocas. O verde-e-amarelo já predomina sobre as cores desbotadas
que caracterizam vielas e barracos.
Esse é o caso, por exemplo, da
favela da Rocinha (zona sul).
No morro, tido como o mais populoso do país -cerca de 200 mil
habitantes, segundo a associação
de moradores-, bandeirolas e fitas se espalham por toda parte.
"É um mar verde-e-amarelo",
diz o comerciante Pedro de Assis,
50, de olho na decoração do caminho do Boiadeiro, onde a quantidade de fitas esticadas torna quase
impossível olhar para o céu.
A fonte de recursos para tanta
bandeira, tinta e plástico pendurado em postes, janelas e árvores é,
segundo a própria polícia, o tráfico de maconha e cocaína.
"O tráfico é generoso. Uma generosidade entre aspas. O traficante angaria a simpatia da comunidade. Ele banca remédios, empresta dinheiro a desempregados", afirma o tenente-coronel
Paulo Melo, comandante do 4º
BPM (Batalhão de Polícia Militar).
Na Rocinha, dois traficantes
-Zito e Lobão- são apontados
até mesmo por moradores como
financiadores da decoração.
A dupla controla o tráfico na favela desde o início da década. Desde que passaram a dominar as
"bocas" (pontos-de-venda) de
drogas, a favela está calma. Os assassinatos são cada vez mais raros,
assim como tiroteios e estupros.
A Folha apurou que Zito gastou,
na semana passada, R$ 20 mil na
compra de material decorativo,
distribuído a comerciantes locais.
Na Barreira do Vasco (zona norte do Rio), quem bancou a decoração foi Alexandre Thiago de Lima,
o Daguil, "chefão" da favela, segundo a polícia.
Em operação realizada há dois
dias na Barreira, os PMs se surpreenderam: as vielas e becos estão tomados por pinturas alusivas
à Copa. Por toda parte, cordas esticadas a três metros do solo carregam fitas "nas cores do penta",
como define a dona-de-casa Maria
do Amparo da Silva, 42.
No morro do Andaraí (zona
norte), Marcelo da Silva, o Café,
decorou a entrada da favela. Segundo a polícia, ele é um dos
"chefões" da região da Tijuca.
"É uma área muito complicada.
São muitas favelas. Faremos incursões nos morros para saber o
que está ocorrendo", disse o comandante do 6º BPM, tenente-coronel Naor Huguenin.
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