São Paulo, sábado, 5 de junho de 1999

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Contra a política da terra arrasada

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O leitor atento já deve ter percebido que há uma campanha em curso contra o Campeonato Paulista -e os estaduais, de um modo geral.
Descobri isso por acaso, ao me declarar favorável, em princípio, à sobrevivência do Paulistão, devidamente modernizado e saneado -bastou para que me tachassem de paternalista, desinformado e inocente útil a serviço do Farah.
Até o grande Tostão, normalmente tão democrático e ponderado, escreveu que os jornalistas que defendem os estaduais o fazem ou por interesses escusos ou porque têm vocação para serviçais. Como minha conta bancária não ganhou um mísero centavo a mais desde que emiti minha opinião, devo concluir que me enquadro na categoria dos subservientes.
Quer dizer, ficou difícil discordar da ofensiva antiestaduais sem ser chamado de corrupto ou babaca.
Apesar disso tudo, recebi uma penca de e-mails de leitores com sugestões para o aperfeiçoamento do Paulista. Serão todos babacas ou corruptos?
Não creio. Por isso, tomei a liberdade de fazer um "mix" de suas propostas (expor todas tomaria muito tempo e espaço), para servir ao menos como ponto de partida para uma possível discussão.
Agradeço a todos -sobretudo a Cleber Camacho Gonzales, a Altino Júnior e a Eduardo Santa Clara, dos quais chupei as principais idéias- e isento-os desde já das eventuais incoerências e fraquezas da proposta que exponho a seguir.
Não há mágica nenhuma. A idéia é fazer campeonatos estaduais rápidos, enxutos e integrados ao restante do calendário nacional.
No caso do Paulista, dez ou 12 clubes disputariam uma primeira fase, todos jogando contra todos, classificando-se os quatro primeiros colocados, por pontos corridos.
A esses quatro, juntar-se-iam os quatro "grandes" para disputar as fases seguintes (quartas-de-final, semifinal, final). Rápido e indolor. Detalhe: os quatro times que entrariam só nas quartas-de-final teriam que conquistar esse privilégio em campo, ou seja, seriam sempre os quatro primeiros colocados do ano anterior.
Os campeonatos estaduais seriam classificatórios para a Copa do Brasil, que deixaria de "convidar" os participantes (contra essa imoralidade ninguém diz nada). SP e RJ classificariam três ou quatro times cada, MG e RS classificariam dois, e cada um dos outros Estados classificaria um.
Desse modo, acredito, seria possível fazer estaduais interessantes, motivados e abertos a surpresas.
Sei que esse tipo de proposta vai contra a mentalidade predatória, de terra arrasada, que tem predominado no país.
Aqui, a coisa é assim: esse prédio antigo está mal conservado? Derruba. O cinema anda vazio? Fecha. O campeonato vai mal? Extermina. O sujeito é bandido? Mata.
Quanto a mim, não gosto do Farah, não gosto de "cheerleaders" rebolando com pompons, não gosto de pagode berrado nos alto-falantes, não gosto de juízes ruins nem de estádios vazios. Mas gosto do Campeonato Paulista -pelo que ele já foi e pelo que ele pode vir a ser.
Dá licença?


José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados

E-mail jgcouto@uol.com.br


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