São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2001

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FUTEBOL

Salve a seleção

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Já faz um século que a seleção brasileira perdeu para o Uruguai (não faz?), mas ainda há o que falar sobre a derrota. Principalmente porque as conclusões sobre esse jogo são importantes para os próximos.
Imagine o que é ser Roque Júnior esta semana. É justo apontar um único jogador como o culpado pelo mau resultado? Normalmente, não -só se todos os outros tivessem sido 100% esforçados, criativos e eficientes. Mas um único jogador, um homem-certo-no-lugar-certo, pode mudar o time e o jogo. Era isso que esperávamos que acontecesse no domingo passado.
Desde o começo, ficou evidente que o Brasil não conseguia marcar o Uruguai -os brasileiros foram "enfileirados" várias vezes antes da jogada do pênalti- e mal conseguia sair da defesa quando recuperava a bola. Ou os nossos atletas eram desarmados, ou entregavam a bola em um chutão a esmo ou passe errado. Nosso meio-campo, como de costume, não ligava defesa e ataque, não criava e não protegia. Tanta discussão sobre 3-5-2 e 4-4-2, e o Brasil jogou no todo-mundo-correndo-atrás-dos-uruguaios, ou escondido-atrás-de-um-uruguaio.
Mesmo querendo manter Mauro Silva com o grupo, Luiz Felipe deveria ter convocado outro jogador para o seu lugar. Com a contusão de Fabio Rochemback, ficamos ainda mais desguarnecidos de volantes -uma posição à qual Felipão sempre deu muita importância, com razão. Roque já é atirado e algo imprudente como zagueiro, que dirá como líbero ou volante. Apesar de não estar em seus melhores dias, Vampeta ainda é bom. Ricardinho, do Cruzeiro, só precisa ser menos violento. Como Magrão, do Palmeiras (calma, não o estou sugerindo para a seleção, mas ele é um belo volante quando não bate em todo mundo).
Felipão podia até ter mantido o esquema planejado, com três zagueiros, laterais ofensivos, Emerson como o único volante e três meias atacantes (já que não havia um verdadeiro meia armador, como lembra o Tostão).
Não funcionando esse esquema, como não funcionou o outro, a saída seria mexer no time durante o jogo. Será que a casa cai se Romário for substituído? Ewerthon ou Geovani poderiam ter ajudado melhor o trabalho do Juninho, que buscava o jogo atrás, conduzia bem, mas concluía mal. Correndo com bola ou sem, eles poderiam buscar a área ou a linha de fundo. A vida do Uruguai ficaria mais difícil.
Bancando a Poliana outra vez, pelo menos esse jogo teve um defeito evidente, que foi a improvisação do Roque como volante. Mas uma falta de entrosamento desanima: a dos jogadores com a bola. Ela espirrava em canelas e tornozelos, corria demais, fugia dos pés. Se os jogadores não mostrarem à bola quem é que manda, sargentão nenhum vai salvar a seleção.

Leão se queixa de traição. Antonio Lopes teria dito a ele que a Copa das Confederações era um "torneio de m. que não valia nada". Ele acreditou e descobriu, depois, que "no futebol, tudo vale". O problema não foi o Brasil ser eliminado da Copa, foi o futebol de m. apresentado. E elogiado pelo treinador, que pode ter sido obrigado a abrir mão dos seus jogadores favoritos, mas não a comemorar o desempenho do seu time, "que não tomou gols nos primeiros jogos".

Quem manda no jogo
Farah justifica a presença do Guarani e de outros times escolhidos para o Rio-SP: "Eles têm bons estádios". Que diferença faz? Diversos times estão sendo obrigados a mandar seus jogos em outras praças, por causa de interesses mil.

Foi outro o "crime"
Como lembraram Paulo Campos, de SP, e Marcelo Lins, de Ipatinga, o colombiano Escobar, morto depois da Copa de 94, fez um gol contra (e não perdeu um pênalti, como eu tinha dito).

Um outro crime
Um jogador foi morto em briga no campo no Paraná. Além de temer as armas nas mãos de bandidos e de policiais mal preparados, precisamos ter medo dos cidadãos "comuns" que acham que estão mais seguros com um revólver. E que podem perder a cabeça por qualquer estupidez. E-mail: soninha.folha@uol.com.br

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