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FUTEBOL
Pachouchadas e turpilóquios
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Atento leitor, observadora
leitora, não sei se vocês repararam, mas as câmeras durante a
Copa filmaram muito bem os jogadores logo após as comemorações. Isso fez com que tivéssemos
acesso aos seus sorrisos felizes, aos
seus alegres saltos acrobáticos e,
também, às suas palavras pós-gol.
Mas eis aí uma fonte de enganos.
Na verdade não ouvíamos suas
palavras, apenas víamos suas bocas se moverem e tentávamos fazer alguma leitura labial que nos
permitisse entender o que eles estariam dizendo dentro de campo.
Ora, a leitura labial é uma ciência inexata, cheia de erros e imperfeições, e assim os leitores podem ter cometido vários erros de
interpretação.
Aposto até que alguns pensaram que nossos jogadores disseram palavrões (bocagens, tabuísmos, pachouchadas e turpilóquios) em campo, não é? Nada
mais equivocado.
Para dirimir essa sombra caluniosa que passa por nossos atletas, tentarei aqui traduzir o que
realmente disseram nossos heróis
após terem realizado suas grandes jogadas nesta Copa.
Comecemos com Ronaldinho.
Depois de marcar aquele antológico gol de falta em Seaman (que
até hoje causa-lhe um incômodo
torcicolo), ele saiu correndo até a
lateral do campo e pareceu gritar:
"Eu amo essa camisa, porra!".
Ledo engano.
Ronaldinho não usou a palavra
"porra", que talvez tenha vindo
do latim porrum ou porrus
(alho), e que hoje em nossa língua
significa esperma. Longe disso.
Na verdade, Ronaldinho falou
"eu amo essa camisa forra!", e
"forra", como bem sabem os doutos leitores desta coluna, significa
"livre, liberta, alforriada". Ou seja, nosso habilidoso e negro meia
estava exaltando a libertação dos
escravos, e não falando um palavrão. E nada mais nobre que lembrar de um nobre momento da
história enquanto faz-se outro.
Mas há mais exemplos de como
podemos nos enganar com a leitura labial. Por exemplo, no segundo e definitivo gol sobre a Alemanha de Oliver Kahn, Rivaldo,
o pernambucano de Paulista,
abriu as pernas e deixou a bola
passar para Ronaldo, dando-lhe
chance de dominar a bola e escolher o canto antes de finalizar.
Pois bem, ao caminhar na direção do genial colega com o objetivo de abraçá-lo, Ronaldo exclamou o que parecia ser: "Tu é foda!". Mas não. Na verdade Ronaldo disse: "Tu és moda!". E é
óbvio que naquele instante Ronaldo queria dizer que Rivaldo,
ao fazer aquela brilhante jogada,
lançava um novo estilo de drible
na passarela dos campos. É claro
como o dia.
Porém, para quem observou
com atenção as expressões dos
nossos jogadores, a mais usada
pareceu ser mesmo a velha e sonora expressão "caralho", vocábulo de origem obscura mas que o
linguista Leo Spitzer propõe ter
vindo do latim characulus, que
por sua vez vem do grego chárax,
que significa estaca.
Mas não, meus amigos. É um
erro pensar que nossos atletas e
nosso técnico expressariam sua
felicidade com palavra tão chula.
Naqueles momentos de intensa
felicidade, o que eles faziam, em
realidade, era uma demonstração de fé.
Sim, eles não diziam "caralho",
mas "Caravaggio", em alusão à
Nossa Senhora de Caravaggio, a
santa de devoção do católico e
gaúcho Luiz Felipe Scolari.
Como se vê, é fácil sermos enganados pelas palavras. Cuidado
com elas, leitores.
A.K., d.K.
Acho que o futebol da seleção
na Copa do Mundo deste ano
pode ser dividido em duas fases: a.K e d.K.. Ou seja, antes
de Kleberson e depois de Kleberson. Com Juninho pelo
meio, nosso meio-campo
praticamente não existia e sofríamos ataques constantes,
tanto que os jogos contra a
Costa Rica e a Bélgica foram
difíceis para os cardíacos.
Mas veio o jogo com a Inglaterra, e Kleberson entrou. Aí
sim passamos a ter uma boa
proteção para a zaga e uma
melhor saída de bola.
Ricardinho
Sei que somos campeões, sei
que vencemos os sete jogos,
sei que não há um porquê para reclamar. Mesmo assim
não consigo parar de pensar
que, se tivéssemos trocado
um de nossos três zagueiros
por Ricardinho, teríamos tido maior domínio sobre nosso adversários, mais inteligência e mais beleza.
E-mail torero@uol.com.br
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