São Paulo, Segunda-feira, 05 de Julho de 1999
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Seleção tenta salvar imagem de Ronaldo

Mesmo com a má atuação diante do México na vitória por 2 a 1, atacante é elogiado pela comissão técnica

ALEXANDRE GIMENEZ
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO

enviados especiais a Foz do Iguaçu
A atuação do atacante Ronaldo na partida do último sábado, contra o México, causou na comissão técnica da seleção brasileira efeito inverso ao esperado: em vez de alguma crítica sobre a performance do jogador, que foi vaiado pelos torcedores brasileiros no estádio de Ciudad del Este, fez apenas elogios.
Na vitória por 2 a 1, que praticamente assegurou a classificação da seleção para a próxima fase da Copa América, Ronaldo jogou mal. Perdeu duas chances claras de marcar, além de ter tido uma movimentação pouco eficiente em toda a partida.
Aos 45min do segundo tempo, foi substituído pelo zagueiro João Carlos, que entrou para segurar o resultado, sob vaias da torcida que lotou o estádio Três de Febrero.
"Desde a Copa do Mundo, foi o melhor jogo do Ronaldo em termos de sua participação na partida. Ele cumpriu as determinações táticas", disse ontem o técnico Wanderley Luxemburgo.
Além do treinador, outros membros da comissão técnica da equipe, e até atletas, tentam "salvar" a imagem do atacante, eleito, em 1996 e 1997, o melhor jogador do mundo pelos técnicos das seleções em escolha organizada pela Fifa (entidade máxima do futebol).
"É normal ele receber vaias. Os torcedores têm a memória fraca. O Ronaldo fez uma boa partida. Foi a que ele mais correu até agora na Copa América", afirmou o consultor técnico Candinho.
Mas até o atacante Amoroso avaliou a atuação do companheiro de modo diferente. "Todo jogador tem um dia em sua carreira em que as coisas não funcionam bem. Tenho certeza que as coisas vão melhorar para ele na próxima partida", disse o jogador.
Desde o final do Mundial da França, quando teve uma crise nervosa horas antes da partida decisiva, Ronaldo não recuperou a eficiência em seu futebol.
Nesse período, o atacante teve que tratar tendinites em seus dois joelhos, que o tiraram da maioria dos jogos da Inter de Milão no Campeonato Italiano e na Copa dos Campeões da Europa. Além disso, cerca de um mês antes do início da Copa América, sofreu uma forte contratura muscular em sua coxa esquerda.
"Estou mais acostumado a aplausos do que a vaias. Espero marcar mais gols nos próximos jogos para reverter a situação", disse Ronaldo, principal garoto-propaganda da Nike, uma das patrocinadoras da seleção.
Para amigos, o atacante confidenciou que encara a competição sul-americana como oportunidade de recuperar parte de seu prestígio, tornando-se artilheiro do torneio, além de ganhar confiança para a disputa da temporada européia, que começa no próximo mês. A Copa América seria uma espécie de "pré-temporada" para ele.
Mas, até agora, Ronaldo não conseguiu alcançar os seus objetivos. Fora de campo, é o maior alvo das vaias dos torcedores de Foz do Iguaçu, cidade brasileira onde a seleção está concentrada e que faz fronteira com Ciudad del Este, no Paraguai.
"Receber vaias é uma situação incômoda. Mas ele tem experiência suficiente para superar isso. Na minha opinião, até agora, o Ronaldo é o grande jogador do Brasil na Copa América", declarou o técnico Luxemburgo.

Pressão
O treinador da seleção brasileira afirmou que não se sente pressionado por Ronaldo. Segundo Luxemburgo, ele não se preocupa com a exposição do atacante às vaias dos torcedores.
"Prefiro expor o Ronaldo a uma substituição do que perder um jogo. Ele saiu para ganharmos mais alguns minutos no final da partida. Além disso, o João Carlos (zagueiro que substituiu o atacante) tem uma ótima impulsão. Ajudaria muito o time naquele momento. Éramos pressionados."
Na entrevista coletiva concedida após a partida, Luxemburgo disse que não pretendia substituir Ronaldo -"tinha dito isso para ele"-, mas mudou de idéia após a expulsão do meia Rivaldo.
Para Luxemburgo, a postura de Ronaldo nos treinamentos é exemplar. "Eu o vejo muito disposto para os jogos e treinamentos. O que está acontecendo com ele (receber vaias dos torcedores) já ocorreu com outros grandes jogadores. Ele tem experiência suficiente para lidar com a situação. Afinal, já disputou duas Copas", finalizou.
Além de Ronaldo, o único atleta da seleção que já disputou dois Mundiais é o lateral-direito Cafu, capitão da equipe.



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