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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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pan 2003

Acuados por vaias dominicanas, atletas dos EUA recorrem a disfarces nos Jogos

O IMPÉRIO À PAISANA

EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO

Todos contra o império. No Pan-Americano, essa virou a ordem do dia. O objetivo passou a ser vencer os EUA. Ou, não sendo possível derrotá-los, pelo menos torcer contra os competidores do país de George W. Bush.
Nos três primeiros dias de Pan, os norte-americanos chegaram a ser vaiados pela torcida dominicana, francamente favorável aos cubanos, seus principais adversários na disputa pelo primeiro lugar do quadro de medalhas.
Foi o que aconteceu na ginástica artística. Na final individual masculina, as arquibancadas torceram entusiasticamente para o cubano Erick Lopez, que ficou com a medalha de ouro, e apuparam o norte-americano David Durante, a fim de desestabilizá-lo, em duas de suas apresentações.
"Já era uma coisa esperada, todos torcem para os mais fracos", desabafou David Durante após a cerimônia de premiação.
Mas Jonathan Horton, seu companheiro de equipe, discordou.
"A torcida não está a nosso favor, o que é um direito dela, mas tem sido justa. Quando eu me apresentei na barra fixa, todos gostaram e me aplaudiram. Acharam que eu merecia uma nota maior, então vaiaram a decisão dos juízes", comentou.
Na luta greco-romana, os dominicanos repetiram o que se viu na ginástica artística e torceram entusiasmados para os cubanos contra os norte-americanos.
Rodrigo Artilheiro, representante do Brasil na modalidade e derrotado na disputa pelo bronze, disse que "o apoio da galera é importante". "Se é um americano contra alguém de qualquer outro país, eles torcem para o outro mesmo. Mas não é o que decide. Ganha quem tem mais técnica e melhor preparação", afirmou.
Bob Condrom, diretor de mídia do Usoc, o comitê olímpico norte-americano, também acha natural ver a torcida contra, mas afirma que, quando um atleta ou um time dos EUA faz uma apresentação exemplar, a torcida reconhece o fato e não deixa de aplaudir. "O público quer ver arte e, quando oferecemos a da melhor qualidade no final, ele se curva", opinou.
Além da falta de apoio das arquibancadas, Condrom reconhece que os norte-americanos enfrentam outro problema: a animosidade contra o país após o ataque ao Iraque.
"Política não deveria se misturar com esporte, mas na cabeça de algumas pessoas se mistura."
E, justamente por isso, o Usoc tomou providências extras para evitar riscos de ataques contra membros da delegação norte-americana. Assunto proibido para Condrom - "sobre segurança não vou falar, está tudo em ordem até agora"-, o fato é que o comitê enviou uma cartilha a seus atletas em que lhes pede a máxima discrição possível.
Eles receberam seis uniformes diferentes para andar na Vila Pan-Americana e nos complexos esportivos dominicanos, o que dificulta a visualização da equipe, que mal parece uma delegação.
E mais: sempre que possível, tentam sair à paisana, a fim de não serem identificados como norte-americanos, além de andarem em grupos, o que diminuiria a possibilidade, se não de um atentado, pelo menos de um assalto.


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