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pan 2003
Acuados por vaias dominicanas, atletas dos EUA recorrem a disfarces nos Jogos
O IMPÉRIO À PAISANA
EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO
Todos contra o império. No
Pan-Americano, essa virou a ordem do dia. O objetivo passou a
ser vencer os EUA. Ou, não sendo
possível derrotá-los, pelo menos
torcer contra os competidores do
país de George W. Bush.
Nos três primeiros dias de Pan,
os norte-americanos chegaram a
ser vaiados pela torcida dominicana, francamente favorável aos
cubanos, seus principais adversários na disputa pelo primeiro lugar do quadro de medalhas.
Foi o que aconteceu na ginástica
artística. Na final individual masculina, as arquibancadas torceram entusiasticamente para o cubano Erick Lopez, que ficou com
a medalha de ouro, e apuparam o
norte-americano David Durante,
a fim de desestabilizá-lo, em duas
de suas apresentações.
"Já era uma coisa esperada, todos torcem para os mais fracos",
desabafou David Durante após a
cerimônia de premiação.
Mas Jonathan Horton, seu companheiro de equipe, discordou.
"A torcida não está a nosso favor, o que é um direito dela, mas
tem sido justa. Quando eu me
apresentei na barra fixa, todos
gostaram e me aplaudiram. Acharam que eu merecia uma nota
maior, então vaiaram a decisão
dos juízes", comentou.
Na luta greco-romana, os dominicanos repetiram o que se viu na
ginástica artística e torceram entusiasmados para os cubanos
contra os norte-americanos.
Rodrigo Artilheiro, representante do Brasil na modalidade e
derrotado na disputa pelo bronze,
disse que "o apoio da galera é importante". "Se é um americano
contra alguém de qualquer outro
país, eles torcem para o outro
mesmo. Mas não é o que decide.
Ganha quem tem mais técnica e
melhor preparação", afirmou.
Bob Condrom, diretor de mídia
do Usoc, o comitê olímpico norte-americano, também acha natural
ver a torcida contra, mas afirma
que, quando um atleta ou um time dos EUA faz uma apresentação exemplar, a torcida reconhece
o fato e não deixa de aplaudir. "O
público quer ver arte e, quando
oferecemos a da melhor qualidade no final, ele se curva", opinou.
Além da falta de apoio das arquibancadas, Condrom reconhece que os norte-americanos enfrentam outro problema: a animosidade contra o país após o
ataque ao Iraque.
"Política não deveria se misturar com esporte, mas na cabeça de
algumas pessoas se mistura."
E, justamente por isso, o Usoc
tomou providências extras para
evitar riscos de ataques contra
membros da delegação norte-americana. Assunto proibido para Condrom - "sobre segurança
não vou falar, está tudo em ordem
até agora"-, o fato é que o comitê enviou uma cartilha a seus atletas em que lhes pede a máxima
discrição possível.
Eles receberam seis uniformes
diferentes para andar na Vila Pan-Americana e nos complexos esportivos dominicanos, o que dificulta a visualização da equipe, que
mal parece uma delegação.
E mais: sempre que possível,
tentam sair à paisana, a fim de não
serem identificados como norte-americanos, além de andarem em
grupos, o que diminuiria a possibilidade, se não de um atentado,
pelo menos de um assalto.
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