São Paulo, quarta-feira, 05 de agosto de 2009

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Atletismo quebra recorde de doping

Delegação nacional que disputará o Mundial da Alemanha em dez dias registra seis flagrantes positivos numa semana

Exames apontam presença da substância proibida EPO, e representantes da equipe Rede podem pegar até quatro anos de suspensão

JOSÉ EDUARDO MARTINS
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A delegação brasileira de atletismo que vai disputar o Mundial de Berlim, a partir do dia 15, é protagonista do maior flagrante de doping da história nacional da modalidade.
Dos 45 classificados, seis foram flagrados no antidoping. Somente em 2009, foram constatados sete casos de doping no país. Isso significa quase um terço do total de casos desde 2003, quando os exames começaram a ser feitos no Brasil de acordo com as normas da Agência Mundial Antidoping.
Ontem, a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) anunciou que os exames das amostras "A" de Bruno Lins e Jorge Célio (ambos dos 200 m e 4 x 100 m), Josiane da Silva (4 x 400 m), Luciana França (400 m com barreiras) e Lucimara Silvestre (heptatlo) -todos da Rede Atletismo- deram positivo para a substância EPO (Eritropoietina). Foram resultado de teste-surpresa, em 15 de junho, em Presidente Prudente.
O resultado dos exames foi enviado anteontem pelo laboratório Armand Frapier, credenciado pela Iaaf (entidade que gerencia o atletismo), em Montréal, no Canadá.
Há uma semana, a CBAt divulgou também o caso de Lucimar Teodoro (400 m com barreiras). O exame da atleta, também integrante da Rede, deu positivo para um estimulante. Seu antidoping havia sido feito no Troféu Brasil.
Os cinco atletas, que estavam treinando na Alemanha, desistiram da confidencialidade e solicitaram a análise de contraprova. Já no Brasil, eles consideram que terão mais subsídios para apresentar a defesa.
A confederação vai abrir um inquérito para apurar os fatos. A suspensão dos atletas pode variar de dois a quatro anos.
A Rede Atletismo também vai abrir uma sindicância. "Torço por isso [uma falha nos exames], mas acho muito difícil ter acontecido", disse Marcos Coreno, diretor técnico da Rede.
Um dia antes de anunciar os casos, a CBAt, curiosamente, havia divulgado um comunicado com explicações detalhadas sobre a metodologia adotada nos exames antidoping.
Em dezembro do ano passado, a Iaaf, entidade que comanda o atletismo mundial, criticou a estratégia de combate ao doping da CBAt. Na ocasião, Chris Butler, diretor do Departamento Médico e de Antidoping da Iaaf, disse que a Anad (Agência Nacional Antidoping), órgão ligado à CBAt, errava ao concentrar os exames durante as competições.
Em 2008, houve cerca de 320 análises. Só quatro esportistas tiveram de passar por testes durante seus treinamentos.
Neste ano, após as críticas, o número de testes aumentou significativamente. Somente em sete meses foram realizadas 353 análises. O número de exames fora de competição cresceu mais ainda. Em 2009, foram 61 (ou 17%).
"É um número significativo de atletas [flagrados]. Isso é resultado do nosso trabalho, que tem se focado em testes qualitativos", disse Thomaz Mattos de Paiva, advogado da CBAt, que diz que, após a contraprova ser feita no Canadá, o resultado deve sair em duas semanas.
Com a saída dos atletas, a delegação brasileira fica enfraquecida. para o revezamento 4 x 100 m. Lins e Cena serão substituídos por Ailson Feitosa e Nilson de Oliveira.
Para o lugar dos técnicos Jayme Netto Junior e Inaldo Justino de Sena, que retornaram ao Brasil, foi chamado Adriano Vitorino, que recusou o convite.


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