São Paulo, quarta, 5 de agosto de 1998

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Não se deve abrir mão do trunfo Zagallo

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas


O presidente da CBF já admite manter Zagallo na futura comissão técnica, sob o argumento de que o velho Lobo dos campos, além de confiável, é o treinador mais experiente em atividade no futebol brasileiro.
O argumento é bom. E, fosse eu presidente da CBF (perdão, Senhor!), também não abriria mão desse trunfo, desprezando a histeria pós-Copa que já começa a se abrandar, pois cabe ao dirigente manter a cabeça fria e os olhos postos no horizonte.
Só que reservaria a Zagallo a função de conselheiro-mor, numa comissão técnica montada em moldes verdadeiramente revolucionários para o nosso futebol, inusitados mesmo até para o resto do mundo.
A partir do modelo adotado pela célebre máquina húngara dos anos 50, imagino um grupo de trabalho dividido, na verdade, em três segmentos: administrativo (pessoal que cuida da logística, que vai desde a escolha de hotéis, passagens, escolha dos adversários em amistosos, até a parte jurídica e burocrática); técnico (que trata especificamente da escolha dos jogadores, da estratégia e da tática a serem adotadas pelo time) e o fisiológico (médicos e preparadores físicos). Cada um desses grupos de trabalho, que se comunicam entre si, por meio de seus respectivos chefes, reporta-se a um superintendente, alguém de bom senso, com natural capacidade de liderança e notório conhecedor do assunto futebol, que dará a última palavra.
E aqui está o nó da questão? Quem? Das pessoas que aí estão, só vejo um nome que reúne tais dotes: o dr. Eduardo Gonçalves de Andrade, popularmente conhecido como Tostão. Lúcido, articulado, sensato, atualizadíssimo, Tostão carrega na bagagem, além do diploma de médico, a justa fama de um dos maiores jogadores da história do futebol, o que lhe dá autoridade para tanto discutir com o médico quanto com o treinador de campo sobre as questões das duas áreas.
E isso é fundamental para que o esquema proposto funcione. Caso contrário, caímos no buraco vazio da falta de liderança e de responsabilidade.
Quanto ao grupo de trabalho técnico, visualizo uma formação heterodoxa: um treinador de campo, chefe do grupo, que pode ser qualquer um desses cogitados pela imprensa -Luxemburgo, Felipão, Leão, Carpegiani, Autuori, sei lá -desde que aceite de antemão o novo organograma e a ele se submeta na prática; o conselheiro Zagallo e mais três auxiliares técnicos, incumbidos de desenvolverem treinamentos específicos, para goleiros, defesa, meio-campo e ataque.
No outro grupo, dois médicos (ortopedista e geral), um fisioterapeuta, dois preparadores físicos, um nutricionista e um psicólogo de verdade, com diploma e reconhecida competência no meio.
Como? Gente demais, custo altíssimo, desse jeito vira zorra?
Bem, se assim é, que assim seja: meta-se lá um Felipão ou um Luxemburgo da vida; de um lado, um Paixão; de outro, um Lídio. Reúne-se a turma em cima da bucha, sob os auspícios da Nike e à sombra dos interesses dos senhores da CBF, e vamo nóis, que Deus é brasileiro.


Alberto Helena Jr. escreve às quartas, domingos e segundas



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