São Paulo, quarta, 5 de agosto de 1998

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NATAÇÃO
Casos levam confederação a realizar campanha de conscientização entre atletas em torneio em São Paulo
Troféu Brasil promete cerco a doping
Rogério Assis/Folha Imagem
O holandês Marcel Wouda, que disputa os 400 e os 200m medley no Troféu Brasil de Natação


LUÍS CURRO
JOSÉ ALAN DIAS
da Reportagem Local

Marcada pela incidência de doping na última temporada, a natação brasileira usa seu mais importante evento como campanha de conscientização sobre o uso de substâncias proibidas.
O Troféu Brasil -denominação do Campeonato Brasileiro de Natação- começa hoje, às 17h, com eliminatórias de oito provas no complexo poliesportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, zona sul de São Paulo.
Entre os atletas estão os brasileiros Gustavo Borges (Pinheiros), prata em Atlanta-96 nos 200 m livre, Fernando Scherer (Flamengo), bronze nos 50 m livre, o holandês Marcel Wouda, campeão mundial nos 400 m medley.
Em 97, durante a competição, em outubro, em Belo Horizonte, o teste antidoping do nadador Hugo Duppré, 24, apresentou o uso de nandralona (anabolizante).
Duppré, que alcançara o índice para disputar os 100 m borboleta no Mundial da Austrália, foi suspenso por quatro anos pela Fina (Federação Internacional de Natação). Outros dois atletas, Eric Borges e Alexandre Lopez, da equipe de pólo aquático, foram pegos por doping em exame surpresa antes do Mundial.
A CBDA (Confederação Brasileira de Natação) anuncia que durante os cinco dias de Troféu Brasil -em piscina longa (50 m)- distribuirá a atletas e técnicos dos clubes o regulamento da Fina sobre doping e a lista das substâncias consideradas dopantes. Ao todo, são prometidos 10 mil livretos a federações e clubes de todo o país.
A confederação anuncia que em 15 das 32 provas da competição nacional haverá exames antidoping. Os critérios, segundo Coaracy Nunes, presidente CBDA, foram definidos da seguinte forma:
1) A equipe médica, comandada por Eduardo de Rose, membro da Fina e do COI (Comitê Olímpico Internacional), indica qual atleta (ou atletas) deve ir a exame;
2) Em todas as provas em que houver recordes, haverá exame;
3) Se não houver recordes ou atletas indicados, sorteio definirá os que passarão pelo teste.
"O doping é fato que independe da vontade da confederação. A preocupação com o problema é grande. Não temos como controlar a vida dos principais atletas, de todos os clubes e todas as academias. A alternativa é a conscientização", diz Coaracy Nunes.
Técnicos de dois clubes favoritos à conquista do Troféu Brasil concordam que a conscientização dos atletas é a melhor alternativa para evitar o doping.
"Após o caso com o Duppré, a CBDA começou a tomar mais cuidado, e os clubes também. Fizemos uma reunião com os atletas e passamos informações sobre remédios que devem ou não ser tomados", disse Marco Lamah, 43 , técnico do Flamengo.
"Hoje, o atleta sabe o que é proibido, o que pode e o que não pode. E sabe que poderá ser testado a qualquer momento pela CBDA ou pela Fina", afirmou Marcelo Araújo, 32, do Fluminense.
"O doping coloca a natação em um aspecto sombrio. Não sei se um dia será possível estarmos livres disso", constatou o holandês Marcel Wouda.
Com base nos resultados do Troféu Brasil, a confederação vai definir a equipe que participa da etapa brasileira da Copa do Mundo de natação, que será entre 20 e 22 de novembro no Vasco, no Rio.
O ponto contraditório é a Copa ser em piscina curta (25 m), enquanto as marcas do Troféu Brasil são obtidas em piscina de 50 m.



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