São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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FUTEBOL

Jogar mal com classe

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje, contra a Bolívia, Ronaldinho Gaúcho deve fazer a função do Kaká, e Adriano, formar a dupla com Ronaldo no ataque. Adriano é agora o primeiro reserva de Kaká e dos dois Ronaldos. Alex é a outra opção para o lugar de Kaká.
Adriano é um atacante excepcional, pode fazer uma boa dupla com Ronaldo, mas, na ausência do Kaká, prefiro Alex e os dois Ronaldos. A equipe manteria o estilo com dois meias atacantes e um centroavante. Ronaldinho Gaúcho e Alex se entendem muito bem, finalizam com eficiência e possuem um passe rápido e surpreendente, o que facilitaria para Ronaldo.
Parreira disse várias vezes que, no time titular, Ronaldinho Gaúcho é atacante, e Kaká, meia de ligação. Pela lógica do técnico, teria de entrar um atacante (Adriano) no lugar do Ronaldinho Gaúcho. Mas os dois são completamente diferentes. Na Copa de 2002, o time tinha também dois meias (Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho) e um centroavante.
Parreira afirmou ainda que foram muito bem as duplas de centroavantes formadas por Ronaldo e Luis Fabiano, nas eliminatórias, e Adriano e Luis Fabiano, na Copa América. Não foi o que vi. Adriano e Ronaldo atuaram bem individualmente, porém as duplas não funcionaram, e Luis Fabiano jogou muito aquém do que se esperava.
Com três volantes e dois centroavantes, o time fica lento, previsível, e o meia, muito sobrecarregado. Contra a fraquíssima Bolívia, que vai jogar só na defesa, isso não será problema. Edu e Juninho terão todas as chances de chegar ao ataque.
Mesmo sozinho na ligação com o ataque, dois de cada três gols do Brasil na Copa América saíram dos pés de Alex. Mas Parreira gostou mais de Edu, que só tocou a bola para o lado, com elegância. Como escreveu anos atrás o grande cronista João Maximo, há atletas que atuam mal com classe.
Robinho é outra opção. Além de ser mais um reserva de Ronaldinho Gaúcho no ataque, ele poderia atuar no lugar de Zé Roberto, não para fazer a mesma função nem para jogar como no Santos. Ele atuaria com liberdade, mais pela esquerda, marcando e atacando. Os que acham isso impossível são os que só conhecem e repetem o discurso dos treinadores. É a mesmice no futebol.
Se Robinho entrasse no lugar de Zé Roberto, o que nunca vai acontecer, teoricamente melhoraria o ataque e pioraria a defesa, sem a presença de um terceiro volante, pela esquerda. Talvez nem isso aconteça, porque Robinho é leve, esperto e rápido para antecipar e desarmar. Na seleção titular, mesmo jogando bem, ele seria um coadjuvante, o que lhe daria tempo para evoluir e se destacar.
Para ficar mais claro sobre o que escrevi na coluna anterior, a seleção brasileira é a melhor do mundo porque tem mais craques. Mas gosto mais do estilo da Argentina, que associa correria e forte marcação com ofensividade e habilidade. O Brasil e as outras seleções jogam um futebol mais equilibrado, cadenciado e também eficiente. O ideal seria utilizar as duas opções, de acordo com o momento.
A seleção brasileira pode melhorar muito. A insatisfação permanente de Bernardinho com o time de vôlei, durante anos, foi fundamental para a equipe ganhar a medalha de ouro e fazer exibições espetaculares. Pelos craques que tem, a seleção de futebol pode fazer o mesmo.

Zinho, Dimba e Romário
Dos times do Brasileirão, o Corinthians foi o que mais evoluiu. Saiu da zona de rebaixamento para o oitavo lugar e está sete pontos atrás do líder. Não será mais surpresa se a equipe terminar entre as primeiras.
O Corinthians tem hoje um time organizado, confiante, aguerrido e com uma boa marcação. Falta melhor qualidade individual, como nas outras equipes. Coletivamente, o Corinthians parece o Grêmio, quando era dirigido pelo Tite, que foi campeão da Copa do Brasil em 2001. A final foi contra o Corinthians, comandado por Vanderlei Luxemburgo.
Outro time que melhorou pouco no campo e muito na tabela foi o Flamengo. Para isso, foram importantes as contratações de Dimba e, principalmente, o retorno de Zinho. O meia, além de pé-quente e solidário, organiza a equipe. É o segundo técnico.
Dimba quase não participa do jogo, mas sabe bater pênalti e se colocar para empurrar a bola para as redes. Parece o Romário dos tempos atuais.

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