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Arquirrivais misturam futebol e política
Governantes de Brasil e Argentina, que se enfrentam hoje, envolvem-se com o esporte mais popular dos dois países
Cristina Kirchner compra direitos de transmissão do Nacional por R$ 300 mi; Lula tenta emplacar calendário europeu e ajudar Corinthians
DO ENVIADO A ROSARIO
Há 31 anos, Argentina e Brasil fizeram, na Copa do Mundo
de 1978, na mesma Rosario em
que se enfrentam hoje, talvez o
mais célebre confronto da história entre os dois maiores rivais sul-americanos. Um empate sem gols, mas com um nível
de tensão inigualável.
Eram tempos em que os governos, ditaduras militares,
misturavam-se com o esporte
mais popular dos dois países.
Hoje, ambos são democracias, mas a confusão entre Estado e bola continua a existir.
Tanto o governo da argentina
Cristina Kirchner quanto o do
brasileiro Luiz Inácio Lula da
Silva interferem no futebol em
seus países. Do lado da Argentina, isso é muito mais ostensivo.
No mês passado, o governo
local comprou os direitos de
transmissão do campeonato
nacional por quase R$ 300 milhões por temporada. A justificativa foi a de que o povo tem o
direito de assistir aos jogos sem
pagar os canais por assinatura.
Cristina e seu marido, o ex-
-presidente Néstor Kirchner,
também interferiram na política interna do clube mais popular do país, o Boca Juniors, que
era controlado por Mauricio
Macri, rival político do casal.
Em 2008, a pedido de aliados
dos Kirchner, a Promotoria argentina exigiu que o clube fizesse novas eleições. O eleito
foi Pedro Pompilio, aliado de
Macri, mas que estava se debandando para o lado do casal
presidencial quando morreu.
O atual presidente do Boca,
Jorge Amor Ameal, virou aliado da presidente e de seu marido. Tanto que o popular clube
começou a receber benesses.
Em junho, o Boca ganhou do
governo um terreno de 20 hectares na região metropolitana
de Buenos Aires para fazer um
centro de treinamento. Também foi agraciado com área
igual o Racing, clube do coração
de Néstor. Os presidentes de
Boca e Racing foram recebidos
em audiência por Cristina.
Do lado brasileiro, não é só o
fanatismo de Lula pelo Corinthians que faz seu governo ficar
muito próximo do futebol.
O petista chegou a chamar
Ricardo Teixeira, presidente da
CBF, a Brasília para praticamente ordenar que o calendário do futebol brasileiro mudasse e seguisse o padrão europeu. Em entrevista na TV, Ronaldo disse que o presidente
ajuda o Corinthians indicando
empreiteiras para a construção
de um centro de treinamento.
O governo Lula assegura que
não vai colocar dinheiro de seu
orçamento na construção de
estádios para a Copa de 2014.
Mas muitos governos estaduais já admitem bancar integralmente os custos das arenas
que serão usadas no Mundial. E
Brasília promete abrir o cofre
para obras de infraestrutura
para o Mundial.
(PAULO COBOS)
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