São Paulo, sábado, 05 de setembro de 2009

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Arquirrivais misturam futebol e política

Governantes de Brasil e Argentina, que se enfrentam hoje, envolvem-se com o esporte mais popular dos dois países

Cristina Kirchner compra direitos de transmissão do Nacional por R$ 300 mi; Lula tenta emplacar calendário europeu e ajudar Corinthians

DO ENVIADO A ROSARIO

Há 31 anos, Argentina e Brasil fizeram, na Copa do Mundo de 1978, na mesma Rosario em que se enfrentam hoje, talvez o mais célebre confronto da história entre os dois maiores rivais sul-americanos. Um empate sem gols, mas com um nível de tensão inigualável.
Eram tempos em que os governos, ditaduras militares, misturavam-se com o esporte mais popular dos dois países.
Hoje, ambos são democracias, mas a confusão entre Estado e bola continua a existir.
Tanto o governo da argentina Cristina Kirchner quanto o do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva interferem no futebol em seus países. Do lado da Argentina, isso é muito mais ostensivo.
No mês passado, o governo local comprou os direitos de transmissão do campeonato nacional por quase R$ 300 milhões por temporada. A justificativa foi a de que o povo tem o direito de assistir aos jogos sem pagar os canais por assinatura.
Cristina e seu marido, o ex- -presidente Néstor Kirchner, também interferiram na política interna do clube mais popular do país, o Boca Juniors, que era controlado por Mauricio Macri, rival político do casal.
Em 2008, a pedido de aliados dos Kirchner, a Promotoria argentina exigiu que o clube fizesse novas eleições. O eleito foi Pedro Pompilio, aliado de Macri, mas que estava se debandando para o lado do casal presidencial quando morreu.
O atual presidente do Boca, Jorge Amor Ameal, virou aliado da presidente e de seu marido. Tanto que o popular clube começou a receber benesses.
Em junho, o Boca ganhou do governo um terreno de 20 hectares na região metropolitana de Buenos Aires para fazer um centro de treinamento. Também foi agraciado com área igual o Racing, clube do coração de Néstor. Os presidentes de Boca e Racing foram recebidos em audiência por Cristina.
Do lado brasileiro, não é só o fanatismo de Lula pelo Corinthians que faz seu governo ficar muito próximo do futebol.
O petista chegou a chamar Ricardo Teixeira, presidente da CBF, a Brasília para praticamente ordenar que o calendário do futebol brasileiro mudasse e seguisse o padrão europeu. Em entrevista na TV, Ronaldo disse que o presidente ajuda o Corinthians indicando empreiteiras para a construção de um centro de treinamento.
O governo Lula assegura que não vai colocar dinheiro de seu orçamento na construção de estádios para a Copa de 2014.
Mas muitos governos estaduais já admitem bancar integralmente os custos das arenas que serão usadas no Mundial. E Brasília promete abrir o cofre para obras de infraestrutura para o Mundial. (PAULO COBOS)


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