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ANÁLISE
Histórias das três batalhas de Rosario
MARCO CHIARETTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
NOS LIVROS de história,
há duas batalhas de
Rosario. A de 18 de junho de 1978 é a segunda. Essa
de hoje, pelo visto, corre o risco
de ser a terceira. Espera-se que
nesta, pela primeira vez, os brasileiros ganhem.
Na primeira, batalha de verdade, com canhão e cavalaria,
ocorrida no século 19, os republicanos da aliança argentino-
-uruguaia levaram a melhor sobre as tropas imperiais brasileiras. Não foi uma vitória acachapante, mas os "castelhanos" ficaram com o terreno.
Ganharam e ainda se apropriaram da partitura de uma
marcha, que tocam sempre
que um presidente brasileiro
vai a Buenos Aires.
Essa primeira batalha aconteceu em 1827. Morreram cerca
de 400 pessoas -e o nome da
batalha na verdade era "Passo
do Rosario", ou ainda "de Ituzaingó", e aconteceu no Rio
Grande do Sul, um pouco distante do Pampa argentino.
Na segunda, não morreu ninguém, que se saiba (ao menos
não em campo). Nos dois países, estava-se em uma ditadura,
mas, como o jogo era em Rosario, os ditadores de lá estavam
mais perto do evento em si.
Jorge Rafael Videla, o general
que comandava o primeiro governo militar, foi ao estádio. E
ajudou o juiz a apitar.
Batalha horrível, diga-se. Joguinho feio, que acabou em empate. A Argentina, nem invicta
era. Perdera da Itália na fase
inicial. Se perdesse do Brasil,
provavelmente ficaria fora da
final. Provavelmente, não, ficaria. Note-se: o Brasil, com Maracanazo e tudo, era tri; a Argentina nunca vencera nada.
O jogo, a batalha, acabou no 0
a 0. Os argentinos tinham um
jogador, Luque, que deveria ter
sido preso. Bateu o jogo inteiro,
abaixo da linha da cintura. Bateu no primeiro lance, um pontapé em Batista ouvido no planeta. O árbitro, um húngaro de
nome Palotay e lisura sem par,
não viu nada demais, já que de
modo geral saía pouco sangue.
Para compensar a classe alviceleste, o Brasil colocou em
campo o ínclito meio-campista
Chicão, conhecido pela sua técnica admirável. Na base da pancada mútua, o jogo acabou parelho, com Roberto Dinamite
perdendo um gol no finzinho.
Empate na batalha, faltava
um jogo pra cada lado.
O Brasil pegou a Polônia e,
aos trancos e barrancos, enfiou
3 a 0. A Argentina precisava ganhar de quatro do Peru.
A alegria brasileira durou algumas horas. À noite, os comandados de Menotti, o técnico argentino, surraram os peruanos (cujo goleiro era... argentino naturalizado peruano,
coitado). O jogo foi 6 a 0. Finalistas e campeões.
Parte da torcida no Brasil ficou até feliz, assim a ditadura
não poderia usar a Copa a seu
favor. Já a ditadura deles, usou.
Sem nenhum pudor.
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