São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE

Oásis

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Dado o regulamento estrambótico, com duas fases classificatórias antes dos playoffs, em que os times parecem correr atrás do próprio rabo em câmera lenta, eu havia resolvido deixar o Campeonato Paulista, por ora, de lado. Mas a história do São Bernardo é boa demais -e história boa não se despreza hoje em dia.
Recém-promovida à primeira divisão, a equipe do ABC fazia até ontem a melhor campanha entre os 15 participantes.
Com cinco vitórias em seis rodadas -só caiu na estréia-, aparecia à frente de forças tradicionais do Estado como Araraquara (2v e 3d) e Mogi (4v e 1d).
Pude vê-la em ação apenas uma vez neste semestre -o malfadado duelo contra o Ribeirão Preto e a arbitragem, pelos Jogos Abertos. A ESPN Brasil infelizmente ainda não se interessou pelo sucesso dos rapazes (bem que podia, aliás, mudar a programação de outubro para incluí-los).
Naquele dia, o time tateou no ataque, possivelmente porque ainda estranha(va) o sistema de triângulos, celebrizado pelo Chicago Bulls. Se o número de assistências foi alto, o de "turnovers" também foi. Jefferson Sobral, único conhecido do grande público, atuou como válvula de escape.
Mas na defesa a equipe já se diferenciava, atlética e esperta. Impressão, aliás, que as estatísticas do Estadual reforçam -São Bernardo lidera o ranking de bolas roubadas e surge em 2º no de tocos (ataca a bola, não o rival, já que vem só em 9º em faltas).
Mas os números e um jogo não bastariam para descrever o conto de fadas. Em busca de consistência, a coluna apelou ao raçudo Frederico Batalha. Graças ao jornalista, coletou os depoimentos dos principais jogadores. Confira:
"A preparação no dia-a-dia, especificamente nos treinos físicos e táticos, explica a boa campanha", opina Daniel Campos, que volta ao país depois de anos nos EUA.
"Não fazemos coisas mirabolantes na preparação. Trabalhamos de uma forma mais próxima do basquete. Não quero ser puxa-saco, mas temos um técnico que parece jogador", diz Fabrício.
"As coisas são mais bem definidas aqui. Sabemos o que fazer em cada instante da partida. Temos as explicações de como proceder", conta Lucas, que já passou pelo Ribeirão Preto, de Lula, treinador da seleção masculina principal.
"Nenhum técnico trabalha igual. O sistema é diferente, é gostoso de jogar", sintetiza Sobral, que disputou o Nacional deste ano pelo Minas, sob o comando de Flávio Davis, auxiliar de Lula.
"A seriedade da comissão técnica distingue o trabalho do São Bernardo dos outros clubes. Ninguém treina tanto como a nossa equipe", diagnostica Shilton, que jogou o primeiro semestre em Campos, time de Guerrinha, o outro assistente de Lula no Brasil.
Um a um, os rapazes do São Bernardo prestam reverência à atuação de Marcel, ex-jogador consagrado, hoje um técnico dissonante no basquete nacional.
O time será campeão? Duvido, pois lhe falta recurso. Pena, pois muitos se apegarão a isso para desqualificar o trabalho pioneiro no ABC -e o esporte seguirá perdendo para o rancor e a inação.

Miragem 1
"A CBB terá recursos [para a seleção masculina], nem que tenhamos de vender nosso carro", prometeu o presidente Gerasime Bozikis.

Miragem 2
A confederação anuncia que o Nacional rendeu mais de US$ 80 milhões em exposição de mídia. O Flamengo, "beneficiado" com US$ 21 milhões, desativou o deficitário departamento de basquete.

Miragem 3
O Nacional feminino não deve emplacar de novo na TV aberta.

Miragem 4
O diretor do novo time do Oscar é... o assessor de imprensa do Oscar.

E-mail melk@uol.com.br


Texto Anterior: Saiba mais: Manobra deu 6 anos de mandato em 1ª eleição
Próximo Texto: Futebol - Marcos Augusto Gonçalves: No cafofo e no campo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.