São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2000

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TÊNIS

Mercado é dominado por marcas estrangeiras, que viram suas importações explodirem com o crescimento do tenista

País do nš 1, Brasil não produz raquetes

DA REPORTAGEM LOCAL

País de Gustavo Kuerten, melhor tenista da atualidade e primeiro a fechar o ano no topo da Corrida, o novo ranking do tênis mundial, o Brasil está longe de se tornar uma pátria de raquetes.
Não há no país uma única fábrica do principal equipamento necessário para a prática do esporte e, segundo especialistas, não existe a mínima chance de relançamento de uma marca nacional.
Os motivos apontados vão desde a desvalorização do real em relação ao dólar até a concorrência com o forte esquema de marketing das marcas importadas.
Entre as pessoas ouvidas pela Folha, o único que não soube dar um diagnóstico para o problema foi justamente o principal dirigente da modalidade no país.
"Sinceramente, é uma pergunta que não sei responder", disse Nelson Nastás, presidente da CBT (Confederação Brasileira de Tênis). "Hoje, o mercado de raquetes no Brasil está nas mãos de empresas estrangeiras. Não temos indústria nacional, o que torna o tênis um esporte mais caro."
A última marca de raquetes a ser fabricada no país foi a Prince, que teve sua linha de produção desativada na metade da década.
Desde então, as pessoas que procuram raquetes em lojas esportivas só encontram produtos importados. Para adultos, os preços variam de R$ 70 a R$ 500.
Sem opções, as lojas, por sua vez, recorrem às importadoras.
Nos últimos anos, com a evolução constante de Kuerten no circuito mundial, a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento, detectou uma explosão nas importações de raquetes pelo país (veja quadro abaixo).
Neste ano, o Brasil deve comprar quase quatro vezes mais raquetes do que em 1996, ano anterior à primeira conquista de Kuerten em Roland Garros.
"Há dez anos, havia pelo menos seis marcas nacionais de raquetes, muitas produzidas em Manaus", declarou Jairo Garbi, dono da Raquetes, Cordas & Cia, loja de São Paulo especializada em tênis. "Hoje não há mais nenhuma raquete nacional. Ficaria muito caro produzir um produto de qualidade, já que todos os materiais teriam que ser importados."
Distribuidor exclusivo das marcas Dunlop e Slazenger no Brasil, Alexandre Silva acredita que o mercado do país não justifica uma fábrica de raquetes.
"O custo de fabricação é muito alto. O investimento não compensa", afirmou o empresário.
Segundo ele, a alta na cotação do dólar, no início do ano passado, provocou um recuo nas importações, que só voltaram a reagir em 2000. Outro problema, para ele, é a política de impostos dos governos federal e estadual.
"A gente paga 23% de imposto de importação, 25% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), mais 20% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)", afirma. "Se o governo diminuísse essas taxas, as raquetes ficariam baratas, e o tênis estouraria no país."
Se não existe produção de raquetes no país, a situação não é muito diferente quanto às bolinhas de tênis. Há, no país, duas fábricas, mas nenhuma das marcas -LCM e Spin- é oficializada pela CBT ou pela ITF, a federação internacional da modalidade.
"Atualmente, 85% do mercado nacional é de bolas importadas. O mercado da bolinha feita no Brasil é marginal. Não existe interesse dos fabricantes de matérias-primas em melhorar seus produtos", afirmou Luís Carlos Rioiti, proprietário da LCM, que funciona em Presidente Venceslau (635 km a oeste de São Paulo).
Para José Osvaldo Osti, da concorrente Spin, de Jundiaí, também no interior paulista, há uma outra questão: "Os lojistas têm um preconceito forte em relação ao produto nacional".
Devido à dificuldade de concorrer com as marcas importadas, Osti buscou um novo nicho. Suas bolas não são vendidas em tubos, mas em baldes, com 72 unidades.
"Nossas bolas são dirigidas aos professores de clubes", afirmou.
Questionado sobre a falta de um fabricante de raquetes no país, Osti é direto. "Não compensa. Falando inglês e com um fax, eu trago raquete de monte pra cá, sem problemas de encargos trabalhistas, matérias-primas..." (FÁBIO SEIXAS)

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