São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2000

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BASQUETE

A fraude da Paraolimpíada

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O jornalista espanhol Carlos Ribagorda andava com o saco na lua e a cabeça na quadra.
O redator da revista "Capital" venera o basquete. Mas, como eu, e provavelmente como você, não tem talento e capacidade física para sobreviver da bola laranja.
Ribagorda, no entanto, não aguentava mais a rotina das letras, da luz do computador.
Teve, então, uma idéia espetacular. E, com a anuência de dirigentes do esporte da Espanha, levou a cabo uma das maiores fraudes da história olímpica.
Em texto publicado há duas semanas, o jornalista revelou como trocou o fastio da redação pelos holofotes da Paraolimpíada de Sydney, o maior evento esportivo já organizado para deficientes.
Ao lado de outros nove aficionados pelo basquete, todos com saúde perfeita, Ribagorda foi aprovado em 1998 na "peneira" que definiu a seleção nacional de deficientes mentais.
O grupo não precisou apresentar documentos que atestassem o "handicap". Recebeu a garantia dos cartolas de que também não seriam examinados em Sydney.
Foi a primeira vez que os Jogos Paraolímpicos abriram espaço para os deficientes mentais (DMs), pessoas com menos de 75 no teste de Quociente de Inteligência -o índice médio do adulto brasileiro gira em torno de 95.
Na Austrália, o "Dream Team" espanhol não tomou conhecimento dos adversários. Foram cinco vitórias em cinco confrontos, por uma margem média de 37 pontos.
A imprensa ficou extasiada. A ponto, segundo Ribagorda, de os jogadores terem recebido a orientação para "reduzir o ritmo".
Mesmo em marcha lenta, a seleção venceu com folga a disputa do ouro, diante dos russos, 87 x 63. A festa, com pompa, rolou ao lado da família real do país.
Com 200 atletas, a Espanha conquistou 107 medalhas (39 ouros, 30 pratas e 38 bronzes) e terminou na terceira posição da classificação geral, atrás apenas da Austrália e da Grã-Bretanha. Foi o melhor desempenho paraolímpico do país, celebrado com um desfile pelas ruas de Madri.
Ribagorda contou em seu artigo que pelos menos 15 atletas que competiram em outubro não eram DMs de verdade. Além do basquete, teriam participado da fraude as delegações do tênis de mesa, da natação e do atletismo.
No princípio, a denúncia foi recebida com reservas. O Comitê Paraolímpico Espanhol (CPE) desdenhou, falou em "trote".
Mas o castelo caiu rápido.
Na terça-feira, uma sindicância foi instalada, com a bênção do espanhol Juan Antonio Samaranch, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI).
E, já na quinta-feira, o vice-presidente do CPE renunciou. Fernando Martín Vicente era o responsável pelas seletivas dos atletas deficientes. Falou em "erro na análise psicológica", disse que "não houve má-fé" e assumiu "total responsabilidade".
O COI vai esperar o resultado das investigações para definir eventuais punições e a cassação da medalha. Ribagorda voltou à vida da redação. Afirmou que, a partir de agora, vai se restringir a depor ao tribunal do CPE.
E, em seu primeiro testemunho, levantou suspeitas sobre a equipe de outros países. Citou o Brasil.

Vexame 1
O Estadual masculino do Rio chegou à fase final com somente dois árbitros. O terceiro, Vander Lobosco, aposentou-se em plena partida na semana passada (Flamengo x Municipal). A Federação pediu socorro a juízes de outros Estados para tocar os confrontos do mata-mata.

Vexame 2
Os playoffs no Rio começaram no domingo, com Flamengo x Vasco e quase ninguém nas arquibancadas. Pudera, o clássico foi marcado para o meio-dia...

Vexame 3
Maior jogadora do Brasil, Janeth torceu o tornozelo em um jogo no Maracanãzinho, na semana passada. Não havia médico no ginásio para atendê-la. A atleta vascaína precisou do auxílio de torcedores para buscar gelo na rua a fim de controlar o edema.

E-mail: melk@uol.com.br

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