São Paulo, terça-feira, 05 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SONINHA

Um jogo só

Em uma única partida, um imenso desnível pode ser igualado e um relativo equilíbrio pode desaparecer

GRACINHAS do futebol: às vésperas de tentar ser campeão do mundo, o campeão da América é goleado em casa, diante do maior público da rodada. Acontece. Até que o Inter lidou bem demais com a condição de ter um título importante + a expectativa de ganhar outro...
E o Inter "tem time", como se costuma dizer, para ganhar do Barcelona? O Inter tem um bom conjunto.
E alguns jogadores realmente muito bons. O Alexandre Pato provavelmente é um deles... (Não por ter feito ótima partida diante do Palmeiras em sua estréia no time principal -como disse um torcedor engraçadinho, treino é treino e jogo é jogo).
Provavelmente não venceria um campeonato por pontos corridos contra o Barça, mas pode derrotá-lo em uma partida.
Anteontem o time catalão parou no Levante (1x1)... "Espera aí, Ronaldinho não jogou." Então quer dizer que o líder do campeonato só é capaz de superar o 16º colocado se tiver o Gaúcho em campo?
O fato é que, mesmo não estando muito folgado na liderança do Espanhol (agora tem só um ponto a mais que o Real e dois a mais que o Sevilla), o Barça jogou muito mais preocupado com outra competição: a Copa dos Campeões. Precisa vencer o Werder Bremen para não ser eliminado ainda na fase de grupos -algo que nunca aconteceu a uma equipe defendendo o título. Imagine o quanto o peso dessa possibilidade trava as pernas dos atletas. (Os alemães só precisam de um empate.)
Se for eliminado, o Barcelona pode chegar ao Mundial mais interessado ainda, tinindo de indignação, ou deprimido. Se eu fosse colorada, na dúvida, torceria hoje pelo Barça (eu vou torcer de qualquer jeito).
No site da Uefa, Graham Hunter analisa como a equipe chegou a essa posição arriscada e enumera fatores que nos parecem familiares. Por exemplo, "o impacto da exaustiva turnê de pré-temporada pós-Copa do Mundo, que começou na Dinamarca e "zapeou" por México, Estados Unidos e Espanha, até terminar em Montecarlo". O desgaste resultante de poucos treinamentos, longas viagens e jogos promocionais não combina com a idéia de alcançar forma técnica e física. "Devido ao fuso horário, às vezes só conseguíamos dormir três ou quatro horas por noite", contou Eto'o, que chegou a apelar para soníferos... Aliás, as ausências de Eto'o, Messi e Saviola ajudam a explicar o momento crítico. Mesmo com todos os problemas, o Barça podia ter vencido no sábado.
Inúmeras chances foram criadas, especialmente no primeiro tempo -apesar da retranca e das faltinhas irritantes do Levante (queixas registradas no site oficial). O goleiro Molina fez boas defesas e os próprios atacantes desperdiçaram oportunidades. E podia ter perdido, porque o Levante também levou perigo em pelo menos quatro ocasiões, obrigando o goleiro Valdés a aparecer também. Ou seja: o placar de um jogo revela uma história e encobre inúmeras outras (e freqüentemente destoa do resto da temporada).
Se o Barcelona avançar na Copa dos Campeões -e só depende de "um jogo" porque nos outros cinco ele não se garantiu...-, a conclusão será que "atingiu o pico na hora certa". Se cair, que "pôs o marketing acima do futebol". Mesmo que jogue muito (e não vença "por azar").
Já o Inter podia pedir a comentaristas e torcedores que registrassem suas análises em cartório antes do torneio. Se chegar à final e, glória suprema, bater o Barcelona, as escolhas terão sido acertadas: demorar para fechar contrato com Alexandre Pato, escalá-lo contra o Palmeiras, poupá-lo contra o Goiás. Se perder a final, o que é absolutamente aceitável, tudo terá sido equivocado... Pode registrar meu veredicto: campeão no Japão ou não, o Inter teve um ano incrível.


soninha.folha@uol.com.br

Texto Anterior: Flamengo: Márcio Braga obtém reeleição à presidência
Próximo Texto: Abel vê Inter pior que na Libertadores
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.