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SONINHA
Um jogo só
Em uma única partida, um imenso desnível pode ser igualado e um relativo equilíbrio pode desaparecer
GRACINHAS do futebol: às vésperas de tentar ser campeão
do mundo, o campeão da
América é goleado em casa, diante
do maior público da rodada. Acontece. Até que o Inter lidou bem demais
com a condição de ter um título importante + a expectativa de ganhar
outro...
E o Inter "tem time", como se costuma dizer, para ganhar do Barcelona? O Inter tem um bom conjunto.
E alguns jogadores realmente muito
bons. O Alexandre Pato provavelmente é um deles... (Não por ter feito ótima partida diante do Palmeiras em sua estréia no time principal
-como disse um torcedor engraçadinho, treino é treino e jogo é jogo).
Provavelmente não venceria um
campeonato por pontos corridos
contra o Barça, mas pode derrotá-lo
em uma partida.
Anteontem o time catalão parou
no Levante (1x1)... "Espera aí, Ronaldinho não jogou." Então quer dizer
que o líder do campeonato só é capaz de superar o 16º colocado se tiver o Gaúcho em campo?
O fato é que, mesmo não estando
muito folgado na liderança do Espanhol (agora tem só um ponto a mais
que o Real e dois a mais que o Sevilla), o Barça jogou muito mais preocupado com outra competição: a Copa dos Campeões. Precisa vencer o
Werder Bremen para não ser eliminado ainda na fase de grupos -algo
que nunca aconteceu a uma equipe
defendendo o título. Imagine o
quanto o peso dessa possibilidade
trava as pernas dos atletas. (Os alemães só precisam de um empate.)
Se for eliminado, o Barcelona pode chegar ao Mundial mais interessado ainda, tinindo de indignação,
ou deprimido. Se eu fosse colorada,
na dúvida, torceria hoje pelo Barça
(eu vou torcer de qualquer jeito).
No site da Uefa, Graham Hunter
analisa como a equipe chegou a essa
posição arriscada e enumera fatores
que nos parecem familiares. Por
exemplo, "o impacto da exaustiva
turnê de pré-temporada pós-Copa
do Mundo, que começou na Dinamarca e "zapeou" por México, Estados Unidos e Espanha, até terminar
em Montecarlo". O desgaste resultante de poucos treinamentos, longas viagens e jogos promocionais
não combina com a idéia de alcançar
forma técnica e física. "Devido ao fuso horário, às vezes só conseguíamos dormir três ou quatro horas por
noite", contou Eto'o, que chegou a
apelar para soníferos... Aliás, as ausências de Eto'o, Messi e Saviola ajudam a explicar o momento crítico.
Mesmo com todos os problemas,
o Barça podia ter vencido no sábado.
Inúmeras chances foram criadas,
especialmente no primeiro tempo
-apesar da retranca e das faltinhas
irritantes do Levante (queixas registradas no site oficial). O goleiro Molina fez boas defesas e os próprios
atacantes desperdiçaram oportunidades. E podia ter perdido, porque o
Levante também levou perigo em
pelo menos quatro ocasiões, obrigando o goleiro Valdés a aparecer
também. Ou seja: o placar de um jogo revela uma história e encobre
inúmeras outras (e freqüentemente
destoa do resto da temporada).
Se o Barcelona avançar na Copa
dos Campeões -e só depende de
"um jogo" porque nos outros cinco
ele não se garantiu...-, a conclusão
será que "atingiu o pico na hora certa". Se cair, que "pôs o marketing
acima do futebol". Mesmo que jogue
muito (e não vença "por azar").
Já o Inter podia pedir a comentaristas e torcedores que registrassem
suas análises em cartório antes do
torneio. Se chegar à final e, glória suprema, bater o Barcelona, as escolhas terão sido acertadas: demorar
para fechar contrato com Alexandre
Pato, escalá-lo contra o Palmeiras,
poupá-lo contra o Goiás. Se perder a
final, o que é absolutamente aceitável, tudo terá sido equivocado...
Pode registrar meu veredicto:
campeão no Japão ou não, o Inter
teve um ano incrível.
soninha.folha@uol.com.br
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