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FUTEBOL
Ouro de tolo
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
O Brasil estréia amanhã no
Chile, em mais uma tentativa de conquistar a medalha de
ouro olímpica, feito que ainda
falta ao nosso futebol. Na verdade
nunca ninguém deu muita bola
para isso, mas, de tempos para cá,
ganhar uma Olimpíada veio se
transformando numa pequena
obsessão nacional.
Creio que foi Zagallo o maior
responsável pela idéia de bombar
a corrida pelo ouro. O Velho Lobo
bem que tentou em 1996, mas não
deu. Em 2000, foi a vez de Luxemburgo quebrar a cara. Se tivesse
levado a medalha, talvez seu destino, mesmo com todos os chamados "problemas pessoais", tivesse
sido outro. Na verdade, fez bem a
CBF ao escolher agora um treinador para a Olimpíada diferente
daquele da seleção principal. Não
faz sentido gerar desgastes e crises
na frente das eliminatórias por
conta de um eventual fracasso na
frente olímpica.
Provavelmente se o Brasil já tivesse ganhado o ouro, essa papagaiada não existiria. Embora o
futebol tenha sido a primeira modalidade coletiva de uma Olimpíada, estando presente em todas
as edições da era moderna, todos
sabemos que o título olímpico é
pouco valorizado pelo torcedor
aqui e em outros países.
Basta ver a lista dos campeões
olímpicos para entender a importância do negócio. Entre eles figuram Bélgica, Iugoslávia, Polônia,
Tchecoslováquia, Alemanha
Oriental, Camarões, Nigéria. Enfim, países do segundo ou terceiro
time no esporte bretão. Dos que já
venceram Copas do Mundo, apenas Inglaterra, França, Uruguai e
Itália conseguiram o ouro. Sendo
que a Inglaterra ganhou em 1908
e 1912, o Uruguai em 1924 e 1928 e
a Itália em 1936 -portanto no
tempo do futebol a lenha. A França ficou com o ouro em 1984.
Há muita gente, a começar pela
Fifa e pelos clubes, que gostaria de
ver o futebol fora da Olimpíada.
Na realidade, o esporte mais popular do mundo acabou por criar
um sistema próprio de torneios e
títulos de tal forma bem-sucedido
que poderia perfeitamente ficar
só com ele.
Se um jogador de vôlei ou de
basquete em geral vê na medalha
olímpica um troféu até mais valioso do que o de um Mundial, o
de futebol sabe que há coisas muito mais importantes a ganhar. A
medalha olímpica para um craque de futebol é ouro de tolo perto
de uma Copa do Mundo, de uma
Eurocopa, de um Mundial de
Clubes ou mesmo de um bom
campeonato nacional. Não vai
ser uma Olimpíada que irá distingui-lo em sua carreira.
Sendo assim, é natural que a Fifa encare esse torneio mais como
uma encrenca do que como uma
festa. Os clubes, que no final das
contas bancam os craques e sustentam o futebol, já têm problemas para ceder jogadores para as
seleções principais. No caso de
torneios pré-olímpicos e olímpicos, a má vontade é muito maior.
E com toda a razão.
Como muitos brasileiros entraram nessa onda de ganhar o ouro
-o que até seria divertido- tem
gente que critica as restrições impostas pelos clubes. Mas pensando bem, não dá para reclamar.
O que vai valer
O fato de que a Olimpíada não
seja lá grande coisa quando se
trata de futebol não anula a
vontade de ver a nova geração
do Brasil ganhando o ouro em
Atenas. Seria um prazer. Estamos numa situação bastante
privilegiada, com ótimos atletas amadurecidos, muitos em
condições de jogar mais uma
Copa, e uma belíssima safra de
talentos aparecendo e confirmando as avaliações mais otimistas. Como os mais velhos
nós já conhecemos, a torcida
geral é que os mais novos arrebentem. O que o torcedor quer
ver logo é o início de uma renovação. É Robinho no mesmo time de Ronaldo. Um título
olímpico certamente colocaria
essa turma num patamar mais
alto e provavelmente precipitaria -ou facilitaria bem- mudanças na equipe principal.
E-mail mag@folhasp.com.br
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