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BASQUETE
Eureca
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Que figuraça! Pouco mais
de 1,70 m, pouco menos de
60 kg. Sempre de jaquetão azul-marinho, boina xadrez e cigarro
esmagado entre os dentes.
Daniel Biasone era dono de um
complexo de lazer. Sala de cinema, anfiteatro, ginásio, restaurante e -o grande sucesso de público- pista de boliche.
A cidade de Syracuse, quando
queria se divertir, pedia licença
ao adorável italianinho. Que retribuía com sorrisos, canções da
terra natal e balas de alcaçuz.
Até o começo da década de 40,
Biasone também sustentou um time semiprofissional de futebol
americano. Não se importava
com a modalidade, nem mesmo
compreendia as regras. Só queria
a aprovação do novo país, que lhe
digerissem o sucesso imigrante.
A Segunda Guerra Mundial,
porém, não deixara homens suficientes na cidade para completar
as vinte e poucas posições.
Contudo era fundamental
manter um time. Os duelos com
os atletas da vizinha Rochester faziam muito bem aos negócios.
Daí, o basquete. Bastava meia
dúzia de gatos pingados, afinal.
O adversário, todavia, refugou.
Considerava tolice acionar a estrelada equipe local, que disputava a National Basketball League.
Inconformado, o italianinho foi
à direção da liga (o embrião da
hoje todo-poderosa NBA) e, em
1946, comprou por US$ 1.000 uma
vaga na competição. Só para
manter viva a rivalidade regional
no interior de Nova York.
Biasone pouco tinha relado na
bola laranja. Por superstição, ou
receio das pilhérias, preferiu
manter distância dela depois de
abraçar de vez o esporte.
No entanto, afora o canadense
James Naismith, autor das 13 regras originais, não existe outro
personagem tão importante para
a história do basquete como o
empresário nascido em Abruzzo.
Em 1954, Biasone bateu de novo
à porta da cúpula da liga. Preocupava-se. Ano a ano, a torcida
minguava no ginásio de Syracuse.
Para o neófito, era culpa da dinâmica do jogo. Os times embaçavam demais para arremessar.
O fã ficava sem ter o que celebrar.
Em novembro de 1950, por
exemplo, para não correr riscos
diante do craque gigante George
Mikan, o Fort Wayne decidiu fazer guerra de nervos e segurar impassivelmente a bola. Chutou
apenas 13 vezes à cesta. E se deu
bem. Ganhou do favorito Minneapolis por 19 a 18. Sim, 19 a 18!
O beisebol não tem três "outs"
por período? O futebol americano
não prevê quatro "downs" a cada
ação ofensiva? Ora, por que não
regular as posses de bola no basquete?, indagou Biasone. Por que
não impor à equipe um limite de
tempo para tentar pontuar?
O dono do Syracuse apresentou,
então, sua proposta, rascunhada
em um guardanapo de papel.
"Um jogo tem 48 minutos, ou
2.880 segundos. Pelos meus cálculos, o time da NBA chuta em média 60 bolas por partida, o que dá
120 arremessos. Dividindo 2.880
por 120, dá 24 segundos, tempo
suficiente para armar o ataque."
Há exatos 50 anos, Danny Biasone concebeu o cronômetro de 24
segundos e zerou o calendário do
esporte que nasceu para brilhar a
cada tique, a cada taque.
Ampulheta 1
O campeonato 54/55, o primeiro submetido ao cronômetro de Biasone, registrou 186 pontos por partida, 27 a mais do que o anterior.
Ampulheta 2
Para o deleite do inventor, e a inveja de seus detratores, o título dessa
revolucionária temporada da NBA ficou em Syracuse.
Ampulheta 3
"Não o seguramos três meses só para vê-lo comer", declarou o técnico Gregg Popovich. Finalmente liberado para os treinos, após amargar uma fratura no pé esquerdo, o armador brasileiro Alex Garcia
tem até este sábado para convencer o San Antonio a chancelar até junho seu contrato -que é de US$ 367 mil.
E-mail melk@uol.com.br
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