São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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BASQUETE

Eureca

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Que figuraça! Pouco mais de 1,70 m, pouco menos de 60 kg. Sempre de jaquetão azul-marinho, boina xadrez e cigarro esmagado entre os dentes.
Daniel Biasone era dono de um complexo de lazer. Sala de cinema, anfiteatro, ginásio, restaurante e -o grande sucesso de público- pista de boliche.
A cidade de Syracuse, quando queria se divertir, pedia licença ao adorável italianinho. Que retribuía com sorrisos, canções da terra natal e balas de alcaçuz.
Até o começo da década de 40, Biasone também sustentou um time semiprofissional de futebol americano. Não se importava com a modalidade, nem mesmo compreendia as regras. Só queria a aprovação do novo país, que lhe digerissem o sucesso imigrante.
A Segunda Guerra Mundial, porém, não deixara homens suficientes na cidade para completar as vinte e poucas posições.
Contudo era fundamental manter um time. Os duelos com os atletas da vizinha Rochester faziam muito bem aos negócios. Daí, o basquete. Bastava meia dúzia de gatos pingados, afinal.
O adversário, todavia, refugou. Considerava tolice acionar a estrelada equipe local, que disputava a National Basketball League.
Inconformado, o italianinho foi à direção da liga (o embrião da hoje todo-poderosa NBA) e, em 1946, comprou por US$ 1.000 uma vaga na competição. Só para manter viva a rivalidade regional no interior de Nova York.
Biasone pouco tinha relado na bola laranja. Por superstição, ou receio das pilhérias, preferiu manter distância dela depois de abraçar de vez o esporte.
No entanto, afora o canadense James Naismith, autor das 13 regras originais, não existe outro personagem tão importante para a história do basquete como o empresário nascido em Abruzzo.
Em 1954, Biasone bateu de novo à porta da cúpula da liga. Preocupava-se. Ano a ano, a torcida minguava no ginásio de Syracuse.
Para o neófito, era culpa da dinâmica do jogo. Os times embaçavam demais para arremessar. O fã ficava sem ter o que celebrar.
Em novembro de 1950, por exemplo, para não correr riscos diante do craque gigante George Mikan, o Fort Wayne decidiu fazer guerra de nervos e segurar impassivelmente a bola. Chutou apenas 13 vezes à cesta. E se deu bem. Ganhou do favorito Minneapolis por 19 a 18. Sim, 19 a 18!
O beisebol não tem três "outs" por período? O futebol americano não prevê quatro "downs" a cada ação ofensiva? Ora, por que não regular as posses de bola no basquete?, indagou Biasone. Por que não impor à equipe um limite de tempo para tentar pontuar?
O dono do Syracuse apresentou, então, sua proposta, rascunhada em um guardanapo de papel. "Um jogo tem 48 minutos, ou 2.880 segundos. Pelos meus cálculos, o time da NBA chuta em média 60 bolas por partida, o que dá 120 arremessos. Dividindo 2.880 por 120, dá 24 segundos, tempo suficiente para armar o ataque."
Há exatos 50 anos, Danny Biasone concebeu o cronômetro de 24 segundos e zerou o calendário do esporte que nasceu para brilhar a cada tique, a cada taque.

Ampulheta 1
O campeonato 54/55, o primeiro submetido ao cronômetro de Biasone, registrou 186 pontos por partida, 27 a mais do que o anterior.

Ampulheta 2
Para o deleite do inventor, e a inveja de seus detratores, o título dessa revolucionária temporada da NBA ficou em Syracuse.

Ampulheta 3
"Não o seguramos três meses só para vê-lo comer", declarou o técnico Gregg Popovich. Finalmente liberado para os treinos, após amargar uma fratura no pé esquerdo, o armador brasileiro Alex Garcia tem até este sábado para convencer o San Antonio a chancelar até junho seu contrato -que é de US$ 367 mil.

E-mail melk@uol.com.br


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