UOL


São Paulo, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Vícios, ídolos e antídotos

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

O caso Giba continua repercutindo na imprensa esportiva. Li muitas opiniões contra a pena de suspensão, considerando que ele não deveria ser proibido de jogar por ter usado maconha (que não melhora o desempenho de esportista nenhum).
Agora, se os atletas têm de ser uma referência -volto a isso depois-, o que dizer dos jornalistas? Não têm a obrigação de fornecer informações corretas e contribuir para o esclarecimento de pontos obscuros? Pois alguns fazem o contrário.
Não sei se é a força do hábito, desinformação ou uma equivocada tentativa de colaborar com as campanhas antidrogas, mas muitos cravaram um diagnóstico se referindo a Giba como "doente". Como ele obviamente não se enquadra na outra categoria normalmente reservada aos que usam ou usaram maconha ("marginal"), só lhe restou a hipótese da doença...
Pior ainda é o vocabulário usado em alguns casos -matéria no "Globo" dizia que "outros esportistas já sucumbiram ao vício" ou coisa parecida. Vício, para começar, é o oposto de virtude; no Aurélio, é "defeito grave (...); inclinação para o mal; conduta ou costume nocivo ou condenável". Um julgamento moral, portanto. Usar a palavra como sinônimo de dependência -que é, sim, uma doença- é lamentável. Um vício!
Supor que o Giba é "viciado" ou dependente é tão precipitado quanto ver alguém com um copo de cerveja na mão e deduzir que é alcoólatra. Talvez ele precise mesmo de apoio e tratamento psicológico, mas provavelmente para entender por que se arriscou a descumprir uma regra e pôr em risco a própria carreira. Porque estou para ver um dependente que consiga ter um desempenho atlético como o dele...
A maconha é detectada no exame de doping porque o movimento olímpico entende que tem de "cuidar da saúde e proteger o modelo do atleta". Além da hipocrisia mencionada pelo Tostão -esportistas de alto rendimento submetem o próprio corpo a provações que dificilmente chamaríamos de saudáveis, e se eles usarem uma droga social como a nicotina, tudo bem, o antidoping não discrimina- há algo mais grave.
Quando se diz que o atleta tem de ser um modelo e que o Giba agora teria se transformado em um mau exemplo para os jovens, estamos inadvertidamente endossando um outro comportamento que traz muitos danos à sociedade: a idolatria. Ou a idolatria cega, se é que isso não é redundância.
Todos têm seus modelos e referências, e isso é natural. Mas não devemos incentivar as pessoas a acreditar que os seus ídolos são perfeitos. Que tudo neles é lindo. Os jovens devem ser incentivados, sim, a reconhecer o que é admirável e o que não é e a resistir à tentação de imitar qualquer bobagem que o ídolo faça -seja ele o irmão mais velho, um cantor de sucesso ou um esportista.
Devemos proteger nossos filhos da idolatria. Da tendência de engolir qualquer sugestão, explícita ou inferida; de transferir a admiração pelo ídolo para uma cerveja... Ou seja: devemos educar para a responsabilidade e o espírito crítico. Dizer que o ídolo tem de ser perfeito, senão os jovens vão se desencaminhar, é assinar embaixo da leviandade e da tentação de atribuir aos outros a responsabilidade pelo que você é e faz.
Jovem, diga não à idolatria!
A falta de espírito crítico é uma droga.

Começou
Pela tabela do Nacional, o Flu pega o Coritiba no Paraná, às 20h30 do dia 17 de julho, e o Santos, às 16h do dia 19, no Rio. Sindicato dos Atletas, não dá 48 horas de intervalo!

Modernidade
Em seu site, a CBF lembrou que desenvolve "há dois anos e três meses, em parceria com a FGV -reconhecida mundialmente por sua seriedade e competência- o Plano de Modernização do Futebol Brasileiro, onde alia ciência e futebol". Êta plano difícil de pôr em prática.

Moleza
Taxa de agenciamento de 25%, como o COB paga à IMG, é muito, mesmo que seja praxe -mais ainda quando um patrocínio vem por iniciativa do patrocinador, como a Petrobras. Tenho certeza de que esse dinheiro poderia render mais ao esporte.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Bem das pernas
Próximo Texto: Tênis: Sá deve ser "bola da vez" do Brasil na Davis
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.