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FUTEBOL
Vícios, ídolos e antídotos
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
O caso Giba continua repercutindo na imprensa esportiva. Li muitas opiniões contra a pena de suspensão, considerando
que ele não deveria ser proibido
de jogar por ter usado maconha
(que não melhora o desempenho
de esportista nenhum).
Agora, se os atletas têm de ser
uma referência -volto a isso depois-, o que dizer dos jornalistas? Não têm a obrigação de fornecer informações corretas e contribuir para o esclarecimento de
pontos obscuros? Pois alguns fazem o contrário.
Não sei se é a força do hábito,
desinformação ou uma equivocada tentativa de colaborar com as
campanhas antidrogas, mas muitos cravaram um diagnóstico se
referindo a Giba como "doente".
Como ele obviamente não se enquadra na outra categoria normalmente reservada aos que usam ou usaram maconha
("marginal"), só lhe restou a hipótese da doença...
Pior ainda é o vocabulário usado em alguns casos -matéria no
"Globo" dizia que "outros esportistas já sucumbiram ao vício" ou
coisa parecida. Vício, para começar, é o oposto de virtude; no Aurélio, é "defeito grave (...); inclinação para o mal; conduta ou costume nocivo ou condenável". Um
julgamento moral, portanto. Usar
a palavra como sinônimo de dependência -que é, sim, uma
doença- é lamentável. Um vício!
Supor que o Giba é "viciado" ou
dependente é tão precipitado
quanto ver alguém com um copo
de cerveja na mão e deduzir que é
alcoólatra. Talvez ele precise mesmo de apoio e tratamento psicológico, mas provavelmente para
entender por que se arriscou a
descumprir uma regra e pôr em
risco a própria carreira. Porque
estou para ver um dependente
que consiga ter um desempenho
atlético como o dele...
A maconha é detectada no exame de doping porque o movimento olímpico entende que tem de
"cuidar da saúde e proteger o modelo do atleta". Além da hipocrisia mencionada pelo Tostão -esportistas de alto rendimento submetem o próprio corpo a provações que dificilmente chamaríamos de saudáveis, e se eles usarem
uma droga social como a nicotina, tudo bem, o antidoping não
discrimina- há algo mais grave.
Quando se diz que o atleta tem
de ser um modelo e que o Giba
agora teria se transformado em
um mau exemplo para os jovens,
estamos inadvertidamente endossando um outro comportamento que traz muitos danos à sociedade: a idolatria. Ou a idolatria cega, se é que isso não é redundância.
Todos têm seus modelos e referências, e isso é natural. Mas não
devemos incentivar as pessoas a
acreditar que os seus ídolos são
perfeitos. Que tudo neles é lindo.
Os jovens devem ser incentivados,
sim, a reconhecer o que é admirável e o que não é e a resistir à tentação de imitar qualquer bobagem que o ídolo faça -seja ele o
irmão mais velho, um cantor de
sucesso ou um esportista.
Devemos proteger nossos filhos
da idolatria. Da tendência de engolir qualquer sugestão, explícita
ou inferida; de transferir a admiração pelo ídolo para uma cerveja... Ou seja: devemos educar para
a responsabilidade e o espírito
crítico. Dizer que o ídolo tem de
ser perfeito, senão os jovens vão se
desencaminhar, é assinar embaixo da leviandade e da tentação de
atribuir aos outros a responsabilidade pelo que você é e faz.
Jovem, diga não à idolatria!
A falta de espírito crítico é uma
droga.
Começou
Pela tabela do Nacional, o Flu
pega o Coritiba no Paraná, às
20h30 do dia 17 de julho, e o
Santos, às 16h do dia 19, no
Rio. Sindicato dos Atletas,
não dá 48 horas de intervalo!
Modernidade
Em seu site, a CBF lembrou
que desenvolve "há dois anos
e três meses, em parceria com
a FGV -reconhecida mundialmente por sua seriedade e
competência- o Plano de
Modernização do Futebol
Brasileiro, onde alia ciência e
futebol". Êta plano difícil de
pôr em prática.
Moleza
Taxa de agenciamento de
25%, como o COB paga à
IMG, é muito, mesmo que seja praxe -mais ainda quando um patrocínio vem por
iniciativa do patrocinador,
como a Petrobras. Tenho certeza de que esse dinheiro poderia render mais ao esporte.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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