São Paulo, domingo, 06 de março de 2005

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FUTEBOL

Melhor do mundo, italiano, 45, já atingiu idade limite para árbitros

Às do apito, Collina tenta evitar vermelho em junho

JASON HOROWITZ
DO "NEW YORK TIMES"

Pierluigi Collina, estrela italiana de maior sucesso no futebol, nunca esteve perto de fazer um gol.
O olhar penetrante e a careca reluzente fizeram dele um dos rostos mais famosos no esporte mais popular do planeta. Não como um jogador, mas como árbitro.
"Isto não é sempre útil", afirmou o consultor financeiro Collina, 45, sobre sua distinta cabeça, que o faz ser chamado desde Nosferatu até "Careca Luminosa". "Se você fizer um mau trabalho, todo mundo vai saber que é você."
Mas, no final das contas, Collina não tem desempenho ruim. A Fifa o elegeu como o melhor árbitro de seis das sete últimas temporadas, período em que ele apitou a final da Copa e de outros torneios.
A maneira como controla o jogo e a firmeza com que lida com as mais mimadas estrelas faz dele um ídolo para milhões de fãs.
Na Olimpíada de Atlanta-96, o time inteiro da China veio até o italiano após o jogo atrás de autógrafos e fotos. "Até um jogador contundido deixou o banco."
Mas, apesar da badalação, esta pode ser sua última temporada. A Fifa e a federação italiana têm como limite de idade para árbitros 45 anos, o que significa que Collina, que fez aniversário em fevereiro, será efetivamente aposentado ao final da temporada, em junho.
"Se eles não mudarem as regras será uma vergonha, já que Collina é um verdadeiro tesouro para o esporte", disse Tullio Lanese, presidente da associação de árbitros da Itália, que faz lobby para aumentar o limite para 48 anos.
Collina se recusa a dissertar sobre o assunto, mas em seu livro, "As Minhas Regras do Jogo", escreveu que a perspectiva de parar deixa "um sabor amargo na boca" e que discriminar os árbitros pela idade é "uma pena".
Intensamente centrado na arbitragem, que rende a ele mais de US$ 200 mil (R$ 530 mil) por ano, Collina malha quatro dias por semana. Antes de um jogo, ele também lê sobre os jogadores e gasta mais de 15 horas vendo vídeos.
"Eu preciso saber tudo", diz ele. "Para um juiz, o importante não é reagir, mas saber o que vai acontecer. A reação é tardia."
Collina também afirma ter uma resistência inata à ansiedade.
A mistura de confiança e concentração motivaram corporações como a IBM e a Unilever a contratá-lo para desenvolver em seus funcionários habilidades para tomada de decisão.
Sua performance em campo, seu conhecimento em negócios e sua singular aparência o levaram para comerciais de TV, clipes musicais e até desfiles de moda.
Mas ele não é uma unanimidade. Torcedores da Juventus o acusam pela perda de jogos e títulos.
"Quanto mais você erra contra a Juventus, mais famoso você fica, e Collina quer a fama porque ele quer patrocínios e dinheiro", disse Sergio Vessicchio, criador do site "Eu Odeio o Collina", que registrou mais de 200 mil acessos nos últimos dois anos. "Ele erra mais do que qualquer outro, mas ninguém fala nada porque ele é considerado um patrimônio nacional. Dá um tempo."
Filho de uma professora e um funcionário público, Collina cresceu em Bolonha e estudou em um colégio de freiras. Aos 17 anos, apitou seu primeiro jogo.
Aos 24, passou a ser contestado por alguns atletas pela doença que provocava a queda dos pêlos do corpo. "Alguns pensaram que isso poderia ser um problema. Provei que não e ainda economizei com produtos antiqueda."
Trabalhando no Italiano desde 1991, costuma usar um apito prata e fica horas no vestiário esperando que torcedores insatisfeitos se cansem e voltem para casa.
A situação atual não anima Collina. "Se você está acostumado a tomar decisões não é fácil esperar que alguém as tome por você", declarou ele, que mais tarde foi repreendido por sua mulher por se atrasar para o almoço. "Em casa, o único que aceita minhas decisões é o cachorro."


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