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FUTEBOL
Para CPI da Câmara, depoimento de ontem do técnico prova ingerência da multinacional sobre a seleção brasileira
Luxemburgo diz que Nike exigiu Ronaldo
FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A CPI da CBF/Nike, instalada na
Câmara, obteve ontem a primeira
prova testemunhal para mostrar
que a multinacional de material
esportivo tem ingerência sobre a
seleção brasileira.
Em depoimento na comissão, o
ex-técnico do time nacional Wanderley Luxemburgo disse que um
funcionário da Nike pediu a ele
que escalasse o atacante Ronaldo
nos dois amistosos que a seleção
disputou na Austrália em 1999.
Na ocasião, Luxemburgo resolveu cortar Ronaldo porque a Inter
de Milão exigiu que seu jogador
disputasse apenas uma partida.
Com a ausência do astro, o dinheiro dos ingressos foi devolvido aos torcedores. Conforme revelou a Folha, a Nike desconsiderou os amistosos da cota de 50 jogos a que tem direito em dez anos.
"Em reunião na Austrália, a Nike me pediu para escalar Ronaldo
nas duas partidas porque a TV já
tinha comprado os jogos e os ingressos já tinham sido vendidos.
Eles me avisaram que poderia haver um problema com o Procon
deles (se Ronaldo não jogasse),
mas eu mantive minha posição de
cortá-lo", declarou o técnico do
Corinthians.
Luxemburgo desmentiu várias
vezes Ingo Ostrovsky e Amadeu
Garcia Jr., os executivos da multinacional que depuseram anteontem na CPI.
Os representantes da multinacional disseram aos deputados
que em nenhum momento da
parceria, que já dura quase cinco
anos, a Nike pediu a escalação de
qualquer jogador.
Outro ponto conflitante dos
dois depoimentos foi em relação à
participação de funcionários da
multinacional nas viagens da seleção. Segundo os executivos da
empresa, a função dos empregados da Nike durante as viagens é
cuidar do fornecimento de material esportivo aos atletas.
Já Luxemburgo afirmou em
Brasília que essa função era exercida exclusivamente pelo roupeiro da delegação. O técnico disse
que uma das funções dos empregados na Nike era ajudar os atletas que têm contrato com a empresa, como é o caso de Ronaldo.
Uma terceira contradição apontada pelos parlamentares diz respeito à participação da Nike na escolha dos adversários da seleção
nos jogos da empresa.
Segundo os representantes da
multinacional, nunca houve reunião com a comissão técnica.
A versão de Luxemburgo é diferente. "Conversávamos sempre
com o pessoal da Nike (sobre os
amistosos). Sentávamos eu, o
doutor Ricardo (Teixeira, presidente da CBF), o Candinho, o
Marco Antônio (Teixeira, secretário-geral da entidade) e o Marquinhos (Marcos Moura Teixeira, coordenador técnico) e representantes da Nike. O pessoal da
empresa vinha conversar. Nunca
tomei a decisão sozinho."
Os integrantes da CPI saíram
animados do depoimento, que
durou quase cinco horas.
"O Luxemburgo foi bastante
sincero e comprovou o que suspeitávamos. A relação da empresa
com o time transcende o contrato: há uma ingerência direta da
Nike sobre a seleção", disse Sílvio
Torres (PSDB-SP), relator da CPI.
A assessoria da Nike informou
que, para a empresa, o depoimento de Luxemburgo não contradiz
o que foi dito pelos representantes
da multinacional no dia anterior.
No episódio australiano, segundo a Nike, a empresa apenas
aguardou uma decisão do treinador e da comissão técnica para saber se devolveria ou não o dinheiro dos ingressos aos torcedores.
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