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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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Na sua defesa em ação movida por torcedor, entidade recomenda distância dos campos para maiores fãs da bola

Estádio não é lugar para menores, diz CBF

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A CBF adverte: Estádio de futebol é um lugar pouco recomendável para menores de idade.
Essa sugestão, um disparate para quem vive de organizar a mais popular modalidade esportiva do país, foi o mote principal de defesa da entidade em ação judicial movida pelo empresário Antonio Carlos Franchini Ribeiro.
Em novembro de 2000, ele levou seu filho Gabriel, então com 13 anos, e outras três crianças ao jogo entre Brasil e Colômbia, no Morumbi, válido pelas eliminatórias sul-americanas. Comprou ingresso nas numeradas para todos, mas uma invasão de cerca de 500 torcedores no setor impediu que, por 40 minutos, ele e as crianças tivessem visão do campo e de um jogo sofrível -a seleção, ainda com Emerson Leão no comando, só venceu com um gol marcado nos acréscimos por Roque Júnior.
Sentindo-se desrespeitado, Franchini foi à Justiça e levou a melhor. Sentença do juiz Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira manda a CBF pagar R$ 50 mil ao empresário. Ainda cabe recurso, e a batalha nos tribunais, segundo previsão de advogados, pode durar ainda mais dois anos.
Mais do que uma inédita derrota judicial, o que marca o caso é a orientação da defesa da CBF, que também alega não ter culpa por não ter como evitar uma invasão de torcedores em um estádio.
Segundo a entidade, o clima de grosseria faz com que um estádio não seja o melhor lugar para se levar um menor. Ainda de acordo com a CBF, o que aconteceu com Gabriel é uma "lição de vida".
"Embora o fato seja desagradável, constitui-se em preciosa lição de vida ao filho do autor [Franchini" e aos demais menores, posto vivemos num país que não prima pela excelência e organização dos serviços público em geral, sendo importante que os menores aprendam esta lição de vida sobre a realidade social que nos cerca", relatou a CBF em sua defesa.
"Essa afirmação da CBF parece até deboche", diz Martim de Almeida Sampaio, advogado que representou o empresário.
Segundo Sampaio, uma ação como essa não precisa de leis específicas que estão sendo discutidas, como a MP79 e o Estatuto do Torcedor. "Só o Código de Defesa do Consumidor já basta", diz.
O ocorrido deixou sequelas nos envolvidos. "Ele [Gabriel" continua gostando de futebol, mas nunca mais fomos ao estádio", reclama Franchini.

Alvo errado
Ao recomendar que um estádio não é lugar para "menores", a CBF despreza o público, que, segundo pesquisa feita pelo Datafolha, já entrou ou está perto de fazer parte do grupo etário que mais interesse tem por futebol.
De acordo com o levantamento, realizado no final do ano passado com 14.559 pessoas em 365 municípios de todos o país, 71% dos jovens entre 16 e 24 anos têm muito ou algum interesse pelo esporte mais popular do país.
À medida que envelhece, segundo o Datafolha, o brasileiro vai perdendo interesse pelo futebol. No grupo entre 35 e 44 anos, 63% mostram algum nível de atração pela modalidade. Entre os que já passaram dos 60, só 46% se encontram nessa posição.
Os jovens gostam mais também de opinar. Antes da escolha de Carlos Alberto Parreira para o comando da seleção brasileiro, 60% dos brasileiros pesquisados pelo Datafolha entre 16 e 24 anos tinham um candidato para o cargo, contra, por exemplo, 44% do grupo que vai dos 45 aos 59 anos.
"Com isso [a recomendação para os menores ficarem longe dos estádios], a CBF, no mínimo, está atrapalhando a formação do torcedor do futuro", diagnostica o empresário, que espera ter dado o exemplo para outros torcedores lesados. "Acho que o que aconteceu comigo vai abrir caminho para que mais gente conquiste seus direitos", afirma Franchini.



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