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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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FUTEBOL

Aprender e desaprender

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

São Paulo e Cruzeiro fazem o jogo mais atraente de hoje. São candidatos ao título e os que mais fizeram gols em 2003. O Cruzeiro fez 50 e sofreu 13. O São Paulo marcou 44 e levou 21 gols, segundo o "Estado de Minas".
Os dois times têm desenhos táticos parecidos, mas a defesa do Cruzeiro é melhor. A principal razão é a qualidade dos defensores. A outra é que o time mineiro alterna com mais eficiência o avanço dos laterais, dos armadores e dos laterais com o dos armadores.
Pena que Kaká estará ausente. Ele e Alex seriam as grandes atrações. Os dois ocupam a mesma posição, mas têm características diferentes. Alex é mais surpreendente e inventivo. Tem um passe mais rápido e preciso. É menor, mas cabeceia melhor.
Kaká é mais forte, alto, vibrante e veloz. Movimenta-se por todos os lados e é mais difícil de ser marcado. Ganha quase todas as divididas. Tem mais virtudes físicas e técnicas.
Kaká é Alex são disciplinados e bem comportados. Fazem os que os "professores" mandam. Isso é bom e ruim. Às vezes, o craque precisa discordar do treinador e ser contestador, mesmo que seja dócil e educado.
De vez em quando, por curiosidade e aprendizado, releio o que escrevi em outra época. Espanto-me com algumas coisas, tanto pela forma quanto pelo conteúdo. Mudei também alguns conceitos. Ainda bem. Viver é aprender e desaprender.
Em 1999, a seleção brasileira disputava a Copa América no Paraguai, vencida pelo Brasil. O treinador era Luxemburgo. Os quatro titulares que jogavam mais adiantados eram Zé Roberto, Rivaldo, Amoroso e Ronaldo. Todos continuam na seleção e somente Amoroso não é titular.
Alex e Ronaldinho eram reservas. Alex já era bem conhecido, e Ronaldinho uma novidade. Lembram do gol de placa contra a Venezuela? Escrevi nesta ocasião: "Alex e Ronaldinho não são titulares, mas já está escrito que os dois, Rivaldo e Ronaldo formarão o quarteto ofensivo da seleção". Só Alex não brilhou no Mundial.
Não disse isso porque o Ronaldinho tinha feito um gol de craque contra a Venezuela e sim porque ele tinha dado um show de bola e sido escolhido o melhor jogador do Mundial sub-17. Ele já era craque. Apenas ficou mais forte e com os cabelos compridos.
No ano seguinte, escrevi: "Ronaldinho e Alex não são ainda titulares, mas dos dois, Rivaldo e Ronaldo, o único que corre risco de não ir ao Mundial-2002 é o Ronaldo, por causa dos seus problemas físicos".
Ronaldinho e Alex brilharam no Pré-Olímpico e jogaram mal na Olimpíada. Alex perdeu prestígio e contrariou as insistentes previsões do comentarista. Ronaldinho se recuperou e foi destaque na Copa do Mundo.
Por causa de sua pouca mobilidade e atuar numa faixa estreita que vai do meio-campo à área, Alex era facilmente marcado. Vivia de belíssimas jogadas isoladas. Quando o seu time perdia, diziam que ele estava sonolento.
No Cruzeiro, Alex emagreceu e diminuiu a percentagem de gordura corporal. Está mais leve com mais mobilidade e velocidade. Porém os principais motivos de suas ótimas atuações são o de recuperar o prestígio e voltar à seleção. Não será fácil. Sempre que jogar mal, vão dizer que o Alex dormiu em campo. Depois de carimbado, é difícil apagar a marca.

O franzino Kaká
Em 2001, o São Paulo lançou dois jovens com estilos diferentes, Renatinho e Kaká, muito elogiados. Na época era Cacá. Escrevi: "Renatinho é baixinho e veloz. Cacá é alto, franzino e técnico. A razão e o bom senso me avisam que devo ficar calado sobre os dois. Posso me enganar. Mas a intuição me diz que Cacá será um jogador excepcional".
O franzino Cacá se tornou excepcional e muito mais forte, graças ao trabalho dos fisioterapeutas, fisiologistas e preparadores físicos do São Paulo. A mudança física foi fundamental na evolução técnica do jogador.

Volantes e brucutus
Nos últimos anos, um dos conceitos que mudei foi o de insistir que um time, mesmo com dois zagueiros, deveria ter apenas um volante. Com o tempo, percebi que o problema não era o número e sim a qualidade dos volantes.
Um volante brucutu, que apenas desarma e ou faz faltas e que não sabe dar um passe de 20 metros nem tem a mínima habilidade, é desnecessário; dois é péssimo; três é trágico.

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