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GINÁSTICA
Para romena, boom antecipado pode atrapalhar Brasil nos Jogos
Comaneci exalta Daiane, mas vê perigos em Atenas
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
As performances de Daiane dos
Santos despertaram a atenção do
"Pelé da ginástica". Nadia Comaneci irá incluir cenas das apresentações da brasileira num documentário sobre o esporte que prepara com o marido, o ex-ginasta
norte-americano Bart Conner.
A romena, que encantou o
mundo ao conquistar a primeira
nota dez na história da ginástica
em Montréal-76, feito que repetiu
seis vezes naqueles Jogos, ficou
impressionada com a força que
Daiane, 21, tem nas pernas.
A brasileira, com 1,45 m de altura, chega a saltar 2,80 m.
Em suas primeiras declarações
sobre a gaúcha, além de enaltecer
a força de suas pernas, a romena
lhe faz um alerta. O sucesso pré-Atenas deixa a brasileira em uma
situação muito diferente da que
tinha a própria Comaneci antes
da Olimpíada canadense.
Segundo a romena, ela e suas
companheiras de equipe chegaram a Montréal como "meras curiosidades, nada mais que isso".
"Pegamos o mundo de surpresa.
Eu já era uma grande atleta, mas
ninguém sabia disso nos EUA ou
no Canadá, todos esperavam ver
as conquistas das ginastas soviéticas e alemãs. Nós, romenas, éramos desconhecidas", conta.
Já Daiane -ou Dos Santos, como se refere à brasileira- hoje "é
conhecida fora da América do
Sul". "De um lado é bom, porque
os juízes que não conhecem uma
ginasta tendem a dar notas mais
baixas para ela do que dariam para uma atleta já renomada, mas de
outro é ruim, porque o elemento
surpresa não vai existir na Olimpíada de Atenas."
Além do ouro no solo conquistado anteontem no Rio, o quarto
em etapas da Copa do Mundo, a
brasileira levou outro em agosto
no Mundial, em Anaheim (EUA),
seu principal feito até aqui. Foi lá
que a "Perfect 10 Productions",
empresa de Comaneci, fez as filmagens para o documentário.
O filme, a ser lançado antes dos
Jogos de Atenas, que acontecem
entre 13 e 29 de agosto, tem a finalidade de mostrar a expansão da
ginástica em países que tinham
pouca tradição no esporte. Nele,
não só as atuações de Daiane, mas
o trabalho dos brasileiros na ginástica recebe elogios.
Comaneci atribui os resultados
ao Solidariedade Olímpica, programa do Comitê Olímpico Internacional que objetiva fomentar o
esporte ao redor do mundo. No
Brasil, a partir da segunda metade
dos anos 90 ginástica, boxe e canoagem foram ajudados com recursos do programa.
Vicélia Florenzano, presidente
da Confederação Brasileira de Ginástica, concorda com ela. "No
Brasil todos acham que nosso trabalho começou em 2001 com a Lei
Agnelo/Piva [a Lei Piva destina
2% das verbas das loterias para o
esporte olímpico e paraolímpico],
mas não foi. Antes disso já vínhamos trabalhando com os recursos
do Solidariedade Olímpica. Iniciamos a guinada em 1996", diz a
dirigente, que esteve com Comaneci no Mundial de Anaheim.
De acordo com Vicélia, graças
às verbas do programa foi possível contratar o técnico ucraniano
Oleg Ostapenko, responsável pela
equipe feminina, que estendeu o
acordo até Pequim-08.
No documentário de Comaneci,
o trabalho do ucraniano também
é louvado. "O segredo [da ginástica] é treinar muito. Quando Bela
[Karoly, treinador da equipe romena de 1976] desenvolveu o esporte nos EUA, ele fez as atletas
treinarem mais, não apenas três
horas por dia, mas seis horas, às
vezes sete vezes por semana. Essas
três horas a mais fazem a diferença", completa a ex-campeã.
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