São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


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Ditadura do saque já leva um terço dos sets para o tie-break
E o tênis virou faroeste


Na virada do milênio, eficiência no serviço se torna vital, transforma perfil dos jogadores e traz equilíbrio às partidas


da Reportagem Local

Porrada e equilíbrio. Essas são as palavras que podem definir a cara do tênis no próximo milênio.
Levantamento publicado pela revista espanhola ""Tênis a Fondo" mostra um aumento constante no número de partidas em que pelo menos um set é decidido no tie-break nos últimos cinco anos. Em 1995, apenas 18% dos jogos tiveram um tie-break. Neste ano, até a semana passada, 31% das partidas apresentaram uma série decidida no desempate.
A diferença é ainda mais gritante se comparado com os números de 1980, quando apenas 9% dos jogos tiveram um tie-break.
""O circuito está cada vez mais equilibrado, cada vez mais está difícil quebrar o serviço de alguém. Todos sacam muito bem", afirmou o tenista Fernando Meligeni.
""Sem um saque potente, é muito difícil um tenista se meter no grupo dos 30 melhores do ano", completou o tenista brasileiro.
Atualmente, segundo estatísticas da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), o saque mais rápido da história do esporte foi registrado em 1998, no Masters Series de Indian Wells. O britânico Greg Rusedski deu um saque que alcançou os 239,7 km/h.
""O tênis está cada vez mais parelho. O material das raquetes, por exemplo, evoluiu muito, deixando o jogo mais rápido e equilibrado. Em quadras rápidas, por exemplo, o tênis masculino ficou muito monótono. Nas lentas ainda é interessante", afirmou Thomas Koch, um dos maiores tenistas brasileiros da história.
O tie-break foi criado na década de 70 com o objetivo de diminuir o tempo das partidas e adequar o esporte à TV. Antes, vencia um set o tenista que conseguia uma diferença de dois games, com o mínimo de cinco games conquistados. ""Ninguém tem saco para ficar cinco horas assistindo um jogo de tênis, as pessoas têm mais o que fazer", completou Koch.
""Não é possível ter um evento esportivo durando mais de duas horas. Não iria ter público ou patrocinador para bancar esse tempo de TV", acrescentou o ex-tenista Carlos Alberto Kirmayr.
Com o aumento da força, as partidas -principalmente em quadras rápidas- tornaram-se mais rápidas, com a maioria dos pontos sendo decididos sem longas trocas de bolas.
""O futebol de 20 anos atrás era mais técnico do que o de hoje. Isso acontece também com o tênis. Temos que nos adaptar a nova realidade. Hoje o jogador precisa ter muita rapidez para se dar bem", disse o ex-tenista Luiz Mattar, vencedor de sete títulos. ""Quando me tornei profissional, em 85, um jogador da minha estatura (1,85 m) estava acima da média. Quando parei, em 96, já estava abaixo", completou.
Segundo Mattar, o brasileiro Gustavo Kuerten é o protótipo do jogador moderno. É alto (1,93 m), se mexe bem em relação à sua altura e tem bons golpes", disse.

Profissionalismo
Segundo Fernando Meligeni, o equilíbrio no circuito é consequência da seriedade com que os atletas estão encarando o esporte. No ano passado, quando terminou a temporada como o 27º melhor tenista do mundo, o brasileiro faturou US$ 317 mil.
""Cada vez mais é normal ver um tenista viajando com treinador e preparador físico. Antes isso era um luxo", disse o tenista, que é acompanhado por Ricardo Acioly, seu treinador pessoal, na totalidade dos torneios. ""Todos estão mais profissionais, comem bolinha todo o dia. Um tempo a mais que você fica na quadra faz diferença. O pessoal é mais sério, dorme mais cedo, come melhor", completou o tenista.
""A maioria dos jogadores está bem assessorada, principalmente no lado tático do jogo. São pequenos detalhes e pontos importantes ganhos ou perdidos nessa hora que decidem a partida. Mas é aí que a preparação mental faz a grande diferença. Quem lida melhor com a pressão", disse Acioly, que também é o capitão da equipe brasileira da Copa Davis.


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