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FUTEBOL
Clássicos e paranóia
JOSÉ GERALDO COUTO
Finalmente um fim-de-semana
de clássicos importantes pelo
Campeonato Paulista. Santos x
Lusa, hoje, é uma espécie de aperitivo para o confronto de amanhã
entre os arqui-rivais Corinthians
e Palmeiras.
Do ponto de vista estritamente
prático, o jogo de hoje talvez seja
mais decisivo. Afinal, a disputa no
grupo 7 é mais aguerrida, com
três equipes -Santos, São Paulo e
Lusa- disputando palmo a palmo as duas vagas. O Guarani,
"azarão" do grupo, também não
pode ser descartado antecipadamente.
Além disso, Santos e Lusa vêm
ambos embalados pela classificação à próxima fase da Copa do
Brasil, conquistada no meio da semana. Especialmente a Lusa, que
realizou a façanha de golear o
Grêmio no Olímpico.
A competição no outro grupo do
Paulista é, aparentemente, mais
tranquila: com suas vitórias na
primeira rodada desta fase, Palmeiras e Corinthians já se sentem
quase classificados para a semifinal. Claro que as aparências são
enganosas, e os outros dois times
do grupo -sobretudo a perigosa
Ponte Preta- ainda podem melar a festa dos grandes.
Mas há outro fator de esvaziamento do clássico de amanhã.
Tanto corintianos como palmeirenses entrarão em campo com a
cabeça na Libertadores da América, na qual têm confrontos cruciais na semana que vem: o Corinthians contra o Rosario, o Palmeiras contra o Peñarol.
Mas todas essas considerações
são vãs quando se trata de Palmeiras x Corinthians. Mesmo que
os jogadores de um e outro time
digam que estão mais preocupados com a Libertadores, é provável que, ao entrar em campo sob o
fragor das duas torcidas, tudo
mude de figura para eles.
A experiência tem demonstrado
que esse nunca é um clássico desmotivado. É um dos grandes
acontecimentos do futebol, em
âmbito nacional.
Como diz o treinador interpretado por Lima Duarte a uma sirigaita (Marisa Orth) que seduz um
craque palmeirense na véspera do
clássico, no filme "Boleiros": "A
senhora não sabe o que significa
um Palmeiras e Corinthians". A
gente sabe.
Uma das broncas mais frequentes que os leitores dão em nós, jornalistas, refere-se a uma suposta
parcialidade da imprensa esportiva em favor dos clubes "grandes"
em detrimento dos "pequenos".
Nem sempre essas queixas procedem. Muitas vezes confunde-se o
destaque dado aos clubes grandes
com uma preferência por eles.
Mas esse destaque se justifica
por razões jornalísticas: são os times que têm maior torcida, mais
títulos e, quase sempre, ocupam as
primeiras colocações.
Mas, e se essa situação padrão
-os grandes por cima, os pequenos por baixo- for, ela mesma,
produto de uma parcialidade dos
juízes, da Justiça Desportiva e da
própria mídia?
Num e-mail ao mesmo tempo
irado e lúcido, o leitor Guilherme
Scalzilli enumera argumentos em
favor dessa tese, que, de outro modo, assumiria ares de delírio persecutório.
Limitando-se à última rodada
do Paulistão, ele lembra um gol
em impedimento do Palmeiras
contra o Rio Branco e chama a
atenção para as faltas violentas
cometidas pelos corintianos contra a Ponte Preta -jogo em que a
imprensa (eu inclusive) só teve
olhos para a truculência dos campineiros contra os "artistas" alvinegros.
Ainda com relação à Ponte,
Scalzilli contesta o rótulo de "time
mais violento" pespegado à macaca. As estatísticas que justificam
tal estigma são, segundo ele, viciadas, por limitar-se às faltas assinaladas pelos juízes, e não às cometidas de fato. Como os juízes
são parciais, os números também
o seriam.
Seria fácil descartar como manifestação de paranóia as denúncias do leitor. Mas há muito de
verdade nelas. Ainda que não tenhamos a intenção de ser tendenciosos, há um fator inercial que
sempre leva os jornalistas esportivos a ver o mundo do futebol do
ponto de vista dos "grandes". O
mesmo pode acontecer com juízes,
mesmo que eles não recebam nenhum suborno.
Fica, em todo caso, o alerta. Não
custa nada abrir os olhos e ver
com olhos livres.
E-mail jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve aos sábados e
segundas
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