São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


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FUTEBOL
Clássicos e paranóia

JOSÉ GERALDO COUTO

Finalmente um fim-de-semana de clássicos importantes pelo Campeonato Paulista. Santos x Lusa, hoje, é uma espécie de aperitivo para o confronto de amanhã entre os arqui-rivais Corinthians e Palmeiras.
Do ponto de vista estritamente prático, o jogo de hoje talvez seja mais decisivo. Afinal, a disputa no grupo 7 é mais aguerrida, com três equipes -Santos, São Paulo e Lusa- disputando palmo a palmo as duas vagas. O Guarani, "azarão" do grupo, também não pode ser descartado antecipadamente.
Além disso, Santos e Lusa vêm ambos embalados pela classificação à próxima fase da Copa do Brasil, conquistada no meio da semana. Especialmente a Lusa, que realizou a façanha de golear o Grêmio no Olímpico.
A competição no outro grupo do Paulista é, aparentemente, mais tranquila: com suas vitórias na primeira rodada desta fase, Palmeiras e Corinthians já se sentem quase classificados para a semifinal. Claro que as aparências são enganosas, e os outros dois times do grupo -sobretudo a perigosa Ponte Preta- ainda podem melar a festa dos grandes.
Mas há outro fator de esvaziamento do clássico de amanhã. Tanto corintianos como palmeirenses entrarão em campo com a cabeça na Libertadores da América, na qual têm confrontos cruciais na semana que vem: o Corinthians contra o Rosario, o Palmeiras contra o Peñarol.
Mas todas essas considerações são vãs quando se trata de Palmeiras x Corinthians. Mesmo que os jogadores de um e outro time digam que estão mais preocupados com a Libertadores, é provável que, ao entrar em campo sob o fragor das duas torcidas, tudo mude de figura para eles.
A experiência tem demonstrado que esse nunca é um clássico desmotivado. É um dos grandes acontecimentos do futebol, em âmbito nacional.
Como diz o treinador interpretado por Lima Duarte a uma sirigaita (Marisa Orth) que seduz um craque palmeirense na véspera do clássico, no filme "Boleiros": "A senhora não sabe o que significa um Palmeiras e Corinthians". A gente sabe.
Uma das broncas mais frequentes que os leitores dão em nós, jornalistas, refere-se a uma suposta parcialidade da imprensa esportiva em favor dos clubes "grandes" em detrimento dos "pequenos". Nem sempre essas queixas procedem. Muitas vezes confunde-se o destaque dado aos clubes grandes com uma preferência por eles.
Mas esse destaque se justifica por razões jornalísticas: são os times que têm maior torcida, mais títulos e, quase sempre, ocupam as primeiras colocações.
Mas, e se essa situação padrão -os grandes por cima, os pequenos por baixo- for, ela mesma, produto de uma parcialidade dos juízes, da Justiça Desportiva e da própria mídia?
Num e-mail ao mesmo tempo irado e lúcido, o leitor Guilherme Scalzilli enumera argumentos em favor dessa tese, que, de outro modo, assumiria ares de delírio persecutório.
Limitando-se à última rodada do Paulistão, ele lembra um gol em impedimento do Palmeiras contra o Rio Branco e chama a atenção para as faltas violentas cometidas pelos corintianos contra a Ponte Preta -jogo em que a imprensa (eu inclusive) só teve olhos para a truculência dos campineiros contra os "artistas" alvinegros.
Ainda com relação à Ponte, Scalzilli contesta o rótulo de "time mais violento" pespegado à macaca. As estatísticas que justificam tal estigma são, segundo ele, viciadas, por limitar-se às faltas assinaladas pelos juízes, e não às cometidas de fato. Como os juízes são parciais, os números também o seriam.
Seria fácil descartar como manifestação de paranóia as denúncias do leitor. Mas há muito de verdade nelas. Ainda que não tenhamos a intenção de ser tendenciosos, há um fator inercial que sempre leva os jornalistas esportivos a ver o mundo do futebol do ponto de vista dos "grandes". O mesmo pode acontecer com juízes, mesmo que eles não recebam nenhum suborno.
Fica, em todo caso, o alerta. Não custa nada abrir os olhos e ver com olhos livres.

E-mail jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve aos sábados e segundas

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