São Paulo, sábado, 06 de maio de 2000


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Os "fora-da-lei"


Reprimida em Estados dos EUA, que chegam a prender atletas ou a apreender equipamentos, a prática do pouco difundido base jump é feita quase sem restrições no Brasil


JOÃO CARLOS BOTELHO
da Reportagem Local

A vida de um base jumper não é fácil. Como se não bastasse praticar um esporte de alto grau de dificuldade e de risco, o atleta da modalidade ainda precisa, às vezes, burlar esquemas de segurança para executar um salto.
Em alguns Estados norte-americanos, o base jump é reprimido pela polícia local, que chega a prender atletas após saltarem ou a apreender os equipamentos.
Um caso recente de salto escondido foi registrado no Brasil, em dezembro do ano passado, quando o austríaco Felix Baurngartner pulou de um dos braços do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, sem o conhecimento da administração do monumento.
Segundo o atleta Luiz Henrique dos Santos, o Sabiá, no país, porém, quase não existem restrições ao base jump, uma modalidade em que o praticante salta de pára-quedas de prédios, pontes, montanhas e monumentos.
Adepto do esporte desde 1994, Sabiá conta que nunca teve problemas com a polícia, apesar de já ter feito saltos escondidos nos EUA, de uma montanha, e no Brasil, de um prédio.
O atleta afirma que o comum no país é não haver restrições. Ele diz que até já contou com a ajuda da polícia, para o isolamento de áreas, por exemplo.
""Num salto que fiz de uma antena de TV, em São Paulo, eles (os policiais) ajudaram", completa.
""Os EUA são o único país que recrimina", afirma. O Estado que tem a fiscalização mais rígida, segundo Sabiá, é a Califórnia.
Um caso do qual se lembra é o de dois amigos norte-americanos que tiveram equipamentos confiscados após saltarem, mas que depois conseguiram reavê-los.
Outra particularidade do base jump é o pequeno número de praticantes, por causa da dificuldade e do risco envolvidos.
De acordo com Sabiá, são cerca de 550 adeptos no mundo. No Brasil, ele calcula que apenas dez pessoas já fizeram saltos da modalidade. ""Acho que sou o único que vivo disso aqui", afirma. Suas fontes de renda são quatro patrocínios e os cachês para participar de exibições.
No ano passado, por exemplo, um dos principais nomes do base jump, o norte-americano Frank Gambalie, morreu num acidente enquanto praticava o esporte.
Em 1998, aconteceu o mesmo com o outro atleta de ponta, Bob Neely, também dos EUA.
""Costumo falar que, no base jump, um segundo vira um minuto, e um minuto é eterno", diz Sabiá, tentando resumir os riscos envolvidos.
Segundo ele, os acidentes podem ocorrer, como em qualquer outra modalidade, mas ""a maioria acontece com gente que não sabe bem o que está fazendo".
O base jumper avalia que as duas mortes contribuíram para afastar pessoas que estivessem propensas a iniciar a prática do esporte. Não acha, no entanto, que tenha levado atletas a abandonarem o que fazem.
Sobre a altura mínima para os saltos, Sabiá diz que não há um limite, mas que o lugar mais baixo de onde alguém já pulou tinha 30 m de altura.
A preferência dele é por lugares com pelo menos 100 m de altura. ""Gosto da queda livre", justifica.
Ele ressalta que essa opção não busca também ações menos arriscadas. ""Às vezes, um salto de um ponto mais alto é mais perigoso do que um outro de um lugar mais baixo", explica. ""O que conta são as condições envolvidas", completa.
Quando começou a praticar o base jump, Sabiá já tinha cerca de 2.400 saltos como pará-quedista. ""É preciso ter muito controle do equipamento e do lado psicológico", avalia.
O salto mais recente dele foi de um bondinho por cabos suspensos, 68 m acima do solo, na última segunda-feira, em Paulo Afonso, na Bahia.
Dois dias depois, o atleta já estava com viagem marcada para os EUA, para retomar os treinos no skysurfe -ele é cameraman da modalidade-, visando a participação na edição deste ano dos X-Games, a ""Olimpíada dos esportes radicais".
No base jump, Sabiá conhece apenas um campeonato, que acontece uma vez por ano, nos EUA, e do qual nunca participou. ""Não considero como um esporte de competição", diz.
Os critérios avaliados nessa prova norte-americana são a forma como o pára-quedas é aberto e a precisão do pouso.


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