São Paulo, domingo, 06 de maio de 2001

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Andre Agassi, 31, coleciona sonhos e conquistas amorosas e esportivas
De modelo a reclamão

De garoto-propaganda do tênis, norte-americano tornou-se rico, famoso e um dos principais críticos do sistema
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Quando era apenas uma criança, isso mais ou menos nos anos 70, o norte-americano Andre Agassi tinha uma vida semelhante à de milhões de crianças pelo mundo todo. Tinha, ao seu lado, um pai exigente, que queria e fazia de tudo para vê-lo no futuro como um atleta de sucesso.
Depois, pré-adolescente, começo dos anos 80, mantinha rotinas como a de milhões de pessoas pelos EUA. Ia à escola e, nas conversas entre amigos, também revelava o desejo de passar pelo menos uma noite e até se casar, se possível, com a atriz Brooke Shields, a mais sexy para seu grupo de colegas em Las Vegas.
Adolescente, ali por volta do fim dos anos 80, mantinha-se como outros tantos pelo planeta, tentando virar tenista profissional e implorando por uma vaga em torneios do circuito mundial.
Adulto, então, mostrava, na década de 90, como poderia ser um sujeito comum.
Ele detestava esperar pelos outros, festejava um dinheirinho extra na conta bancária a cada mês, odiava os olhares de terceiros lançados a sua namorada, queria ver as coisas feitas do seu jeito, irritava-se com as fofocas sobre sua vida privada...
Andre Agassi poderia ter tido, assim, uma vida muito comum e só não a teve porque concretizou todos os seus sonhos, um por um, nestes 31 anos, completados no último dia 29.
O sonho do pai, uma medalha olímpica, foi realizado aos 26 anos. Ao colocar no peito o ouro do torneio masculino de tênis da Olimpíada de Atlanta-1996, Andre fez sair lágrimas dos olhos de Manuel Aghasi, boxeador iraniano fracassado nos Jogos de Londres-1948 e Helsinque-1952.
Manuel, nascido na Armênia, morou no Irã, emigrou para os EUA em 1952 e adotou então o nome Mike, mas somente sentiu o sucesso de seu filho quando este venceu o espanhol Sergi Bruguera em três sets na final da Olimpíada de Atlanta.
Antes, nem mesmo títulos de Wimbledon, dos Abertos dos EUA e da Austrália haviam comovido tanto Mike.
Já os sonhos dos amigos adolescentes, Agassi começou a realizá-los um pouco antes, em 1993. Foi quando, aos 23 anos, conseguiu um "sim" de Brooke Shields para jantar em um restaurante italiano de Los Angeles.
A partir daí, engatou um romance que teve centenas de beijos em público, presentes caríssimos, de um lado e de outro, um pedido de casamento durante uma viagem-relâmpago ao Havaí e, a maior fantasia de seus amigos, o "sim" de Brooke Shields também para o casamento.
Quando decidiu pelo divórcio com a atriz, pouco antes de chegar aos 29 anos, adulto, Agassi alcançou o sonho de todo tenista profissional: abocanhou Roland Garros e completou o Golden Slam.
O Grand Slam é o circuito que reúne os quatro maiores torneios de tênis do mundo.
Agassi levantara o troféu cobiçado em Wimbledon-1992, no Aberto dos EUA-1994, no Aberto da Austrália-1995. Completou o circuito, então, quando venceu Roland Garros-1999.
Foi ovacionado, afinal chegava também ao Golden Slam, que acrescentava ao Grand Slam uma medalha de ouro olímpica, aquela de Atlanta-1996, que tanto deixou feliz Mike Agassi. Não bastasse, arrebatou mais títulos, trófeus e prêmios no Aberto dos EUA, em 1999, e no Aberto da Austrália, em 2000 e neste ano.
Agora, aos 31 anos, tenista consagrado e o mais falado no mundo, Agassi parou de realizar os sonhos dos outros para viver aquilo que ele mesmo definiu certa vez à Folha como "a sua vida".
"Não podemos ser reféns, do tênis, dos problemas, do dinheiro, da mídia. Temos de agir da maneira como nós mesmos acreditamos, lutar por aquilo que queremos", declarou, há alguns meses, à Folha.
Agassi, hoje, admite não querer mais saber dos outros, apenas de si próprio, de sua namorada e de sua família.
Por isso, Agassi acabou transformando, nos últimos anos, para os dirigentes do tênis, o garoto do sistema no crítico do sistema. Para os patrocinadores, deixou de ser garoto-propaganda e jovem simpático e passou a ser chato e arrogante. Para a mídia, de solícito virou arredio e mal-educado.
No mundo do tênis, Agassi deixou de ser um dos maiores incentivadores do circuito mundial para disparar críticas pelos bastidores. Se antes, jovem e não tão famoso, voava mundo afora para entrar em uma quadra, hoje, rico, trintão e famoso, não esconde que o calendário deveria ser menor, com menos jogos, para "não cansar os melhores tenistas".
Entre os patrocinadores, Agassi, tenista nos anos 80 então cabeludo, rebelde e carismático a ponto de estrelar uma campanha publicitária com o slogan "Imagem é tudo", hoje não suporta mais passar algumas poucas horas tirando fotos ou gravando comerciais.
E, se antes, como quando conquistou seu primeiro título do circuito, em Itaparica, no Brasil, não hesitava em dar entrevistas, autógrafos, falar com a imprensa e até posar para fotos com jornalistas, hoje é capaz de elevar a voz diante de algum repórter se não gostar da pergunta, de ignorar pedidos de autógrafos como se não visse os fãs e de insistir ao motorista que mantenha os vidros fechados para evitar os torcedores.
À vista do grande público, que está distante de tudo isso, porém, Agassi é o mesmo de todos estes anos. Continua aquele sujeito comum, da infância, da adolescência, coroado apenas pelos seus troféus, amorosos e esportivos.
Mantém em público a mesma imagem simpática que aprendeu com a mãe, burilou com marqueteiros e consolidou com as suas conquistas.
Continua abaixando-se, com reverência, ao ser apresentado à platéia. Continua, depois dos jogos, enviando beijos para os quatro lados da quadra, com a raquete ainda à mão.
E, principalmente, continua também vencendo jogos, levantando troféus e despontando nos rankings -hoje é lider da Corrida dos Campeões.
A seu empresário, amigo e vizinho de infância, Perry Rogers, um daqueles que também queriam se casar com Brooke Shields, Agassi já disse que é a imagem que planeja deixar na história. Ainda que, após esses 31 anos, ele não esteja mais ligando para a imagem.



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