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Andre Agassi, 31, coleciona sonhos e conquistas amorosas e esportivas
De modelo a reclamão
De garoto-propaganda do tênis, norte-americano tornou-se rico, famoso e um dos principais críticos do sistema
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Quando era apenas uma criança, isso mais ou menos nos anos
70, o norte-americano Andre
Agassi tinha uma vida semelhante
à de milhões de crianças pelo
mundo todo. Tinha, ao seu lado,
um pai exigente, que queria e fazia de tudo para vê-lo no futuro
como um atleta de sucesso.
Depois, pré-adolescente, começo dos anos 80, mantinha rotinas
como a de milhões de pessoas pelos EUA. Ia à escola e, nas conversas entre amigos, também revelava o desejo de passar pelo menos
uma noite e até se casar, se possível, com a atriz Brooke Shields, a
mais sexy para seu grupo de colegas em Las Vegas.
Adolescente, ali por volta do fim
dos anos 80, mantinha-se como
outros tantos pelo planeta, tentando virar tenista profissional e
implorando por uma vaga em
torneios do circuito mundial.
Adulto, então, mostrava, na década de 90, como poderia ser um
sujeito comum.
Ele detestava esperar pelos outros, festejava um dinheirinho extra na conta bancária a cada mês,
odiava os olhares de terceiros lançados a sua namorada, queria ver
as coisas feitas do seu jeito, irritava-se com as fofocas sobre sua vida privada...
Andre Agassi poderia ter tido,
assim, uma vida muito comum e
só não a teve porque concretizou
todos os seus sonhos, um por um,
nestes 31 anos, completados no
último dia 29.
O sonho do pai, uma medalha
olímpica, foi realizado aos 26
anos. Ao colocar no peito o ouro
do torneio masculino de tênis da
Olimpíada de Atlanta-1996, Andre fez sair lágrimas dos olhos de
Manuel Aghasi, boxeador iraniano fracassado nos Jogos de Londres-1948 e Helsinque-1952.
Manuel, nascido na Armênia,
morou no Irã, emigrou para os
EUA em 1952 e adotou então o
nome Mike, mas somente sentiu
o sucesso de seu filho quando este
venceu o espanhol Sergi Bruguera
em três sets na final da Olimpíada
de Atlanta.
Antes, nem mesmo títulos de
Wimbledon, dos Abertos dos
EUA e da Austrália haviam comovido tanto Mike.
Já os sonhos dos amigos adolescentes, Agassi começou a realizá-los um pouco antes, em 1993. Foi
quando, aos 23 anos, conseguiu
um "sim" de Brooke Shields para
jantar em um restaurante italiano
de Los Angeles.
A partir daí, engatou um romance que teve centenas de beijos
em público, presentes caríssimos,
de um lado e de outro, um pedido
de casamento durante uma viagem-relâmpago ao Havaí e, a
maior fantasia de seus amigos, o
"sim" de Brooke Shields também
para o casamento.
Quando decidiu pelo divórcio
com a atriz, pouco antes de chegar
aos 29 anos, adulto, Agassi alcançou o sonho de todo tenista profissional: abocanhou Roland Garros e completou o Golden Slam.
O Grand Slam é o circuito que
reúne os quatro maiores torneios
de tênis do mundo.
Agassi levantara o troféu cobiçado em Wimbledon-1992, no
Aberto dos EUA-1994, no Aberto
da Austrália-1995. Completou o
circuito, então, quando venceu
Roland Garros-1999.
Foi ovacionado, afinal chegava
também ao Golden Slam, que
acrescentava ao Grand Slam uma
medalha de ouro olímpica, aquela
de Atlanta-1996, que tanto deixou
feliz Mike Agassi. Não bastasse,
arrebatou mais títulos, trófeus e
prêmios no Aberto dos EUA, em
1999, e no Aberto da Austrália, em
2000 e neste ano.
Agora, aos 31 anos, tenista consagrado e o mais falado no mundo, Agassi parou de realizar os sonhos dos outros para viver aquilo
que ele mesmo definiu certa vez à
Folha como "a sua vida".
"Não podemos ser reféns, do tênis, dos problemas, do dinheiro,
da mídia. Temos de agir da maneira como nós mesmos acreditamos, lutar por aquilo que queremos", declarou, há alguns meses,
à Folha.
Agassi, hoje, admite não querer
mais saber dos outros, apenas de
si próprio, de sua namorada e de
sua família.
Por isso, Agassi acabou transformando, nos últimos anos, para
os dirigentes do tênis, o garoto do
sistema no crítico do sistema. Para os patrocinadores, deixou de
ser garoto-propaganda e jovem
simpático e passou a ser chato e
arrogante. Para a mídia, de solícito virou arredio e mal-educado.
No mundo do tênis, Agassi deixou de ser um dos maiores incentivadores do circuito mundial para disparar críticas pelos bastidores. Se antes, jovem e não tão famoso, voava mundo afora para
entrar em uma quadra, hoje, rico,
trintão e famoso, não esconde que
o calendário deveria ser menor,
com menos jogos, para "não cansar os melhores tenistas".
Entre os patrocinadores, Agassi,
tenista nos anos 80 então cabeludo, rebelde e carismático a ponto
de estrelar uma campanha publicitária com o slogan "Imagem é
tudo", hoje não suporta mais passar algumas poucas horas tirando
fotos ou gravando comerciais.
E, se antes, como quando conquistou seu primeiro título do circuito, em Itaparica, no Brasil, não
hesitava em dar entrevistas, autógrafos, falar com a imprensa e até
posar para fotos com jornalistas,
hoje é capaz de elevar a voz diante
de algum repórter se não gostar
da pergunta, de ignorar pedidos
de autógrafos como se não visse
os fãs e de insistir ao motorista
que mantenha os vidros fechados
para evitar os torcedores.
À vista do grande público, que
está distante de tudo isso, porém,
Agassi é o mesmo de todos estes
anos. Continua aquele sujeito comum, da infância, da adolescência, coroado apenas pelos seus
troféus, amorosos e esportivos.
Mantém em público a mesma
imagem simpática que aprendeu
com a mãe, burilou com marqueteiros e consolidou com as suas
conquistas.
Continua abaixando-se, com
reverência, ao ser apresentado à
platéia. Continua, depois dos jogos, enviando beijos para os quatro lados da quadra, com a raquete ainda à mão.
E, principalmente, continua
também vencendo jogos, levantando troféus e despontando nos
rankings -hoje é lider da Corrida dos Campeões.
A seu empresário, amigo e vizinho de infância, Perry Rogers, um
daqueles que também queriam se
casar com Brooke Shields, Agassi
já disse que é a imagem que planeja deixar na história. Ainda que,
após esses 31 anos, ele não esteja
mais ligando para a imagem.
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