São Paulo, sexta, 6 de junho de 1997.



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JUCA KFOURI
Suspeição total

Escrevo antes da final paulista. Tomara que o húngaro Sándor Puhl tenha ido bem.
Mas pergunto: é legítimo supor que quem apitou a final de uma Copa é suspeito de participar de armações?
E respondo: mais que legítimo, é obrigatório que se desconfie, pois são os que chegam ao topo os que mais concessões fizeram.
Há exceções, suponho, dado o meu incorrigível otimismo.
Só que, por exemplo, o brasileiro Romualdo Arpi Filho, que apitou a final da Copa de 1986, foi afastado anos depois do quadro da FPF acusado de ser de esquemas.
Que garantia significou o húngaro se ele apitou a final de uma Copa que, sabe-se agora por meio da revista "Placar", teve as eliminatórias também manipuladas, num arranjo entre as cúpulas da CBF, a Casa Bandida do Futebol, e a AFA, a Associação Argentina do Futebol?
Dos oito jogos brasileiros nas eliminatórias, três foram apitados por argentinos (Losteau, 0 a 0, contra o Equador; Bava, 1 a 1, contra o Uruguai; e Lamolina, Brasil 4 a 0 Venezuela) e contra o Equador houve pelo menos um pênalti claro de Márcio Santos em Aguinaga não marcado.
Verdade que só uma vez um brasileiro apitou jogo argentino nas eliminatórias, contra a Colômbia, na qual José Aparecido de Oliveira não quis, segundo contou à "Placar", favorecer a Argentina.
Pode-se desconfiar que, como aquele foi apenas o terceiro jogo dos argentinos e os brasileiros falharam, a AFA foi buscar outra solução.
Mas não resta dúvida que a Copa de 1994, já marcada por uma tabela claramente favorável ao Brasil no sentido de evitar que a seleção encontrasse algum papão antes da final, está sob suspeição.
'E o que é que não está?', você pode perguntar, razão pela qual, antes de responder, abri a coluna desejando que o húngaro tenha ido bem.
Agora, a resposta: o trabalho dos repórteres Paulo Vinícius Coelho e Sérgio Ruiz Luz não permite apenas suspeitar de que a armação partiu de quem andou ultimamente se dizendo "traído" por Ivens Mendes, o presidente da CBF Ricardo Teixeira.
A reportagem é simplesmente taxativa a esse respeito: "Não cumprimos o acordo firmado entre os presidentes Ricardo Teixeira e Julio Grondona, da AFA, e ficamos para sempre fora dos jogos internacionais", afirmou o bandeirinha Daniel Fernandes.
Será que a Fifa de João Havelange abrirá inquérito?



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