São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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O grito da periferia

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A BUSAN

A primeira rodada da Copa, encerrada ontem, colocou de cabeça para baixo o mapa da bola. Aquilo que poderia ser chamado de periferia, como nunca antes, levou a melhor sobre o primeiro mundo do futebol. Em dez duelos entre países europeus e sul-americanos, os únicos que já foram campeões mundiais, contra o resto, a vitória ficou quatro vezes com, pelo menos na teoria, o lado mais fraco.
O torneio começou com uma zebra, a vitória do Senegal sobre a França por 1 a 0, e encerrou a primeira rodada com outra, o triunfo dos EUA diante de Portugal, ontem, por 3 a 2. Foram três empates e três triunfos de nações das regiões que dominam o futebol.
Na Copa de 1998, que teve configuração geográfica idêntica à atual, a periferia não conseguiu, nem contabilizando toda a competição, o número de vitórias obtidas agora só em uma rodada.
Na França, as 12 seleções da África, Ásia e Américas do Norte e Central somaram três vitórias, sendo que duas foram da Nigéria.
Comparando só a rodada inicial, o "massacre" de agora é mais evidente. Também em dez jogos de abertura contra sul-americanos e europeus, a periferia perdeu sete vezes, empatou duas e ganhou apenas uma em 1998.
A primeira Copa na Ásia viveu nos seus 16 duelos iniciais situações inéditas, raras e inusitadas.
Quem poderia imaginar que, ao final da primeira rodada, a única confederação com 100% de aproveitamento de suas seleções seria a Concacaf, que reúne as equipes da América do Norte e Central?
Além da vitória dos EUA, a região triunfou com o México e a Costa Rica. Mas as façanhas da periferia foram mais longe.
Contra a Polônia, a Coréia do Sul venceu um jogo de Copa pela primeira vez. Em partida emocionante, o Japão empatou com a Bélgica e conquistou seu primeiro ponto na história do torneio.
Com um gol no final, a África do Sul empatou com o Paraguai e também conheceu seu primeiro ponto contra um rival sul-americano. Logo na primeira vez que disputa uma Copa, Senegal venceu os atuais campeões mundiais.
"Atualmente, qualquer um pode ganhar de todo mundo", diz Hierro, capitão da Espanha.
Os números do Datafolha atestam que a surpreendente rodada inicial não foi só fruto da sorte.
Os nanicos tiveram atuação que colocaram essas equipes no alto do pódio de vários rankings. Senegal foi a melhor equipe nos desarmes nos 16 jogos disputados pela primeira rodada. A Costa Rica, rival do Brasil no dia 13, teve o melhor passe. A África do Sul foi a terceira que mais driblou.
Resta agora à periferia mostrar que o ocorrido irá se repetir nos próximos dias. Se isso acontecer, a Copa terá as oitavas-de-final mais surpreendentes da história.
Após o fim da rodada inaugural, cinco nanicos estão na zona de classificação. Outros três, se a fase já estivesse encerrada, disputariam a vaga no sorteio.


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