|
Próximo Texto | Índice
O grito da periferia
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A BUSAN
A primeira rodada da Copa, encerrada ontem, colocou de cabeça
para baixo o mapa da bola. Aquilo
que poderia ser chamado de periferia, como nunca antes, levou a
melhor sobre o primeiro mundo
do futebol. Em dez duelos entre
países europeus e sul-americanos,
os únicos que já foram campeões
mundiais, contra o resto, a vitória
ficou quatro vezes com, pelo menos na teoria, o lado mais fraco.
O torneio começou com uma
zebra, a vitória do Senegal sobre a
França por 1 a 0, e encerrou a primeira rodada com outra, o triunfo dos EUA diante de Portugal,
ontem, por 3 a 2. Foram três empates e três triunfos de nações das
regiões que dominam o futebol.
Na Copa de 1998, que teve configuração geográfica idêntica à
atual, a periferia não conseguiu,
nem contabilizando toda a competição, o número de vitórias obtidas agora só em uma rodada.
Na França, as 12 seleções da
África, Ásia e Américas do Norte e
Central somaram três vitórias,
sendo que duas foram da Nigéria.
Comparando só a rodada inicial, o "massacre" de agora é mais
evidente. Também em dez jogos
de abertura contra sul-americanos e europeus, a periferia perdeu
sete vezes, empatou duas e ganhou apenas uma em 1998.
A primeira Copa na Ásia viveu
nos seus 16 duelos iniciais situações inéditas, raras e inusitadas.
Quem poderia imaginar que, ao
final da primeira rodada, a única
confederação com 100% de aproveitamento de suas seleções seria
a Concacaf, que reúne as equipes
da América do Norte e Central?
Além da vitória dos EUA, a região triunfou com o México e a
Costa Rica. Mas as façanhas da
periferia foram mais longe.
Contra a Polônia, a Coréia do
Sul venceu um jogo de Copa pela
primeira vez. Em partida emocionante, o Japão empatou com a
Bélgica e conquistou seu primeiro
ponto na história do torneio.
Com um gol no final, a África do
Sul empatou com o Paraguai e
também conheceu seu primeiro
ponto contra um rival sul-americano. Logo na primeira vez que
disputa uma Copa, Senegal venceu os atuais campeões mundiais.
"Atualmente, qualquer um pode ganhar de todo mundo", diz
Hierro, capitão da Espanha.
Os números do Datafolha atestam que a surpreendente rodada
inicial não foi só fruto da sorte.
Os nanicos tiveram atuação que
colocaram essas equipes no alto
do pódio de vários rankings. Senegal foi a melhor equipe nos desarmes nos 16 jogos disputados
pela primeira rodada. A Costa Rica, rival do Brasil no dia 13, teve o
melhor passe. A África do Sul foi a
terceira que mais driblou.
Resta agora à periferia mostrar
que o ocorrido irá se repetir nos
próximos dias. Se isso acontecer,
a Copa terá as oitavas-de-final
mais surpreendentes da história.
Após o fim da rodada inaugural,
cinco nanicos estão na zona de
classificação. Outros três, se a fase
já estivesse encerrada, disputariam a vaga no sorteio.
Próximo Texto: Testemunhas de defesa Índice
|