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Testemunhas de defesa
O país dos atacantes habilidosos e consagrados
volta de vez seus olhos para seus zagueiros.
Tema de infindáveis críticas desde que o técnico Luiz Felipe Scolari assumiu a seleção brasileira e
optou pelo esquema 3-5-2, os defensores estão mais
uma vez em xeque após a estréia na Copa do Mundo
contra a Turquia. O setor mais alvejado da equipe brasileira já deve ser mudado para a partida contra a China. Alvo das mais duras broncas do "Roscão", como
era conhecido o treinador em seus tempos de beque no
interior do Rio Grande do Sul, os zagueiros resolveram
contra-atacar. Dizem que a responsabilidade pelos erros tem que ser dividida com o resto do time e que podem não seguir à risca a determinação do treinador,
que pediu mais chutões e menos preciosismo.
FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A ULSAN
Manhã ensolarada em Ulsan,
Luiz Felipe Scolari pára o treino e
reúne os jogadores. Os zagueiros,
os atletas que receberam as mais
veementes críticas após a partida
contra os turcos, se entreolham.
Aos berros, o técnico que pedira
a utilização de chutões pelos defensores, faz um gesto obsceno:
bate a mão direita aberta sobre a
esquerda, fechada. Diz, em termos chulos, que, se o setor repetir
os erros da estréia, o Brasil pode
fracassar diante da China.
Na entrevista do início da tarde,
o zagueiro Edmilson estava irritado. Pior do setor contra os turcos,
o jogador do Lyon (França) deve
ganhar a camisa verde -dos reservas- no coletivo de hoje. Ele
corre risco de perder a posição de
titular para Anderson Polga.
Outra possibilidade é Scolari
manter os zagueiros e alterar o
meio-campo, com Vampeta ocupando a vaga de Juninho.
Questionado sobre o novo modo de agir pedido por Scolari, Edmilson disparou a falar.
"Tivemos falhas no começo do
jogo na saída de bola. Fomos crescendo e ajudamos a conquistar a
vitória. A cobrança da imprensa e
do torcedor é muita. Reconheço
que errei alguns lances no começo, mas foi para não jogar feio.
Não queria dar chutões. Minha
característica é sair jogando. Foi
assim que sempre joguei. Foi assim que cheguei à seleção. Além
disso, acho que é pouco tempo
[para mudar o estilo". As características de um jogador não mudam tão rápido", disse Edmilson.
Roque Júnior, homem de confiança de Scolari, foi menos enfático. Disse, porém, que não achou
que a defesa foi tão mal. "Se o time
vai bem ou mal, a responsabilidade é de todos", disse o zagueiro.
O fato é que, ao contrário do que
acontece com os badalados jogadores de ataque, os zagueiros da
seleção, mesmo bem-sucedidos
no exterior, não escapam das críticas. E essa situação tem incomodado os atletas do setor.
"Somos bem conceituados na
Europa. Foi o Edmilson chegar ao
Lyon, ao lado de outros brasileiros, para o time ser campeão francês pela primeira vez. O Lúcio é
um monstro na Alemanha. É adorado pelos torcedores do Bayer
Leverkusen", disse Roque Júnior.
Scolari, por outro lado, não pensa assim. Reservadamente, criticou os defensores. Mostrou a eles
o videoteipe do jogo e pediu cuidado nas jogadas dentro da área
-achou que ficou barato para o
Brasil o fato de o juiz sul-coreano
Kim Young-joo não ter marcado
pênalti para os turcos.
Para além da vontade de ajudar
o Brasil a conquistar o pentacampeonato, os zagueiros colocaram
para si o desafio de obter reconhecimento da imprensa, da torcida e
do ex-zagueiro "Roscão". Querem ser tratados do mesmo jeito
que na Europa. Como craques.
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