São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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Testemunhas de defesa

O país dos atacantes habilidosos e consagrados volta de vez seus olhos para seus zagueiros. Tema de infindáveis críticas desde que o técnico Luiz Felipe Scolari assumiu a seleção brasileira e optou pelo esquema 3-5-2, os defensores estão mais uma vez em xeque após a estréia na Copa do Mundo contra a Turquia. O setor mais alvejado da equipe brasileira já deve ser mudado para a partida contra a China. Alvo das mais duras broncas do "Roscão", como era conhecido o treinador em seus tempos de beque no interior do Rio Grande do Sul, os zagueiros resolveram contra-atacar. Dizem que a responsabilidade pelos erros tem que ser dividida com o resto do time e que podem não seguir à risca a determinação do treinador, que pediu mais chutões e menos preciosismo.

FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A ULSAN

Manhã ensolarada em Ulsan, Luiz Felipe Scolari pára o treino e reúne os jogadores. Os zagueiros, os atletas que receberam as mais veementes críticas após a partida contra os turcos, se entreolham.
Aos berros, o técnico que pedira a utilização de chutões pelos defensores, faz um gesto obsceno: bate a mão direita aberta sobre a esquerda, fechada. Diz, em termos chulos, que, se o setor repetir os erros da estréia, o Brasil pode fracassar diante da China.
Na entrevista do início da tarde, o zagueiro Edmilson estava irritado. Pior do setor contra os turcos, o jogador do Lyon (França) deve ganhar a camisa verde -dos reservas- no coletivo de hoje. Ele corre risco de perder a posição de titular para Anderson Polga.
Outra possibilidade é Scolari manter os zagueiros e alterar o meio-campo, com Vampeta ocupando a vaga de Juninho.
Questionado sobre o novo modo de agir pedido por Scolari, Edmilson disparou a falar.
"Tivemos falhas no começo do jogo na saída de bola. Fomos crescendo e ajudamos a conquistar a vitória. A cobrança da imprensa e do torcedor é muita. Reconheço que errei alguns lances no começo, mas foi para não jogar feio. Não queria dar chutões. Minha característica é sair jogando. Foi assim que sempre joguei. Foi assim que cheguei à seleção. Além disso, acho que é pouco tempo [para mudar o estilo". As características de um jogador não mudam tão rápido", disse Edmilson.
Roque Júnior, homem de confiança de Scolari, foi menos enfático. Disse, porém, que não achou que a defesa foi tão mal. "Se o time vai bem ou mal, a responsabilidade é de todos", disse o zagueiro.
O fato é que, ao contrário do que acontece com os badalados jogadores de ataque, os zagueiros da seleção, mesmo bem-sucedidos no exterior, não escapam das críticas. E essa situação tem incomodado os atletas do setor.
"Somos bem conceituados na Europa. Foi o Edmilson chegar ao Lyon, ao lado de outros brasileiros, para o time ser campeão francês pela primeira vez. O Lúcio é um monstro na Alemanha. É adorado pelos torcedores do Bayer Leverkusen", disse Roque Júnior.
Scolari, por outro lado, não pensa assim. Reservadamente, criticou os defensores. Mostrou a eles o videoteipe do jogo e pediu cuidado nas jogadas dentro da área -achou que ficou barato para o Brasil o fato de o juiz sul-coreano Kim Young-joo não ter marcado pênalti para os turcos.
Para além da vontade de ajudar o Brasil a conquistar o pentacampeonato, os zagueiros colocaram para si o desafio de obter reconhecimento da imprensa, da torcida e do ex-zagueiro "Roscão". Querem ser tratados do mesmo jeito que na Europa. Como craques.



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