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São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2003

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Para atender à nova legislação, clubes terceirizam comercialização de bilhetes, mas violam itens que exigem postos de vendas espalhados e preços iguais

Ingresso antecipado custa mais caro e burla estatuto

MARÍLIA RUIZ
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem know-how e infra-estrutura para cumprir os artigos do capítulo "ingressos" do Estatuto do Torcedor, os clubes cederam os direitos sobre a venda antecipada dos bilhetes dos seus jogos. Mas continuam à margem da lei.
Uma parceria firmada com a empresa Ingresso Fácil, do Grupo BWA -presidido por Bruno Balsimelli, dono das catracas de quase todos os estádios do país-, encareceu os bilhetes e já fez pelo menos dois clubes descumprirem o Estatuto do Torcedor. É o caso de Corinthians e São Paulo.
A nova lei, recém-sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevê punições (destituição do cargo) a dirigentes esportivos que a infringirem.
Os ingressos estão sendo vendidos com uma taxa extra de R$ 3 em três bancas de jornal da região da avenida Paulista, além de outra em São Caetano do Sul.
Diz o estatuto em seu artigo 20, parágrafo quinto, que é direito do torcedor que os ingressos sejam comercializados em pelo menos cinco postos de vendas localizados em distritos diferentes da cidade. Também prevê a lei que o valor dos tíquetes de um mesmo setor do estádio não poderá ser diferente (artigo 24).
Assim, com as bancas localizadas na mesma região, os clubes desrespeitam o estatuto: são postos em apenas dois distritos no caso do São Paulo (Morumbi e Paulista); e três, no do Corinthians (Pacaembu, Paulista e Tatuapé).
Além disso, a taxa cobrada pela compra nas bancas faz com que ingressos de um mesmo setor sejam vendidos a preços diferentes, o que também é irregular. Nas bilheterias dos estádios e dos clubes, os bilhetes são mais baratos porque não há cobrança dessa taxa.
A reportagem da Folha comprou ontem dois ingressos para São Paulo x Bahia na banca Trianon II (avenida Paulista, 1.499).
Por cada bilhete de arquibancada superior azul do estádio do Morumbi foram pagos R$ 18, R$ 3 (20%) mais caro do que o valor divulgado pelo São Paulo em comunicado oficial distribuído à imprensa e publicado em seu site. Em cada bilhete comprado na banca, o preço está discriminado da seguinte forma: "Ingresso R$ 15 + Taxa R$ 3 = Total R$ 18".
Não há especificação sobre o porquê da cobrança do acréscimo. Fernando Silva, diretor-executivo da Ingresso Fácil, disse que firmou convênio com os clubes, que terceirizaram o serviço de venda pulverizada, e que a taxa cobrada nas bancas serve para pagar o "conforto do torcedor e os serviços prestados pela empresa".
"A taxa cobrada nas bancas não passa de duas tarifas de condução. O valor tem que cobrir infra-estrutura, seguro e custo do posto de venda", explicou Silva.
"Nossa idéia é extinguir a venda de bilheteria de estádio. Desta vez não se chegou aos cinco distritos porque os clubes, as federações e os donos dos estádios precisam aceitar os postos que selecionamos. Nesta semana a burocracia barrou o processo. A partir da semana que vem vamos vender ingressos em uma rede de lojas de esporte, e a determinação do estatuto estará cumprida", concluiu o diretor da Ingresso Fácil. Ele participou, no ano passado, do grupo de trabalho do Ministério do Esporte que deu origem ao estatuto.
A relação dos clubes com a Ingresso Fácil é anterior à publicação do estatuto. Antes, a empresa cuidava só da venda antecipada pela internet. Em alguns casos, como o do Corinthians na Libertadores, ela vendia tíquetes também para jogos especiais na rede de lojas que patrocina o clube.
Com a lei em vigor, os contratos foram reformulados e passaram a conter a cláusula de terceirização do serviço de postos de vendas. Fora desse sistema, segundo a Ingresso Fácil, estão apenas Vasco, Atlético-PR e Figueirense.


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