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Para atender à nova legislação, clubes terceirizam comercialização de bilhetes, mas violam itens que exigem postos de vendas espalhados e preços iguais
Ingresso antecipado custa mais caro e burla estatuto
MARÍLIA RUIZ
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem know-how e infra-estrutura para cumprir os artigos do capítulo "ingressos" do Estatuto do
Torcedor, os clubes cederam os
direitos sobre a venda antecipada
dos bilhetes dos seus jogos. Mas
continuam à margem da lei.
Uma parceria firmada com a
empresa Ingresso Fácil, do Grupo
BWA -presidido por Bruno Balsimelli, dono das catracas de quase todos os estádios do país-, encareceu os bilhetes e já fez pelo
menos dois clubes descumprirem
o Estatuto do Torcedor. É o caso
de Corinthians e São Paulo.
A nova lei, recém-sancionada
pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, prevê punições (destituição do cargo) a dirigentes esportivos que a infringirem.
Os ingressos estão sendo vendidos com uma taxa extra de R$ 3
em três bancas de jornal da região
da avenida Paulista, além de outra
em São Caetano do Sul.
Diz o estatuto em seu artigo 20,
parágrafo quinto, que é direito do
torcedor que os ingressos sejam
comercializados em pelo menos
cinco postos de vendas localizados em distritos diferentes da cidade. Também prevê a lei que o
valor dos tíquetes de um mesmo
setor do estádio não poderá ser
diferente (artigo 24).
Assim, com as bancas localizadas na mesma região, os clubes
desrespeitam o estatuto: são postos em apenas dois distritos no caso do São Paulo (Morumbi e Paulista); e três, no do Corinthians
(Pacaembu, Paulista e Tatuapé).
Além disso, a taxa cobrada pela
compra nas bancas faz com que
ingressos de um mesmo setor sejam vendidos a preços diferentes,
o que também é irregular. Nas bilheterias dos estádios e dos clubes,
os bilhetes são mais baratos porque não há cobrança dessa taxa.
A reportagem da Folha comprou ontem dois ingressos para
São Paulo x Bahia na banca Trianon II (avenida Paulista, 1.499).
Por cada bilhete de arquibancada superior azul do estádio do
Morumbi foram pagos R$ 18, R$ 3
(20%) mais caro do que o valor
divulgado pelo São Paulo em comunicado oficial distribuído à
imprensa e publicado em seu site.
Em cada bilhete comprado na
banca, o preço está discriminado
da seguinte forma: "Ingresso R$
15 + Taxa R$ 3 = Total R$ 18".
Não há especificação sobre o
porquê da cobrança do acréscimo. Fernando Silva, diretor-executivo da Ingresso Fácil, disse que
firmou convênio com os clubes,
que terceirizaram o serviço de
venda pulverizada, e que a taxa
cobrada nas bancas serve para pagar o "conforto do torcedor e os
serviços prestados pela empresa".
"A taxa cobrada nas bancas não
passa de duas tarifas de condução.
O valor tem que cobrir infra-estrutura, seguro e custo do posto
de venda", explicou Silva.
"Nossa idéia é extinguir a venda
de bilheteria de estádio. Desta vez
não se chegou aos cinco distritos
porque os clubes, as federações e
os donos dos estádios precisam
aceitar os postos que selecionamos. Nesta semana a burocracia
barrou o processo. A partir da semana que vem vamos vender ingressos em uma rede de lojas de
esporte, e a determinação do estatuto estará cumprida", concluiu o
diretor da Ingresso Fácil. Ele participou, no ano passado, do grupo
de trabalho do Ministério do Esporte que deu origem ao estatuto.
A relação dos clubes com a Ingresso Fácil é anterior à publicação do estatuto. Antes, a empresa
cuidava só da venda antecipada
pela internet. Em alguns casos,
como o do Corinthians na Libertadores, ela vendia tíquetes também para jogos especiais na rede
de lojas que patrocina o clube.
Com a lei em vigor, os contratos
foram reformulados e passaram a
conter a cláusula de terceirização
do serviço de postos de vendas.
Fora desse sistema, segundo a Ingresso Fácil, estão apenas Vasco,
Atlético-PR e Figueirense.
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