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ALBERTO HELENA JR.
Pegar no breu
Até que ontem a seleção se mexeu um pouquinho mais do
que o habitual.
Fez treinos táticos de manhã e
um ataque contra defesa à tarde,
depois de um rachão interessante, regido por uma regra especial:
cada jogador só podia tocar na
bola com o pé trocado. Isto é: os
canhotos, com a direita; os destros, com a esquerda.
Mas nada que valesse a pena
destacar aqui. Muito menos o rol
de entrevistas inócuas que se desenrolam sob o maior tumulto às
grades que separam nosso time
da imprensa. A propósito, não sei
se já o disse aqui; nesse caso, repito: nunca vi nada parecido.
O esquema armado para impedir que repórteres e personalidades públicas tenham, ao menos,
um instante de reservada conversa é mais eficiente e "clean" do
que todo o aparato bélico, por
exemplo, que cercou nossa seleção na Alemanha, em 74.
Talvez seja por isso que boatos
como o do desligamento a pedido
de Edmundo, que varreu a madrugada de ontem, surjam assim,
de repente. É a ânsia de que algo
de extraordinário aconteça, já
que o time, em campo, só nos tem
produzido desânimo.
E é aqui que quero chegar. Pelo
que revelou nos treinamentos (?)
e nos jogos-treinos, fez-se uma
unanimidade: esse time de tantas
estrelas cintilantes, se for o caso,
só vai pegar no breu quando a
bola rolar de verdade durante a
Copa do Mundo. E mesmo essa
possibilidade nasce da expectativa de que craques, sobretudo como Ronaldinho, dêem o tom.
Aí fico observando Ronaldinho.
É evidente que está na ponta dos
cascos, fisicamente. Em todos os
treinamentos, movimenta-se como poucos e executa, aqui e ali,
jogadas de técnica apuradíssima.
Ainda naquela farra de bode
contra Andorra, o Marco Antônio Rodrigues, da Globo, me perguntava se eu, mais velho, havia
visto um centroavante com tantas vantagens: alto, forte, veloz,
habilidoso e decisivo.
Resposta: Coutinho, ainda menino, quando chegou ao Santos
de Pelé.
Mas o diabo é que Ronaldinho
há mais de semana não consegue
meter a bola lá dentro. Chegou
dezenas de vezes na cara do goleiro adversário, e a bola teimou
em tomar todos os rumos, menos
o das redes.
Haja fé.
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