São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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ALBERTO HELENA JR.

Pegar no breu

Até que ontem a seleção se mexeu um pouquinho mais do que o habitual.
Fez treinos táticos de manhã e um ataque contra defesa à tarde, depois de um rachão interessante, regido por uma regra especial: cada jogador só podia tocar na bola com o pé trocado. Isto é: os canhotos, com a direita; os destros, com a esquerda.
Mas nada que valesse a pena destacar aqui. Muito menos o rol de entrevistas inócuas que se desenrolam sob o maior tumulto às grades que separam nosso time da imprensa. A propósito, não sei se já o disse aqui; nesse caso, repito: nunca vi nada parecido.
O esquema armado para impedir que repórteres e personalidades públicas tenham, ao menos, um instante de reservada conversa é mais eficiente e "clean" do que todo o aparato bélico, por exemplo, que cercou nossa seleção na Alemanha, em 74.
Talvez seja por isso que boatos como o do desligamento a pedido de Edmundo, que varreu a madrugada de ontem, surjam assim, de repente. É a ânsia de que algo de extraordinário aconteça, já que o time, em campo, só nos tem produzido desânimo.
E é aqui que quero chegar. Pelo que revelou nos treinamentos (?) e nos jogos-treinos, fez-se uma unanimidade: esse time de tantas estrelas cintilantes, se for o caso, só vai pegar no breu quando a bola rolar de verdade durante a Copa do Mundo. E mesmo essa possibilidade nasce da expectativa de que craques, sobretudo como Ronaldinho, dêem o tom.
Aí fico observando Ronaldinho. É evidente que está na ponta dos cascos, fisicamente. Em todos os treinamentos, movimenta-se como poucos e executa, aqui e ali, jogadas de técnica apuradíssima. Ainda naquela farra de bode contra Andorra, o Marco Antônio Rodrigues, da Globo, me perguntava se eu, mais velho, havia visto um centroavante com tantas vantagens: alto, forte, veloz, habilidoso e decisivo.
Resposta: Coutinho, ainda menino, quando chegou ao Santos de Pelé.
Mas o diabo é que Ronaldinho há mais de semana não consegue meter a bola lá dentro. Chegou dezenas de vezes na cara do goleiro adversário, e a bola teimou em tomar todos os rumos, menos o das redes.
Haja fé.



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