São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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Em caso de indisciplina, técnico afirma que pode trabalhar só com 21 atletas
Zagallo ameaça rebelde

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
MARCELO DAMATO
ALEXANDRE GIMENEZ
MÁRIO MAGALHÃES
Ozoir-la-Ferrière

O técnico da seleção brasileira, Mario Zagallo, e o coordenador técnico Zico fizeram, separadamente, ameaças ao jogador Edmundo, de forma velada.
Ontem, depois do treino da manhã, o atacante disse, por telefone a uma emissora de rádio do Rio de Janeiro, que considera estar "reunindo condições físicas e técnicas bem melhores" do que as do titular da posição, Bebeto, já escalado para atuar na estréia do Brasil na Copa, na quarta-feira, contra a Escócia. "Quero jogar. Isso só depende do Zagallo."
Apesar de afirmar que Edmundo tinha o direito de expressão, Zagallo anunciou ontem que vai expulsar da delegação brasileira qualquer jogador que cometer um ato de desordem.
"Se algum jogador cometer um ato grave de indisciplina, vocês podem ter certeza de que vão ficar apenas 21 jogadores na seleção. Não tenho receio nenhum de ficar com um jogador a menos. Estou falando isso para pôr um ponto final nessa discussão."
Ao mesmo tempo, Zico, distante de Zagallo, dava uma entrevista no mesmo tom: "Não vou tolerar tumulto no elenco."
Mas os dois negaram ter dado importância à declaração de Edmundo na entrevista.
"Ele apenas mostrou a opinião dele. Eu tenho a minha, que é a que prevalece. E minha opinião é que o Bebeto está em melhores condições." O técnico disse até que aprova a atitude do reserva. "Ele mostrou que tem vontade de jogar. É isso que eu espero de todos os jogadores. Ele só está falando isso porque está aqui", afirmou, argumentando que a convocação do jogador se deve ao treinador.
Mas, depois, Zagallo deixou claro por que Edmundo não é seu titular. "O Bebeto é um jogador tranquilo, com experiência de Copa." A referência é clara. Edmundo é conhecido pelo temperamento explosivo e por ter sido expulso em todos os clubes brasileiros pelos quais passou: Vasco, Flamengo, Corinthians e Palmeiras.
A entrevista de Edmundo minou em parte o esforço da comissão técnica em mostrar que o desentendimento entre Edmundo e Leonardo estava superado.
No domingo, logo após o amistoso contra o Athletic, em Bilbao, Edmundo reclamou com os colegas que eles não lhe passavam a bola e em seguida discutiu rispidamente com o meia Leonardo.
O episódio só foi tornado público anteontem. Nessa noite, houve uma reunião da comissão técnica para pôr um ponto final no caso, que acirrou o clima negativo na seleção brasileira, criado com a derrota para Argentina, no final de abril, e que se transformou em crise com o corte de Romário.
Ontem de manhã, o clima foi descontraído. Edmundo brincou e esteve sempre com seus supostos desafetos: Bebeto, Leonardo e Júnior Baiano.

Tensão
De tarde, o clima era diferente. Bebeto, o mais atingido pela entrevista do colega, tentou mostrar que não se importou com o episódio, mas depois não se controlou.
Aos primeiros jornalistas que o entrevistaram, disse que não se importava, que só pensava nos treinos e no grupo. "Eu sempre venci pelo trabalho. Nunca dependi da mídia." Mas, aos últimos, o tom era bem diferente: "Eu não estava na reserva? Ele tem que ter tranquilidade e paciência."
De fato, ao se apresentar no Brasil, Bebeto, ainda reserva, disse que tinha muita esperança de jogar. Citou como exemplo a Copa de 94, quando os zagueiros Aldair e Márcio Santos entraram no time com as contusões de Ricardo Gomes e Ricardo Rocha. Agora, Bebeto ascendeu da mesma maneira, com o corte de Romário.



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