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JANIO DE FREITAS
As inseguranças selecionadas
Se houve o murro, cá entre nós,
foi bem aplicado. Esse Leonardo não é só agressor contumaz, é agressor covarde.
E, comparada com a agressão
estúpida que Leonardo cometeu
em campo na Copa de 94, do possível murro de Edmundo nem ao
menos direi que aconteceu em
hora imprópria.
Mesmo porque, ouso dizer, para
um bom soco, como o sempre merecido por um agressor covarde,
todas as horas são próprias.
Ainda por outro motivo o murro ou, vá lá, o entrevero não veio
em hora imprópria.
Nas condições em que, obviamente, está a delegação, todas as
horas se tornaram propícias para
incidentes, queixas ásperas e
exaltações várias.
Não é preciso estar almoçando
com os jogadores para saber que
a insegurança é a sensação dominante entre eles.
A simples proximidade de qualquer competição é inquietante.
Para dar uma idéia dos efeitos
dessa situação, os batimentos
cardíacos de um piloto de Fórmula 1, nos momentos que antecedem a largada, elevam-se aos níveis constatados nos astronautas
já instalados para o lançamento.
Condição talvez mais assemelhada à dos times que vão disputar a Copa, a simples chegada dos
pilotos na área do circuito, nos
dias que precedem o início dos
treinos para a corrida, já os tira
do ritmo cardíaco habitual.
Essas e outras pesquisas, feitas
na Fórmula 1 por iniciativa do
tricampeão Jack Stewart, quando
ainda piloto, deveriam ocorrer
em todos os esportes e nas situações neles vividas.
O caso atual da seleção brasileira vai além dos efeitos previsíveis
com a simples proximidade dos
jogos.
A dose adicional vem da insegurança provocada por Zagallo.
E pela qual não só os jogadores
são alcançados, mas, em outra
proporção, também cada um dos
que há tempos notam um Zagallo
sempre tergiversante na escolha
de jogadores, incapaz de montar
um programa consistente de preparação, ainda agora perplexo
na tarefa de definir um time e o
respectivo esquema de jogo.
Todo jogador, não importa de
que esporte seja, sabe que qualquer um pode virar bode expiatório quando uma seleção não se
encontra.
Isso aconteceu até a Zizinho, o
maior de todos os tempos ao meu
alcance, mas, injustiça terrível
com a posteridade, anterior à era
do videoteipe e do marketing.
Por aqueles e por outros modos,
a instabilidade de Zagallo, estampada até no próprio rosto -
ora duro e agressivamente arrogante, ora vago ou indefeso -
projeta-se como força desestruturadora sobre todos os que se sabem dependentes de um comando seguro de si, definido, preparado para tudo o que lhe cabe.
Imagem assim quem a exibe é
Zico. Talvez porque sua tarefa a
facilite.
Tarefa, por sinal, que até agora
ninguém sabe direito qual seja.
Mas que parece, desde o primeiro momento, imaginada exatamente para criar alguma solidez
no terreno que Zagallo e seu inseparável Lídio Toledo forraram
com areia movediça.
Tal solidez, porém, Zico ainda
não conseguiu estendê-la da sua
pessoa ao conjunto.
Ou porque, à falta de experiência e do que mais falte, sua solidez só dá para o gasto pessoal, ou
porque as circunstâncias mais lhe
sugerem poupar-se de desgastes
já inúteis.
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